Pesquisadores alertam que o combate ao desmatamento é fundamental, mas não é suficiente para a conservação das florestas tropicais. O estudo da Rede Amazônia Sustentável, vinculada ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, conclui que o sucesso das políticas públicas depende também do controle de outras ações que ameaçam as matas remanescentes, como a extração de madeira ilegal, as queimadas e a fragmentação de florestas.
Pesquisadores de 18 instituições, sendo 11 brasileiras, mediram o impacto destas ações em 1.538 espécies de árvores, 460 de aves e 156 de besouros encontrados em 36 bacias hidrográficas da Amazônia no estado do Pará. O resultado, que deu origem a artigo publicado na revista Nature, comprova que as consequências do fogo, da extração de madeira e da fragmentação das matas resultam em perda de biodiversidade tão ostensiva quanto à causada pelo desmatamento.
No Pará, as ações humanas resultaram numa perda adicional de mais de 139 mil quilômetros quadrados de floresta intacta, o que corresponde a todo o desmatamento detectado no estado desde 1988, ano em que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) inaugurou o monitoramento oficial.
“O Brasil conseguiu reduzir seu desmatamento em cerca de 80% como resultado de seu Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. Contudo, demonstramos neste estudo que ainda precisamos, urgentemente, de um planejamento governamental orquestrado para quantificar a extensão e os impactos da degradação florestal, se quisermos resguardar nossa biodiversidade, estoques de carbono e serviços ecossistêmicos”, afirmou o pesquisador do Inpe Luiz Aragão, que também assina o artigo publicado na Nature.
“Conseguimos oferecer evidências convincentes de que as iniciativas de conservação amazônica precisam considerar os efeitos combinados das perturbações florestais e o desmatamento. Sem ações urgentes, a expansão da exploração ilegal de madeira e a ocorrência cada vez maior de incêndios causados pelo homem irão resultar em áreas de florestas tropicais cada vez mais degradadas, conservando apenas uma pequena fração da exuberante diversidade que já abrigaram”, acrescentou a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Joice Ferreira.
Espécies raras são as mais ameaçadas
Os cientistas também descobriram que espécies sob o risco máximo de extinção foram as mais atingidas pelas perturbações causadas por atividade humana. “O estado do Pará abriga mais de 10% das espécies de aves do planeta, muitas das quais endêmicas. Nossos estudos demonstram que são justamente estas espécies as que estão sofrendo o maior impacto da ação antrópica, pois elas não sobrevivem em ambientes com estes níveis de perturbação”, disse a coordenadora do INCT Biodiversidade e pesquisadora do Museu Goeldi, Ima Vieira.
Para o líder do estudo, Jos Barlow, os resultados devem servir de alerta para a comunidade global. “O Brasil demonstrou uma liderança sem precedentes no combate ao desmatamento na última década. O mesmo nível de liderança é necessário agora para proteger a saúde das florestas restantes nos trópicos. Do contrário, décadas de esforço de conservação terão sido em vão”.
A Rede Amazônia Sustentável (RAS) é um consórcio de instituições brasileiras e estrangeiras, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade de Lancaster (Reino Unido) e Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia). A RAS faz parte do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, financiado pelo CNPq. O INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia está sediado no Museu Goeldi e tem como propósito gerar informações e abordagens inéditas sobre como intensificar as oportunidades de conservação ambiental da Amazônia Brasileira.
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