O mais tradicional prêmio literário do Brasil homenageará a escritora brasileira Conceição Evaristo como Personalidade Literária da 61ª edição do evento.
Segundo o curador do prêmio, Pedro Almeida, a escolha foi feita com base em seu mérito literário. Gênero, classe e raça são os principais temas tocados pela obra de Conceição e, para a curadoria do prêmio, se enquadram como assuntos de relevância e potência no atual cenário brasileiro. Ela está em “sintonia com os tempos atuais”, afirma o curador.
Em 2018, cerca de 16 milhões de mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência, segundo aponta a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública: Visível e Invisível: A vitimização de mulheres no Brasil.
O número corresponde a 27,4% da população feminina do país. Os casos atingem, sobretudo, as mulheres que se autodeclaram negras (28,4%). A cultura machista e patriarcal fala por meio dos números e está presente também no mercado editorial.
Literatura sem sexismo
A desigualdade de gênero se perpetua em todos os campos, inclusive no literário. É possível enxergar um gargalo no reconhecimento de autoras de livros simplesmente por serem mulheres.
Em 115 anos, o Prêmio Nobel de Literatura nomeou como vencedoras apenas 13 mulheres. A criadora da campanha #ReadWomen2014 (em português, #LeiaMulheres2014), Joana Walsh, apontou que “as escritoras são, na maior parte do tempo, julgadas pela sua aparência em vez de serem julgadas pela qualidade de sua escrita”.
Além disso, há uma falta geral de representatividade. A própria Academia Brasileira de Letras teve sua primeira membra somente após 80 anos de sua fundação. Quando se imagina ou seleciona um autor, via de regra se tem como exemplo uma figura masculina. Dentro das próprias editoras, o tratamento aos trabalhos feitos por mulheres é diferente aos daqueles gerados por homens. Walsh coloca que, muitas vezes, os livros são “publicados com capas e títulos que fazem com que o establishment literário não nos leve a sério”.
De maneira geral, as escritoras lutam para ter suas obras bem publicadas e lidas. Uma pesquisa da Universidade de Brasília mostrou que, entre 1965 e 2014, mais de 70% dos livros publicados em grandes editoras haviam sido escritos por homens. Isso revela que a chamada “literatura feminina” ocupa um espaço de menor valor no mercado.
Aumentar a visibilidade de mulheres
Esse termo, que vem caído em desuso, foi criticado por Juliana Leuenroth, Michelle Henriques e Juliana Gomes, criadoras da versão brasileira do movimento #LeiaMulheres. “Nós rechaçamos o termo ‘Literatura Feminina’. A literatura existe. Ela é feita por homens e mulheres. Não existe literatura feminina porque não existe literatura masculina”.
No Brasil, a hashtag que questiona a disparidade entre homens e mulheres no meio literário foi incorporada e desenvolvida para além da própria campanha, tornando-se também um clube de leitura que já passou por 106 cidades brasileiras. E é centrada em obras feitas exclusivamente por mulheres.
Os avanços são graduais e constantes, e, por isso, é importante conhecermos cada vez mais nomes de autoras e seus respectivos trabalhos. Da lista dos 5 indicados para cada uma das 19 categorias do Prêmio Jabuti 2019, nós selecionamos 6 escritoras que valem a pena serem lidas e adicionadas nas prateleiras:
- Vilma Arêas
Indicada ao Eixo Literatura por Um beijo por mês;
Carioca, ficcionista e estudiosa da obra de Clarice Lispector, tem oito livros publicados. Em 1993 venceu o Prêmio Jabuti por A terceira perna.
- Andréa Pachá
Indicada ao Eixo Crônica por Velhos são os outros;
Carioca e juíza, trabalhou com cinema e teatro e tem longa carreira em uma Vara da Família. Também é autora de Segredo de Justiça e A vida não é justa.
- Fernanda Young
Indicada ao Eixo Crônica por Pós-F: para além do masculino e do feminino;
Carioca, viveu 49 anos, entre 1970 e 2019. Ficou conhecida por ter escrito séries da TV como Os Normais e Minha nada mole vida. Teve 14 livros publicados, e foi indicada duas vezes ao Emmy Internacional de melhor comédia, pelos seriados Como Aproveitar o Fim do Mundo e Separação?!. Sua última declaração pública antes de falecer foi “Onde queres descanso sou desejo”. Era uma voz politicamente crítica entre a classe artística brasileira.
- Ana Paula Maia
Indicada ao Eixo Romance, pelo livro Enterre seus mortos;
Carioca e roteirista, publicou sete romances e já escreveu para o teatro e para o cinema. Em 2018, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Melhor Romance do Ano, por Assim na Terra como embaixo da Terra.
- Martha Batalha
Indicada ao Eixo Romance por Nunca houve um castelo;
Recifense que hoje vive na Califórnia, nos Estados Unidos, teve carreira de repórter e criou a editora Desiderata. Seu romance de estreia, A vida invisível de Eurídice Gusmão, foi finalista do prêmio São Paulo de Literatura e semifinalista do Oceanos.
- Mônica de Aquino
Indicada ao Eixo Poesia, pelo livro Fundo Falso;
Mineira e com formação original em Direito, a poeta publicou Sístole, seu primeiro livro, pela Editora Bem-te-vi em 2005. Em 2013, recebeu o Prêmio Cidade de Belo Horizonte por Fundo Falso, a coletânea de poemas que concorre como semifinalista do Prêmio Jabuti.
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