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Programação do FIT 2016 é divulgada em Belo Horizonte

O Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte – FIT-BH 2016 dá a largada à sua 13ª edição, que baliza 22 anos de trajetória. Realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura, e correalizado pela Soama – Sociedade dos Amigos do Teatro Marília, o evento, de 20 a 29 de maio, contará com mais de 70 atrações, entre espetáculos nacionais e internacionais (de oito países) e atividades afins ao universo das artes cênicas, distribuídas em teatros, espaços alternativos e, claro, pelas ruas, praças e parques da capital mineira.

E é justamente num espaço aberto – a Praça da Estação – que a maratona terá início, com os franceses da Compagnie Off  e o seu “Les Girafes, Opérette Animalière”. Um espetáculo na acepção do termo, com direito a muita música, efeitos especiais, atores e, claro, as girafas citadas no título: gigantes, vermelhas e articuladas.

Somando mais de duas décadas de existência, o FIT-BH configura-se como uma vitrine abrangente da produção local, nacional e internacional, bem como palco de incessante intercâmbio artístico, de reflexão e de formação de artistas e público. Neste ano, o conceito que norteou o eixo curatorial foi a resiliência, reforçando a ideia do teatro como espaço de resistência. No que tange aos espetáculos nacionais e internacionais, o trabalho curatorial foi desenvolvido por Eduardo Moreira, Diego Bagagal, Walmir José e Dayse Belico, que também assina a coordenação executiva do festival. Já a curadoria dos espetáculos locais reuniu Carloman Bonfim, Luiz Hippert e Sérgio Abritta.

O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira, acrescenta que a edição 2016 também traz, em seu cerne, a ideia de resgate. “De um FIT-BH para a cidade, produzido por artistas desta cidade”. O diretor de Artes Cênicas e da Música da Fundação, Jefferson da Fonseca, destaca a vocação do evento como um “lugar de encontro, de aglutinação, acolhendo os diversos movimentos e inclinações das artes cênicas na contemporaneidade para, a partir daí, fornecer suporte a reflexões diversas, confirmando a arte como ferramenta de resistência, de força e, sobretudo, de diálogo”.

No tocante ao tema resiliência, Dayse Belico ressalva que essa diretriz não deve ser confundida, de modo algum, com acomodação. “É a resiliência no que diz respeito à capacidade de despertar, de superar, de sair do lugar. De transformação, provocação. Para mim, esse é o lugar do teatro”, resume ela, acrescentando que o próprio FIT-BH é um exemplo de resiliência.

DO MUNDO PARA BH

Na grade internacional, além do já citado “Les Girafes”, da Compagnie Off, há atrações de vários países: da Itália, Enzo Moscato mostra sua versatilidade em “Compleanno”, no qual homenageia o amigo e conterrâneo Annibale Ruccello, morto precocemente, aos 30 anos, em um trágico acidente; e em “Toledo Suíte”, um recital que alinhava temas de grandes nomes, como Bertold Brecht e Kurt Weill.

O espetáculo cênico-musical “Dakh Daughters Band”, da Ucrânia, é outra presença confirmada. No palco, as sete integrantes do Dakh Theatre exibem seus dotes vocais junto a vários instrumentos, e em várias línguas e mesmo dialetos.  A Grécia adentra a cena com “Os Mercadores das Nações”, montagem do Opera Theatre, que adapta o romance de Alexandros Papadiamantis (1851 – 1911). Em foco, a disputa pelo controle do Mar Egeu e o coração partido da recatada Augusta.

A América Latina é representada por Chile e Argentina. Do primeiro país vem Rodolfo Meneses e seu Palhaço Tuga (Mimo Tugas), que traz a BH o espetáculo de rua “Con Su Permiso”, além de ministrar a oficina “Atuando na Rua… Sem Morrer no Processo”. Da Argentina, chega o Colectivo de Investigación Apacheta e seu “Mi Hijo Sólo Camina un Poco Más Lento”, texto do croata Ivor Martinic que tem como epicentro a aceitação do diferente.

Na grade internacional, o universo circense está contemplado com o francês Les Acrostiches, que traz à capital mineira “Le Cabaret des Acrostiches”, espécie de compilação do melhor de seu repertório. Já a Compagnie di Théâtre K, da França, apresenta “Uma Maria, Um José”. Do mesmo país, a atriz Esther Mollo, do Théâtre Diagonale, protagoniza “Mary’s Baby Frankenstein 2018”. O texto parte do clássico “Frankenstein”, de Mary Shelley, para questionar quais seriam, nos dias atuais, diante dos surpreendentes avanços da medicina genética e da estética, os “monstros” a serem gestados

O universo dos transgêneros é abordado em “The Gospel According Jesus, Queen of Heaven”, da performer e poeta escocesa Jo Clifford, que recorre ao evangelho para tentar combater preconceitos ainda vigentes na sociedade. De Portugal, chega a história de uma geração dividida entre partir (para outros países da Europa, em busca de uma melhor colocação profissional) ou permanecer (na terrinha): “O Meu País que o Mar Não Quer”. Nele, o grupo Casa da Esquina coloca a lupa sobre um novo êxodo, o de profissionais extremamente qualificados. O espetáculo parte de relatos pessoais e de testemunhos colhidos pelo ator, diretor e dramaturgo Ricardo Correia.

