Leo Rodrigues – Correspondente da Agência Brasil
Manifestantes que há seis dias realizam uma marcha contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e percorreram 190 quilômetros de Ouro Preto à capital mineira, passando pelos municípios de Santa Bárbara e Sabará, foram recebidos hoje (26), em Belo Horizonte, pelo governador mineiro Fernando Pimentel (PT), no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro.
A caminhada foi organizada pela Frente Brasil Popular, composta por entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG) e o Levante Popular da Juventude. Do lado de fora, milhares de manifestantes aguardavam o fim da reunião. Fernando Pimentel não falou com a imprensa. Segundo Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT-MG, o governador propôs a criação de uma comissão permanente para diálogo com os movimentos sociais, que será denominado Comitê de Luta pela Democracia.
“Abrir o Palácio da Liberdade para receber os trabalhadores sem-terra e diversas organizações populares foi uma sinalização importante. E a criação do comitê é uma iniciativa muito bem-vinda. Precisamos deixar claro que governabilidade não se constrói só com deputados. Ela se faz também através do empoderamento da participação popular”, disse Beatriz Cerqueira.
Uma pauta de reivindicações das entidades também foi apresentada a Pimentel. Os manifestantes cobraram que fosse divulgada a íntegra do relatório da auditoria que o governo realizou em 2015 sobre a situação do estado. Com base nesse documento, apresentado parcialmente após seus três primeiros meses de gestão, Pimentel contestou um conjunto de políticas implementadas no estado ao longo dos doze anos de mandatos liderados pelo PSDB.
A pauta apresentada pelas entidades também incluiu a retomada de doze comissões parlamentares de inquérito (CPIs) que não andaram na Assembleia Legislativa durante o governo do PSDB, a adoção de medidas para frear o aumento do desemprego e a maior participação dos atingidos nas decisões tomadas em relação ao rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG).
O coordenador do MST em Minas, Sílvio Neto, reiterou a necessidade de Fernando Pimentel estar mais próximo dos movimentos populares. O governador não esteve presente em nenhuma das manifestações convocadas nos últimos meses contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, ocasião em que houve discursos de outros políticos do PT como o deputado estadual Rogério Correia e o deputado federal Patrus Ananias.
A Frente Brasil Popular anunciou que no próximo domingo (1º), Dia do Trabalhador, um ato sairá às 10h da Praça Afonso Arinos, no centro da capital mineira. Os manifestantes irão até a Praça da Liberdade, onde será montado um acampamento por alguns dias. “Vamos mostrar nossa disposição de irmos para a trincheira inviabilizar um eventual governo de Michel Temer e Eduardo Cunha”, alegou Sílvio Neto.
A marcha se concentrou em Ouro Preto no dia 21 de abril, quando o ex-presidente uruguaio José Mujica discursou durante a tradicional cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência. No dia seguinte, cerca de 1,5 mil manifestantes saíram em direção a Mariana, onde foram recebidos com uma aula sobre democracia ministrada pela secretária de educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo.
De Mariana, a caminhada seguiu em direção a Santa Bárbara. No meio do caminho, houve uma parada em instalações da mineradora Samarco para um protesto contra a atividade predatória da mineração. Houve intervenção da Polícia Militar, que tentou dispersar o ato utilizando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. A mineradora é proprietária da barragem de rejeitos de minérios que desmoronou e causou mortes e destruição no município de Mariana, em especial no distrito de Bento Rodrigues, no dia 5 de novembro do ano passadp.
Após a reunião com o governador, os manifestantes encerraram a marcha realizando um ato cultural na Praça da Liberdade, com a apresentação de músicos como os violeiros Wilson Dias e Rubinho da Viola.
Edição: Jorge Wamburg