A 6ª edição do CURA – Circuito Urbano de Arte teve início junto com a primavera e segue em movimento. Desde então, a Praça Raul Soares tornou-se o mais novo museu a céu aberto da capital mineira e, como algo vivo que é, se multiplica. Em 2022, a “coleção Raulzona” segue crescendo. De 14 a 25 de fevereiro, obras inéditas de Mag Magrela, artista selecionada pela convocatória Beck’s em 2021, e o cinquentenário Grupo Giramundo se somam à galeria do CURA, para serem apreciadas de forma democrática e gratuita.
“Em 2021, o CURA concebeu um festival-ritual para irradiar a partir da praça, um novo ambiente de imersão em arte pública. Foi lindo ver o encanto acontecer desde o momento em que convidamos geral para ver o que sempre esteve entre nós: uma Raulzona de cultura marajoara viva em grafismos e em espírito presente, praça cheia de história e vivências, com sua fonte central com contornos da Chakana peruana, de conexões transamazônicas, encontro de povos e culturas latino-americanas” fala Priscila Amoni, idealizadora do festival ao lado de Janaína Macruz e Juliana Flores.
O Giramundo, um dos grupos mais antigos de teatro de bonecos do Brasil, apresenta sua instalação “Gira De Novo” no dia 14 de fevereiro (segunda-feira), idealizada pelo grupo Giramundo em parceria com o CURA, e inspirada no cosmograma bakongo. Pensada para ocupar a praça, traz os ciclos do universo, os movimentos do sol e as fases da vida humana como símbolo de recomeço. Duas obras de propostas, histórias e linguagens diferentes, mas que criam diálogos entre si e nos inspiram a continuar e a resistir sempre. A instalação fica na praça até o dia 25 de fevereiro (sexta-feira).
A partir de 17 de fevereiro (quinta-feira), a multiartista Mag Magrela (ela é desenhista, grafiteira, pintora, escultora, cantora…) e uma das referências nacionais na cena contemporânea de arte urbana traz suas formas femininas singulares e já tão reconhecidas no graffiti para falar sobre passado, resiliência, sobre passar por tempos difíceis, sobre cura.
“2021 foi cheio de desafios para a realização do CURA. As entregas ganharam outros significados diante dos impasses vividos pela cultura no país, especialmente com a atuação em âmbito federal no sentido de enfraquecer (por vezes, boicotar) o setor cultural, atrasando processos, autorizações, homologações, liberações de recursos, etc., desidratando a cadeia produtiva da cultura. Sentimos ainda mais orgulho e alegria por tudo que foi apresentado e compartilhado até agora” explica Juliana Flores. “Nossa cidade é nossa galeria de arte pública e nos lembra de que, quando a gente se apropria do espaço urbano, constrói também um sentido de pertencimento, faz dele nosso também, é capaz de transformá-lo”, completa.
2022 é o ano da cura, do recomeço, dos reencontros, da retomada da cultura.
Sobre o CURA 6ª edição
Todo ano o CURA se permite escutar, aprender, propor, se transformar. Nesta edição, ele se apresenta expandido — na sua duração, nos modos de conviver na cidade, de experimentar encontros na rua.
Uma decisão que se reflete já na escolha por uma curadoria que se aprofunda em um Brasil que não é somente urbano e sudestino. Naine Terena de Jesus, pesquisadora, mestre em arte e mulher indígena do povo Terena, e Flaviana Lasan, artista visual e educadora, com pesquisa sobre a presença da mulher na história da arte, somam seus olhares e vivências com as das idealizadoras Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni para conceber um festival-ritual, que abre os ouvidos e desperta os sentidos para os saberes, as tecnologias e os modos de fazer artístico dos povos tradicionais.
– BH recebeu, pela primeira vez, Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo-Conibo, um dos povos originários do Peru, etnia que vive na amazônia peruana. Por 3 dias e de forma ininterrupta, a pintura-ritual shipibo deu vida a uma Anaconda na Avenida Amazonas, obra monumental com quase 3mil m², a maior obra shipibo do mundo! Houve muita gente envolvida (quase 30 pessoas só na pintura), além de semanas de estudo e consultorias que cuidassem de cada detalhe e contemplassem, por exemplo, a aplicação de uma tinta viária antiderrapante especial, evitando acidentes, especialmente em dias de pista molhada. Um trabalho extremamente cuidadoso para nascer algo tão grandioso e que imprime no chão de BH um pouco do território, cantos, costumes, língua e conhecimentos de cura de um povo. Que honra, BH!
– A fonte da praça ganhou temporariamente contornos de luz e cor, traçados pelo olhar da genial Marina Arthuzzi. A Raul Soares, território LGBTQIA+ , também viu de volta, sob nova luz e olhares, entidades da comunidade queer belo-horizontina projetadas nas paredes do Edifício JK durante o Vrááááá Na Raulzona, ação criada em parceria com o Coletivo Viva JK (@vivajk), cineastas e pesquisadores mineiros. O grito de “A gente sempre esteve aqui!” ganhou ainda mais força e doses de coragem.
– A Raul Soares compartilhou ainda um grande ritual coletivo de CURA e encantaria, guiado por Tainá Marajoara em construção com Mayo Pataxó, Patricia Brito e Silvia Herval: ao mesmo tempo, experiência artística e também processos espirituais e medicinais simbólicos. Uma vivência emocionante, com cozimento de alimentos sagrados, canto para a Jussara sagrada e seu plantio, pintura com jenipapo de grafismos marajoara e velas acesas com intenções de cura emanadas num Dia de Finados. Praça cheia, emoções à flor da pele.
– Ao redor da praça ganharam vida as obras dos artistas Ed-Mun e do Coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin (@mahkumovimento) Kassia Hare Karaja Hunikuin (@kassiaborgess), TxanaBanê (@cleibepinheiro) e Itamar Rios (@riositamar), empenas que imprimiram sons, cores e formas no horizonte da cidade e são como entidades que nos olham, com práticas e saberes que conectam futuro e ancestralidade.
Do Alto Rio Jordão, no Acre, os artistas Huni Kuin trouxeram consigo a força da floresta, sua luta pelo direito ao território e seus encantamentos medicinais. Mirar o Ed. Levy nos coloca agora diante de um encontro com diferentes animais, cada qual representando uma força, e BH encontra também uma guia energética em pleno centro.
No Edifício Paula Ferreira, tags falam sobre pertencimento e identidade e marcam o território pelas mãos de quem se inscreve na cidade de outras formas. É a obra do Ed-Mun (@edmunpdf) em graffiti 3D, com letras que atravessam a história e a tradição e também as empenas. O CURA pode enfim dizer, com o maior orgulho, que tem em sua galeria a primeira empena deste artista gigante de BH.
Sobre o Cura
O Circuito Urbano de Arte realizou sua quinta edição em 2020, completando 18 obras de arte em fachadas e empenas, sendo 14 na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha, formando, assim, a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro.
Idealizado por Janaina Macruz, Juliana Flores e Prisicila Amoni, o CURA também presenteou BH com o primeiro e, até então único, Mirante de Arte Urbana do mundo na Rua Sapucaí.
Serviço
CURA – Circuito Urbano de Arte, 6ª edição – 2ª etapa
Data: 14 a 25 de fevereiro
Local: Praça Raul Soares
https://www.instagram.com/cura.art
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