ESPETÁCULOS NACIONAIS

Uma cartela diversificada compõe a grade nacional do FIT-BH. Entre as atrações de rua, a dupla do Circo Amarillo (Brasil/Argentina) – Marcelo Lujan e Pablo Nordio – sob a direção de Domingos Montagner, traz “Clake”,  que dá prosseguimento a uma pesquisa baseada na figura do chamado “palhaço musical”. De São Paulo, o Grupo Laje apresenta “Tropa”, que conta a história da vida do Capitão Nascimento, antes e depois de sua saída do Bope.

Entre os espetáculos de palco está “Abrazo”, aventura inspirada em “O Livro dos Abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e encenada pelo Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare (Natal, RN). A peça “Cinco Semanas em um Balão” (do grupo Sabre de Luz, de São Paulo), inspirada na obra de Júlio Verne, é uma atração destinada ao público infantil, enquanto “MundoMudo”, da Companhia Azul Celeste (São José do Rio Preto/SP), mira o público adulto, investigando a relação cultural entre o velho e o novo por meio dos valores difundidos na sociedade contemporânea.

O dramaturgo franco-uruguaio Sergio Blanco escreveu “Kassandra” como um monólogo que parte da personagem mítica, mas apresenta uma versão atualizada. No Brasil, a montagem da La Vaca Cia de Artes Cênicas (Florianópolis/SC), com direção de Renato Turnes, situa Kassandra (interpretada pela atriz Milena Moraes) como artista-performer de uma boate (na capital mineira, o palco escolhido foi o da Sayonara Night Club). A heroína troiana ressurge nos dias atuais, com seu inglês tosco de imigrante, para se desmitificar.

A mesma companhia também participa do festival com “UZ”, que flagra a cidade de mesmo nome, na qual os habitantes vivem em paz, guiados pelos ensinamentos da Igreja. Até que um belo dia, Grace, “a mais virtuosa dentre as mulheres”, escuta a voz de Deus, que ordena que ela mate um de seus filhos. Daí se desenvolve uma parábola tragicômica sobre as relações entre família, sociedade e religião.

ESPETÁCULOS LOCAIS

Temas que pautam inflamadas discussões na imprensa ou nas redes sociais e nas ruas permeiam os espetáculos da grade local do FIT-BH 2016.  “Maxilar Viril”, da Maldita Cia de Investigação Teatral, por exemplo, propõe uma reflexão sobre temas atuais a partir da adaptação da obra “A História do Lagarto que Tinha o Costume de Jantar suas Mulheres”, de Eduardo Galeano. Questões relativas ao universo da mulher e seu papel na sociedade atual norteiam “Calor na Bacurinha”, do bando (que é como o grupo se reconhece) As Bacurinhas.

“À Tardinha no Ocidente”, do grupo Primeira Campainha, reconta a história política do país de uma maneira lúdica, a partir de brincadeiras de rua. O coletivo Os Conectores coloca o dedo em uma ferida aberta com “Rosa Choque”, que debate a violência contra a mulher sob um prisma original. “Real”, recente criação do Espanca!, reúne quatro histórias curtas, inspiradas em acontecimentos reais (um linchamento, um atropelamento, uma chacina policial e um movimento grevista). A grade se completa com “Migrações de Tennessee”, homenagem a Tennessee Williams, seus contos, poemas e peças, encenada pela Cia Absurda sob a direção de Eid Ribeiro.

Responsáveis pela seleção das atrações locais, os curadores Carloman Bonfim, Luiz Hippert e Sergio Abritta ressaltam que todos os selecionados trazem, em seu bojo, a abordagem de questões contemporâneas, urgentes, tanto sociais quanto políticas.

PROJETOS ESPECIAIS

A edição 2016 do FIT-BH aposta, na seção “Projetos Especiais”, na apresentação de espetáculos de grupos formados nas escolas de artes cênicas de Belo Horizonte. Assim, serão mostradas as peças: “A Queixa” (Trupe A Torto e a Direito, do Teatro Universitário da UFMG, direção de Fernando Limoeiro), “Nós de Nós” (Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG, direção Eugênio Tadeu), “Máquina” (Miúda Cia, do Centro de Formação Artística e Tecnológica/Cefart, direção de Cláudio Dias), “Horror Vacui HAMLET” (Companhia Teatro Adulto da Escola de Teatro PUC Minas, direção de Cynthia Paulino), “Cama, Mesa e Banho” (Grupo Batatas e Carambolas, do Curso de Formação do Galpão Cine Horto, direção de Fábio Furtado e Camila Morena) e “Dom Quixote – O Cavaleiro do Sertão” (Escola Livre de Artes – ELA/Arena da Cultura, direção Válber Palmeira); bem como o espetáculo conjunto “Mínima Cena”, que reúne as montagens “Eles Fazem Parte da Legião Brasileira da Má Vontade?” (Escola Livre de Artes – ELA/Arena da Cultura), “Trainspotting” (Escola de Teatro PUC Minas), “Ventre Sem Umbigo” (Cefart) e “Ensaio de Uma Infância Medrosa” (Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFMG).

A seção também abarca atividades circenses, mini teatro lambe lambe, “Picnic Dionisíaco”, mostra de filmes e documentários, encontros performáticos, debates, oficinas, conferências e vivências, lançamentos de livros, conversas, intervenções cênicas, Campeonato Interdrag de Gaymada e um bota-fora no Viaduto Santa Tereza.

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