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Opinião: Azar o teu

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As crianças tem muito mais sabedoria do que os adultos. Falo isso por ter presenciado uma das maiores lições de tolerância que alguém pode receber. Ela foi dada por dois pequenos, que tinham entre quatro e cinco anos. Um deles era judeu e o outro católico. A menina católica diz ao menininho judeu que devemos rezar para Jesus nos proteger todas as noites. O rapazinho responde que não pode porque a mãe dele não deixa. Longe de demonstrar surpresa, a menina prontamente responde: azar o teu.

Não é preciso dizer que ambos continuaram a brincar como se nada tivesse ocorrido. Realmente, nada de relevante ocorreu. As crianças percebem isso. Vêem que a crença religiosa do amiguinho não o torna uma pessoa pior ou melhor. É apenas uma característica com a qual ela convive sem qualquer problema.

Infelizmente os adultos não são assim. Estão sempre prontos a crucificar uns aos outros pelas mínimas diferenças. Algumas vezes é a religião. Outras a cor da pele. Em outras, ainda, a opção sexual. Se tiver as três diferenças juntas, então é imolação na certa.

O ser humano por alguma razão tem uma grande dificuldade em respeitar as diferenças. É algo paradoxal porque a natureza humana é tão complexa que impossibilita duas pessoas completamente iguais. Mesmo assim, o diferente incomoda.
Após milhares de anos de existência não conseguimos respeitar a verdade alheia como gostaríamos que a nossa fosse tolerada. Não conseguimos absorver o ideal de Voltaire que dizia que mesmo que não concordasse com uma única palavra do que dizia o seu interlocutor, morreria para defender o direito deste em manifestar a sua opinião.

Essas são reflexões que devemos fazer pois o mundo de hoje exige diversidade. Devemos aprender a tolerar o modo de ser alheio, se quisermos que o nosso também seja tolerado. Para quem quiser ser diferente, vamos dizer apenas “azar o teu” e seguir em frente. Quem não respeita não pode exigir ser respeitado. Os tempos mudam e as pessoas devem se adequar a eles. Se não o fizerem azar o nosso.

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