Um dos maiores desafios do Brasil, o saneamento básico, também é um dos principais problemas da região Sudeste do país. Dados extraídos do novo portal de indicadores do Instituto Trata Brasil, chamado “Painel Saneamento Brasil” (www.saneamentobrasil.org.br), revelam que todos estados do Sudeste ainda têm muito que avançar, sobretudo em relação ao esgotamento sanitário.
Quando falamos da falta de acesso das pessoas aos serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, não podemos esquecer a região Sudeste. De acordo com o SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento -, 91,3% dos brasileiros da região receberam água tratada, 78,6% da população tinham acesso à rede de coleta de esgotos e 51,2% do esgoto gerado era tratado em 2017. As perdas de água potável nos sistemas de distribuição chegam a 34,4%.
Os indicadores de saneamento no Brasil também são muito preocupantes: o país tinha perto de 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, quase metade da população – 100 milhões de brasileiros – não tinha rede de esgotos e somente 46% do volume de esgoto gerado no Brasil era tratado em 2017.
Minas Gerais é um dos estados que apresentam índices melhores de saneamento básico, no entanto, o estado ainda apresenta deficiências necessárias de serem corrigidas rapidamente, sobretudo no tratamento dos esgotos e na parcela da população sem acesso à coleta dos esgotos, como se vê abaixo:
- 3,8 milhões de pessoas não tinha acesso à água (18% da população) em 2017;
- 6,2 milhões de pessoas não tinha acesso à coleta dos esgotos (30%);
- Nesse ano, apenas 39,0% do esgoto foi tratado, o que equivale dizer que foi despejado na natureza o
- equivalente a 234 MIL piscinas olímpicas de esgoto não tratado; e
- As perdas de água potável nos sistemas de distribuição chegam a 35,6% da água produzida
Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, fala sobre os desafios da água tratada, coleta e tratamento dos esgotos no Brasil e, em especial, em Minas Gerais. “Sempre colocamos Minas Gerais como um estado que está avançando no saneamento, até pelos índices superiores ao restante do país. Contudo não podemos aceitar que mais de 6 milhões de pessoas não possuam coleta dos esgotos, isso implica doenças e poluição direta nos recursos naturais de um dos estados mais importantes do país em termos de meio ambiente.”
Tabela 1. Indicadores demográficos e de saneamento, 2017
Os 17 maiores municípios listados acima, com dados extraídos do Painel Saneamento Brasil, apresentam realidades diversas nos indicadores de saneamento básico, com discrepâncias mais visíveis no indicador de volume de esgoto tratado em relação à água consumida, que em alguns casos chegam a 0% ou próximo, como Governador Valadares (0%), Divinópolis (1,9%) e Juiz de Fora (5,6%). Em relação às perdas de água potável nos sistemas de distribuição, o destaque positivo está em Patos de Minas que registrou índice de somente 17,5%, enquanto Santa Luzia e Ipatinga respectivamente apresentarem índices elevados, com 55,3% e 50,1%. “As perdas de água sempre são um enorme desafio para os municípios, na tabela é possível identificar muitos deles perdendo quantidades altíssimas. Em relação à parcela da população sem acesso à coleta dos esgotos, nenhum dos 17 maiores municípios mineiros chegou perto, ou ultrapassou, a média nacional, e isso é um ponto consideravelmente positivo”, apontou Édison Carlos.
IMPACTOS NA SAÚDE E NA RENDA DO TRABALHADOR
A ausência da infraestrutura de saneamento básico causa impactos à saúde pública, com internações por doenças de veiculação hídrica, além também de ocasionar distinção salarial entre trabalhadores. Em 2017, o Estado de Minas Gerais registrou mais de 16,6 mil internações por doenças de veiculação hídrica, com 298 óbitos, resultando num custo de R$ 7,1 milhões no mesmo ano. As 17 maiores cidades de Minas Gerais gastaram juntas R$ 2 milhões com 2,7 mil internações por doenças de veiculação hídrica em 2017.
A Dra. Ana Lelia Magnabosco, uma das autoras do estudo, acrescenta que “além das despesas com internações, deve-se considerar que os afastamentos causados por essas infecções trazem prejuízos para a população. Além do mal estar causado pela doença, as estatísticas mostram que os trabalhadores perdem renda e os estudantes acabam tendo pior desempenho escolar, com reflexos futuros na sua vida profissional.”
Tabela 2. Indicadores de saneamento e de saúde, 2017
Além das internações apontadas, a diferença salarial entre os moradores que habitam locais com ou sem acesso ao saneamento básico é substancial. Nota-se que em Minas Gerais um trabalhador que mora num local com acesso integral ao saneamento (água e esgoto) recebe, em média, R$ 2 mil, enquanto um morador que mora numa residência com acesso parcial (somente água) recebe quase 45% a menos, ou seja, R$ 1,232 mil.
SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os números são preocupantes. O número de mineiros da RMBH que recebem coleta de esgoto é de 79,1%, e o volume de esgoto tratado em relação à água consumida é de apenas 58,3%, superiores às médias estaduais e nacionais. Em relação à rede de água, 89,6% dos moradores da RMBH recebem água em suas casas, entretanto, a perda de água potável nas redes de distribuição é de 43,3%, número muito maior que o do Estado do Minas Gerais, que apresenta uma perda de 35,6%. Ainda que quase 80% da população tenha acesso à coleta dos esgotos, ao considerar a população volumosa da RMBH (5,8 milhões de habitantes), os quase 20% de pessoas que não têm acesso os serviços em suas residências chegam à 1,2 milhão de habitantes.
RM Belo Horizonte | |
População | 5.898.745 |
População sem acesso à água (2017) | 612.988 (10,4%) |
População sem coleta de esgoto (2017) | 1.234.571 (20,9%) |
Esgoto não tratado (mil m³) | 119.976,69 (58,3% de volume tratado) |
Internações totais por doenças de veiculação hídrica (2017) | 1.643 |
Taxa de incidência de doenças de veiculação hídrica, casos por 10 mil habitantes (2017) |
2,79 |
Investimentos totais em 2017 | R$ 214.932.779,94 |
INVESTIMENTOS NA RM DE BELO HORIZONTE
Os investimentos em água e esgotamento sanitário durante 2010 a 2017 não foram suficientes para que a Região Metropolitana de Belo Horizonte sanasse os problemas de acesso à água e de esgotamento sanitário. Os investimentos em saneamento básico oscilaram muito, com destaque para o ano de 2015, quando se investiram R$ 916 milhões. Depois desse pico, foram investidos apenas R$ 233 milhões em 2016 e R$ 214 milhões em 2017, ocorrendo uma diminuição de R$ 700 milhões nos investimentos entre 2015 e 2017. Édison Carlos diz que os investimentos precisam ser bem superiores, levando em conta a projeção para as próximas décadas. “O Brasil como um todo investe pouco, cerca de R$ 11 bi anuais. Isso significa que todos os estados e regiões metropolitanas precisam, no mínimo, dobrar os investimentos, principalmente Belo Horizonte”.
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