Novo projeto da companhia brasileira de teatro, PRETO, chega dia 12 de abril ao Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (de quinta a segunda, às 20h, até 30 de abril), depois de cumprir uma bem-sucedida temporada no SESC Campo Limpo, em São Paulo e no CCBB Rio de Janeiro, além de ser apresentado em Frankfurt e Dresden, na Alemanha, e em Paris, na França. Dirigida por Marcio Abreu, a peça mergulha na investigação e na reflexão em torno das diferenças. A dramaturgia é assinada por Marcio em parceria com Grace Passô e Nadja Naira.
“PRETO nasceu como desdobramento da nossa peça anterior, PROJETO bRASIL (2015), também patrocinada pela Petrobras. Tanto uma quanto a outra não se constroem em cima de temas. PROJETO bRASIL não é uma peça sobre o país, assim como PRETO não é uma peça exatamente sobre racismo. É uma peça criada a partir de perspectivas de pensar a coexistência, a afirmação das diferenças”, explica Marcio Abreu. “É uma obra sobre ela mesma, que se articula com autonomia promovendo possibilidades de leitura, fazendo emergir um leque de assuntos e temas diversos. Diante do que transforma o mundo, eu respondo artisticamente”, diz o diretor.
A montagem se articula a partir da fala pública de uma mulher negra, uma espécie de conferência sobre questões que incluem racismo, a realidade do negro e da negra no Brasil hoje, o afeto e o diálogo, a maneira como lidamos com as diferenças e como cada um se vê numa sociedade marcada pela desigualdade. A peça é composta por uma série de tentativas de diálogos encenadas por Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah (em sua terceira peça com a companhia) e Rafael Lucas Bacelar. O músico Felipe Storino executa a trilha sonora ao vivo.
Dramaturgia
A dramaturgia começou a ser montada em 2015, durante as diversas residências artísticas realizadas em cidades no Brasil e na Alemanha. Entre as referências básicas que alimentaram o processo de criação estão a obra de Joaquim Nabuco, intelectual e político abolicionista brasileiro que viveu no século XIX entre o Brasil e a Europa; o livro contemporâneo A Crítica da Razão Negra, do professor e cientista político camaronês Achille Mbembe, os escritos de Frantz Fanon, a literatura de Ana Maria Gonçalves e a da poeta e professora Leda Maria Martins, entre outros pensadores.
“Elaboramos a dramaturgia ao longo dos ensaios. É resultado de uma série de conversas e estudos sobre temas que rodeiam essa peça”, conta Grace Passô. “A gente ensaiava, abria os ensaios para o público acompanhar e conviver com a gente dentro da sala de ensaio e conversávamos com esse público tentando entender outras perspectivas daquilo que estava sendo criando ali”.
PRETO, além de promover essa investigação a respeito da rejeição das diferenças na sociedade – numa tentativa de expandir, pelo viés da arte, as percepções sobre o outro e sobre os espaços de convivência – ainda aprofunda a reflexão sobre a imagem social, repensando como a sociedade se comporta e dá poder a essa imagem. Questionamentos do tipo “como eu me vejo?” ou “como o outro me vê?” acompanham o espetáculo.
O mote é esse: como reagir artisticamente diante da pluralidade cultural, política, étnica e racial?
PRETO e a companhia brasileira de teatro
Fruto do desdobramento da pesquisa de PROJETO bRASIL, PRETO vem se construindo desde 2015 em residências artísticas feitas em momentos, cidades e países diferentes – Belo Horizonte, São José do Rio Preto, Rio de Janeiro, São Paulo, Araraquara, Curitiba e Santos. As cidades de Dresden e Frankfurt, na Alemanha, também receberam residências artísticas (com mostras de processo, oficinas, encontros, conversas públicas), todas abertas ao público.
“Cada uma das etapas de trabalho foi permeada por circunstâncias e experiências específicas. Em todas elas, promovemos ou participamos de encontros entre artistas e público através de apresentações de peças do nosso repertório, oficinas, mostras de processo, debates e conversas públicas, entendendo o teatro como lugar mobilizador de sensibilidades, com sentido político e ativador de transformações possíveis, transformações sonhadas e as que ainda nem imaginamos”, completa o diretor Márcio Abreu sobre o processo.
A companhia brasileira de teatro é um coletivo de artistas de várias regiões do país fundado pelo dramaturgo e diretor Marcio Abreu em 2000, em Curitiba, cidade onde mantém sua sede, num prédio antigo do centro histórico.
Sua pesquisa é voltada sobretudo para novas formas de escrita e para a criação contemporânea. Entre suas principais realizações estão peças com dramaturgia própria, escritas em processos colaborativos e simultâneos à criação dos espetáculos, como PROJETO bRASIL (2015); Vida (2010); O que eu gostaria de dizer (2008) e Volta ao dia… (2002).
Há ainda uma série de criações a partir da obra de autores inéditos no país como Krum (2015), de Hanock Levin; Esta Criança (2012), de Joel Pommerat; Isso te interessa? (2011), a partir do texto Bon, Saint-Cloud, de Noelle Renaude e Oxigênio (2010), de Ivan Viripaev.
A companhia realiza ainda frequentes intercâmbios com outros artistas no país e no exterior. Estreou na França, em 2014, o espetáculo Nus, Ferozes e Antropófagos em parceria com os diretores Thomas Quillardet e Pierre Pradinas e com artistas brasileiros e franceses do Coletivo Jakart e colaboradores da companhia brasileira.
FICHA TÉCNICA
Direção: Marcio Abreu
Elenco: Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rodrigo Bolzan / Rafael Lucas Bacelar
Músico: Felipe Storino
Dramaturgia: Marcio Abreu, Grace Passô e Nadja Naira
>Iluminação: Nadja Naira
Cenografia: Marcelo Alvarenga
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Direção de Produção: José Maria | NIA Teatro
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Vídeos: Batman Zavarese e Bruna Lessa
Figurino: Ticiana Passos
Assistência de Direção: Nadja Naira
Orientação de texto e consultoria vocal: Babaya
Consultoria Musical: Ernani Maletta
Adereços | Esculturas: Bruno Dante
Colaboração artística: Aline Villa Real e Leda Maria Martins
Assistência de Iluminação e Operador de Luz: Henrique Linhares
Contrarregragem: Eloy Machado
Operador de Vídeo: Bruna Lessa
Operador de Som: Bruno dos Reis
Produção Executiva: Caroll Teixeira
Participação Artística na Residência realizada em Dresden: Danilo Grangheia, Daniel Schauf e Simon Möllendorf
Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque | Cubículo
Fotos: Nana Moraes
Produção: companhia brasileira de teatro
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