“Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’. Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento.” Levítico 13,45-46
O texto bíblico, do Antigo Testamento, pode ser visto como uma premonição da política de segregação dos hansenianos, que seria adotada no Brasil a partir dos anos de 1920. Nessa época, começo do século XX, a então lepra ainda era incurável, e sua forma de transmissão, desconhecida. Os 40 anos do fim oficial da política de isolamento de doentes, completados neste mês de maio, não foram suficientes, porém, para romper o preconceito.
Número de casos de hanseníase em 2014: |
– Brasil: 31.064 – 1º lugar de incidência da doença, considerando 200 milhões de habitantes 1° lugar – Maranhão: 3.632 2° lugar – Pará: 3.432 9° lugar – Minas Gerais: 1.215 – Índia: 125.785 – lidera em números absolutos – Mundo: 213.899 – reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) por 102 países ou territóriosFonte: Ministério da Saúde |
A hanseníase também se mostrou mais forte que sua própria cura e ainda estigmatiza filhos e netos de ex-pacientes. Intimamente associada à pobreza, a doença está estabilizada no Brasil, mas em patamar elevado. O País é o primeiro no mundo em número de novos casos em relação ao tamanho da população.
Toda a história do tratamento da hanseníase em Minas, de alguma forma, passou pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a começar pela Lei 801, de 1921, que autorizou a criação de leprosários no Estado.
Mais recentemente, em 2005, outras duas normas foram aprovadas pelo Parlamento mineiro, a Lei 15.790, que concedeu bolsa mensal aos hansenianos que prestaram serviços nas antigas colônias, e a Lei 15.439, que instituiu a Política Estadual de Educação Preventiva Contra a Hanseníase e de Combate ao Preconceito no Estado.
Discussões importantes, como a da regularização fundiária das colônias, também foram feitas na Casa e serão retomadas nesta legislatura. No âmbito federal, entre outros marcos importantes, está a Portaria do Ministério da Saúde 165, de maio de 1976, que oficializa o fim da internação compulsória.
Nenhuma lei, porém, será suficiente para apagar as marcas de um período em que os chamados leprosos eram literalmente caçados pela polícia sanitária e levados, à força, para a internação, sob o amparo do poder público.
A história desses sobreviventes ainda está viva em antigas colônias, construídas em 33 pontos do Brasil. Em Minas, a partir da década de 1920, foram criadas unidades em Betim e Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Bambuí (Centro-Oeste de Minas), Ubá (Zona da Mata) e Três Corações (Sul de Minas). O Estado já possuía a Colônia Ernani Agrícola, em Sabará.
Na antiga Colônia Santa Izabel, em Betim, hoje denominada casa de saúde e administrada pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), ainda vivem cerca de 300 ex-hansenianos institucionalizados (assistidos pelo Estado), 120 deles na área asilar.
A Fhemig ainda tenta contar os que não tiveram a doença, mas que foram separados de suas famílias e sofreram fome, abandono, violência e abuso sexual. Nessa lista estarão, certamente, os filhos das hansenianas, que eram arrancados das mães logo após o nascimento e levados para os chamados preventórios. Muitos desapareceram, em mais um capítulo dessa política pública que, além de desumana, mostrou-se ineficaz.
Leia ainda na matéria depoimentos de ex-internos das antigas colônias.
GRUPO COM NOTÍCIAS DO POR DENTRO DE MINAS NO WHATSAPP
Gostaria de receber notícias como essa e o melhor do Por Dentro de Minas no conforto por WhatsApp. Entre em grupos de últimas notícias, informações do trânsito da BR-381, BR-040, BR-262, Anel Rodoviário e esportes.
Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.
Acompanhe o Por Dentro de Minas no YouTube
Assista aos melhores vídeos com as últimas notícias de Belo Horizonte e Minas Gerais. Informações em tempo real.