O sertão brasileiro serviu de inspiração para muitas obras importantes da literatura nacional, entre elas “Grande Sertão Veredas”, do aclamado escritor Guimarães Rosa. As singularidades naturais e culturais dessa área tão icônica, entretanto, ainda são pouco conhecidas pelo povo mineiro.
O Grande Sertão, também chamado “os Gerais”, essa região mítica que abarca o norte e noroeste de Minas, sudoeste da Bahia e leste de Goiás, era denominado Currais da Bahia nos tempos das capitanias e sua ocupação, lenta e árdua, seu relativo isolamento, sua inacessibilidade, contribuiu para que se mantivesse praticamente virgem desde o processo de povoamento do Brasil iniciado ostensivamente no século XVII até meados do século XX.
Como forma de dar continuidade ao mundo descrito pelo célebre autor, a “Imersão Grande Sertão” surge para reforçar a importância real e simbólica do território. A diversidade de expressões culturais, artísticas, religiosas, os aspectos biológicos presentes na região, as experiências históricas e contemporâneas de permanência e também de contínua mudança fazem parte da rica identidade sociocultural dos Gerais. A iniciativa, portanto, pretende refazer caminhos e promover reflexões acerca da situação atual do “grande” sertão de Minas Gerais no contexto histórico, social e cultural do Brasil.
O evento, que será realizado entre os dias 19 e 24 de junho nos espaços do Sesc Palladium, em Belo Horizonte, contará com uma série de atividades entre palestras, debates e espetáculos musicais a degustação de produtos produzidos por cooperativas sertanejas e a projeções de fotos e vídeos. A iniciativa faz parte do eixo curatorial dedicado à Língua Portuguesa, promovido pela coordenação do Sesc MG. O evento traz figuras ligadas ao universo roseano, incluindo artistas, pesquisadores e moradores do norte mineiro. Entre os convidados estão nomes como o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, a líder comunitária na cidade de Chapada Gaúcha e coordenadora do Instituto Rosa e Sertão, Damiana Campos, o violeiro Paulo Freire, do músico e compositor Makely Ka, a benzedeira Lindaura, conhecida como dona Lili, entre outros.
Do modo de falar às manifestações simbólicas da cultura popular, como as festas, folias, rezas, chegando à culinária, ao artesanato; dos parques e unidades de conservação, incluindo o patrimônio arqueológico, a fauna e flora do Cerrado às suas bacias hidrográficas, precisamos entender a dimensão do sertão, sob risco de não haver perspectivas de futuro, num apelo à preservação ambiental, ao respeito pelo modo de vida de uma determinada região que inspirou o livro mais importante da literatura escrito em língua portuguesa no século 20, além de uma reflexão sobre as diversas formas de lidar com nossas diferenças, com nossas contradições, com essas distâncias que nos afastam e nos fascinam.
:: Atividades ::
A programação será inaugurada com um “café do sertão”. A proposta é apresentar produtos artesanais feitos por cooperativas de produtores agroextrativistas do Cerrado, como a CooPeruaçu e a Coop Sertão. Os coletivos em questão são produtoras de doces, geleias, óleos, licores, aguardentes, sucos, pães, bolos e biscoitos utilizando produtos de agroflorestas e da agricultura familiar, como cajuzinho do cerrado, coquinho azedo, mangaba, araticum, araçá, tamarindo, goiaba, acerola e manga. Será uma maneira de chamar atenção tanto para uma forma de produção sustentável quanto para os sabores, perfumes e texturas ainda desconhecidas pela maiorias dos brasileiros.
O evento também recebe, no primeiro dia, a líder comunitária Damiana Campos, da cidade de Chapada Gaúcha. Damiana é coordenadora do Instituto Rosa e Sertão, que desenvolve vários projetos importantes na região como o Encontro dos Povos do Grande Sertão, a revista Manzuá e o Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. Neste dia também será inaugurada uma exibição de vídeos com imagens do sertão, com curadoria e edição assinadas por Leandro Lopes.
No segundo dia, a convidada será Lindaura Gonçalves, Dona Lili, benzedeira que vive na região de Serra das Araras. O bate-papo, mediado pela bióloga e autora do livro “Ser-tão natureza, a natureza em Guimarães Rosa”, resultado de uma tese de doutorado pela UFMG, vai abordar o conhecimento e a utilização das plantas medicinais e das rezas, no que pode ser considerado o “ofício de cuidar”.
