No Informe Epidemiológico da Febre Amarela, divulgado na última terça-feira (27/2) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), houve o registro de 11 pacientes com histórico de vacinação prévia e exame positivo para a doença.
A pergunta que muitos se fazem é se a vacina protege realmente e se é preciso tomar medidas adicionais para evitar a febre amarela. Nesse cenário, os boatos que circulam nas redes sociais questionando a eficácia da vacina surgem na contramão de um movimento importante que é o de aumentar os índices de imunização da população.
A própria Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fabricante da vacina utilizada no Brasil, publicou uma nota esclarecendo os boatos sobre mutações no vírus da febre amarela e a eficácia da vacina. Confira aqui a nota na íntegra.
Com os dados divulgados no informe do dia 27/02, Minas Gerais atingiu cerca de 90% de cobertura vacinal contra a febre amarela. “Isso significa dizer que em torno de 18 milhões de pessoas já foram vacinadas no estado. Logo, esses 11 casos confirmados, até o momento, em pessoas imunizadas, representam estatisticamente um valor muito abaixo dos 2 a 5% que não respondem à vacina. Pode-se então afirmar que a vacina tem a sua eficácia e que, em Minas Gerais, ela está acima da média geral”, afirma o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde, Rodrigo Said.
Cabe ressaltar ainda que a vacina contra febre amarela, segundo indicam os estudos acumulados ao longo dos anos, protege de 95% a 98% dos casos, sendo considerada altamente eficaz e segura na prevenção da transmissão do vírus, lembrando que não há nenhuma vacina ou medicamento que alcance 100% de eficácia em sua utilização.
O subsecretário reforça também que Minas Gerais é área com intensa atividade de circulação do vírus da febre amarela, juntamente com uma densidade significativa dos vetores que são transmissores da doença em seu ciclo silvestre.
“Isso mostra que nossa população, em Minas Gerais, está exposta a um risco de contrair a doença. Logo, a principal estratégia de controle continua sendo a vacinação. Diante de todos esses boatos em redes sociais, precisamos desmitificar as dúvidas sobre a vacina. Todos os documentos de instituições oficiais ligadas à saúde atestam a efetividade da vacina, reforçando-a como a principal ferramenta para controle da doença”, frisa Rodrigo Said.
Clique aqui para saber mais sobre o que diz a Fiocruz sobre os mitos e verdades sobre a vacina.
A meta em Minas Gerais é atingir 95% da população, composta por crianças a partir dos nove meses de idade. O estado, em sua totalidade, é área com recomendação para vacinação contra febre amarela desde o ano de 2008.
Caso o usuário tenha dúvidas quanto à sua vacinação, a orientação é que ele procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua residência e leve o seu cartão de vacina para que o profissional habilitado faça a avaliação e se necessário, o imunize.
Como medida adicional, para a população mais exposta à circulação do vírus, recomenda-se também a utilização de repelente como medida de proteção individual.
Investigação dos casos
Atualmente, há uma comissão composta por representantes da Secretaria de Estado da Saúde, Ministério da Saúde, Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) e Fundação Ezequiel Dias (Funed), investigando cada um dos pacientes com histórico de vacinação prévia e exame positivo para febre amarela.
Os casos permanecem em investigação para levantamento de informações clínicas e epidemiológicas fundamentais para sua conclusão. Até o momento, eles têm uma mediana de idade de 21 anos (7-47 anos), sendo que todos receberam uma dose da vacina de febre amarela por volta dos 5 anos de idade, em média, variando entre 9 meses e 44 anos.
“O que nós precisamos aprofundar é a investigação de fatores individuais dos pacientes, da própria resposta imunológica dessas pessoas. Lembramos, contudo, que esses casos estão dentro da previsão das estatísticas das publicações sobre a efetividade da vacina”, destaca Rodrigo Said.
A SES-MG continua recomendando uma única dose ao longo da vida, como medida de maior proteção contra a doença, seguindo as determinações do Regulamento Sanitário Internacional aprovado no âmbito da Organização Mundial de Saúde, que serve de referência para todos os países.
Cobertura vacinal e surgimento de novos casos
Muito se questiona acerca do motivo de estarem surgindo novos casos de febre amarela, mesmo com uma cobertura de cerca de 90% da população em Minas Gerais. Fato esse que pode ser explicado pela doença ser transmitida por vetores que têm uma alta circulação no estado.
“Não é uma transmissão entre seres humanos, como o sarampo ou a gripe, por exemplo, em que a vacina é capaz de garantir uma proteção coletiva. Por isso é que no caso da febre amarela nós temos que atingir uma cobertura de 95 a 100% da população. O vetor está presente no nosso ambiente, circulando com o vírus, e logo as pessoas estarão expostas à doença, caso não tenham se vacinado”, explica o subsecretário.
Além disso, a concentração de não vacinados ocorre exatamente nas regiões em que há maior exposição aos vetores transmissores, quais sejam as zonas rurais do estado e próximas a matas, acometendo essas pessoas que ainda não se imunizaram – que são, principalmente, homens em idade ativa.
A questão cultural relacionada a esse público de, via de regra, não procurar os serviços de saúde para garantir proteção, além da dificuldade de acesso, casa a casa, pelas equipes de saúde dos municípios a essas pessoas não imunizadas, devido à extensa área rural do estado, são fatores que também ajudam a explicar esse cenário.
Como proteção coletiva, entende-se o efeito obtido quando algumas pessoas são indiretamente protegidas pela vacinação de outras, o que acaba beneficiando a saúde de toda a comunidade. É o mesmo que “proteção de grupo” ou “proteção de rebanho” e funciona quando a pessoa vacinada não transmitirá a doença para outros que não estão imunizados por razões como: são muito novos para tomar alguma vacina; têm algum problema que impede a vacinação; foram vacinados antes, porém, não produziram níveis ideais de anticorpos, logo, não ficaram devidamente imunizados. Fato esse que não ocorre no caso da febre amarela.
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