Se nos últimos dias o CURA – Circuito Urbano de Arte convidou o público para olhar para cima – as empenas dos artistas Ed-Mum e Kassia Rare Karaja Hunikuin com coletivo Mahku estão quase finalizadas – chegou a hora de olhar pro chão.
A Avenida Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares no centro de BH, recebe a pintura-ritual dos artistas Shipibo Sadith Silvano e Ronin Koshi, da Amazônia Peruana. Uma pintura de 2.870m² , a maior já feita fora do Peru. Marca forte de sua identidade são os kenés (declarados patrimônio cultural do Peru), o bordado mítico de padrões geométricos e labirínticos, inspirado pela cultura Ayahuasqueira. Nas cerimônias xamânicas com o chá sagrado, os guias Shipibo entoam seus ícaros, canções medicinais e curativas, e visualizam em suas mentes as formas e os desenhos que, depois, serão bordados em tecidos, ponto a ponto.
Os artistas Shipibo chegaram a Belo Horizonte trazendo toda a sabedoria ancestral dessa cultura que vai para além da fronteira brasileira. É que o Rio Amazonas também nasce no Peru com o nome de Apurímac, vem correndo e entra pelo Acre, carrega também os Huni Kuin e deságua no norte do país, numa extensão de quilômetros que chega até a Ilha do Marajó.
Pela primeira vez no CURA, uma obra será pintada ininterruptamente, 24h por dia.
Vivência
“O CURA é um festival com multicamadas de atravessamentos e diálogos diversos, e a chegada na Praça Raul Soares nos fez ver a magia da cultura Marajoara tatuada no centro da nossa cidade. Praça que também nos levou a uma mulher incrível que é a Tainá Marajoara, cozinheira, artista, realizadora cultural e pensadora indígena” explica Flaviana Lasan, curadora convidada desta 6ª edição.
Tainá vai guiar/liderar uma vivência com mais três mulheres que trabalham com comida, cura e arte: Mayo Pataxó, Silvia Herval e Patricia Brito. Juntas, vão compartilhar saberes e experimentar o território em um processo que começou 30 de outubro e culmina em um momento no dia 02 de novembro, Dia de Finados. Esta Vivência é uma relação do sensível, uma relação metafísica e cosmológica do que são os sentidos das palavras e os sentidos do corpo. “É um encontro que, ao mesmo tempo, é fruto de um processo artístico e de intenções, encantarias e espiritualidade. A gente tá falando entre corações, um diálogo de arte de afetos que vai ser oferecido em transcendência no centro geométrico de Belo Horizonte”, explica Tainá.
Apesar de estarmos em luto na dimensão terrena, trazer vida à morte é um ato de resistência. O público é bem-vindo para acompanhar esta vivência ao ar livre no dia 2/11, terça-feira, para homenagear todos que se foram.
Programação
21 de outubro a 02 de novembro
Pintura de Empena
Artista Ed-Mun (MG)
Edifício Paula Ferreira – Praça Raul Soares, 265
Pintura de Empena
Artistas Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku – Movimento dos artistas Huni Kuin (AC)
Edifício Levy – Av. Amazonas, 718
29 de outubro a 02 de novembro:
Pintura-ritual – Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares
Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo ( Peru)
30 de outubro a 02 de novembro:
Vivência
guiada por Tainá Marajoara (PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG)
Sobre o CURA21 – 6ª edição
Todo ano o CURA se permite escutar, aprender, propor, se transformar. Em 2021, ele se apresenta expandido — na sua duração, nos modos de conviver na cidade, de experimentar encontros na rua. Um Cura contínuo, sem ponto final.
Uma decisão que se reflete já na escolha por uma curadoria que se aprofunda em um Brasil que não é somente urbano e sudestino. Naine Terena de Jesus, pesquisadora, mestre em arte e mulher indígena do povo Terena, e Flaviana Lasan, artista visual e educadora, com pesquisa sobre a presença da mulher na história da arte, somam seus olhares e vivências com as das idealizadoras Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni para conceber um festival-ritual, que abre os ouvidos e desperta os sentidos para os saberes, as tecnologias e os modos de fazer artístico dos povos tradicionais.
Sobre o CURA
O Circuito Urbano de Arte realizou sua quinta edição em 2020, completando 18 obras de arte em fachadas e empenas, sendo 14 na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha, formando, assim, a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro.
Idealizado por Janaina Macruz, Juliana Flores e Prisicila Amoni, o CURA também presenteou BH com o primeiro e, até então único, Mirante de Arte Urbana do mundo. Todas as pinturas podem ser contempladas da Rua Sapucaí.
Serviço
CURA – Circuito Urbano de Arte, 6ª edição
Início: 21 de outubro de 2021
Local: Praça Raul Soares
https://www.instagram.com/cura.art