No terceiro dia, “Imersão Grande Sertão” realiza um debate com o tema “Rompendo imaginários: O Grande Sertão hoje”. Os convidados irão discutir iniciativas como o Cine Baru, festival de cinema do sertão, o Caminhos do Sertão, percurso realizado por caminhantes, anualmente, entre Sagarana e Chapada Gaúcha, e outras formas de desenvolvimento do turismo de base comunitária numa região constantemente ameaçada pela prática do agronegócio. Almir Paraka (Caminhos do Sertão/Sagarana – Chapada Gaúcha), Amanda Geraldes (Cine Baru) e Damiana Campos (Instituto Rosa e Sertão) estão confirmados para o debate, mediado pelo jornalista João Paulo Cunha.
No quarto dia, o público poderá apreciar uma aula-espetáculo com o violeiro Paulo Freire. Em 1977, apaixonado pelo romance “Grande Sertão: Veredas”, o músico decidiu mudar-se para a região do rio Urucuia no norte de Minas Gerais, onde aprendeu a tocar viola no convívio com os sertanejos, a natureza, tendo como mestre Manoel de Oliveira e outros violeiros da região.
O quinto dia contará com projeção de fotos comentada pelo músico e compositor Makely Ka. O artista realizou alguns trajetos retratados em “Grande Sertão Veredas”, identificados no mapa geográfico de Minas Gerais. As fotografias, portanto, fazem parte do resultado dessa expedição. No mesmo dia a programação conta com uma palestra do professor, compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, que vai abordar aspectos da obra roseana e sua relação com o território, a partir do conto “O Recado do Morro”.
O show “Cavalo Motor”, do músico Makely Ka, fecha as atividades do evento. A ideia do espetáculo é promover um mergulho às raízes da cultura popular brasileira, trazendo nas canções autorais elementos da tradição oral da região como cocos, cirandas, trava-línguas e emboladas. No palco o artista será acompanhado pelos músicos Gustavo Souza (violão), Rafael Azevedo (guitarra), Paulim Sartori (contrabaixo), Daniel Magalhães (pífanos), Alcione Oliveira (percussão) e Mateus Oliveira (bateria).”
19/06 – Terça-feira
18h – Abertura
Café do sertão: degustação de produtos produzidos por cooperativas sertanejas
Local: foyer Augusto de Lima
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
19h30 – Mesa 1
Convidada: Damiana Campos (Instituto Cultural e Ambiental Rosa e Sertão)
Mediação: Marcela Bertelli
Local: foyer Augusto de Lima
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
20 a 24/06 – quarta a domingo
Vídeo-instalações
Exibição em looping de vídeos-instalações audiovisuais, por Leandro Lopes
Local: Mezanino
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
20/06 – Quarta-feira
19h30 – Mesa 2
Convidada: Dona Lili, benzedeira da região da Serra das Araras
Mediação: Mônica Meyer (UFMG)
Local: foyer Augusto de Lima
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
21/06 – Quinta-feira
19h30 – Mesa 3 – Os caminhos do sertão
Convidados: Almir Paraka (Caminhos do Sertão / Sagarana – Chapada Gaúcha), Amanda Geraldes (CineBaru) e Damiana Campos (Instituto Rosa e Sertão)
Mediação: João Paulo Cunha (Jornalista e escritor)
Local: foyer Augusto de Lima
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
22/06 – Sexta-feira
20h – Aula-espetáculo com Paulo Freire
Local: Teatro de Bolso
Entrada: ingressos a R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
23/06 – Sábado
17h – Projeção de fotos comentadas por Makely Ka
Local: Mezanino
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
20h – Palestra com José Miguel Wisnik
Local: Grande Teatro
Entrada franca (limitado a capacidade do local)
24/06 – Domingo
20h – Show de encerramento Cavalo Motor, com Makely Ka e banda
Local: Teatro de Bolso
Entrada: ingressos a R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
Serviço
Imersão Grande Sertão
Local: Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1046 –| Avenida Augusto de Lima, 420
Datas: 19 a 24 de junho de 2018
Informações: (31)3270-8100
Realização: Sesc MG
Produção: Lira Cultura
Curadoria: Makely Ka, Marcela Bertelli, Leandro Lopes, Sesc MG.
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