Após notícia de que alguns postos de gasolina, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estariam recebendo menos combustível do que o acordado com transportadoras, a PCMG passou a investigar os canais de abastecimento dos fornecedores e chegou a todo o esquema.
“Os grupos criminosos desviavam, por meio de caminhões autorizados por transportadoras, parte do combustível – principalmente gasolina e diesel – da refinaria em Betim para galpões localizados no bairro Teresópolis, na mesma cidade”, explicou o delegado responsável pelas investigações, Gustavo Barletta. Ainda segundo o policial, não há indícios de que as transportadoras tenham qualquer vínculo com as atividades criminosas, uma vez que alguns dos presos, os próprios caminhoneiros, assumiram a responsabilidade pela fraude.
“Depois que parte da carga de combustível era desviada e transportada até os galpões, onde a polícia encontrou reservatórios próprios para a atividade, eles possivelmente adulteravam os combustíveis, dependendo da quantidade furtada, e revendiam a postos de combustíveis que não tinham ciência do esquema criminoso ou até mesmo no varejo, para condutores que tinham informação das atividades ilícitas”, pontuou Barletta.
Ele explica, também, que quando a quantidade de combustível desviada era razoavelmente pequena para o atacado – cerca de 50 litros, em uma escala total de cinco mil litros – o furto não era de pronto reconhecido pelos clientes, haja vista que os profissionais do meio têm ciência de uma margem de perda durante o transbordo dada a alta volatilidade do material. “A volatilidade, que significa a característica de um combustível poder ter mais ou menos chance de chegar ao estado gasoso, ou seja, evaporar, é considerada muitas vezes como parâmetro para determinar perda natural de combustível durante os transportes. A variação climática, umidade, potencial de dilatação, tudo influencia na preservação do conteúdo nos caminhões próprios para a atividade”, detalhou o delegado.
A polícia acredita que, além dos dois grupos desarticulados, possa existir uma série de outras associações criminosas agindo da mesma forma em Betim, às vezes sem qualquer ligação entre elas. “Alguns dos presos chegaram a declarar, até mesmo, que isso é uma prática super comum, o que corroboraria para o fato de os integrantes se conhecerem, mas não se relacionarem”, contou Barletta.
A PCMG levantou que o combustível era adquirido pelo preço normal de tabela da refinaria, e depois vendido pelos caminhoneiros por R$2,30 o litro para os galpões, que chegavam a vender por até R$3,00 a R$3,20 o litro. “O que facilitava toda a operação criminosa, e isso vamos apurar daqui pra frente, é que os próprios caminhoneiros, ao chegarem na refinaria, já deixavam frouxo o lacre de abastecimento do combustível no tanque do caminhão, permitindo agilidade no desvio para os galpões”, informou o policial civil. Ainda de acordo com ele, o correto seria os próprios abastecedores da refinaria realizarem todo o procedimento, lacrando definitivamente o tanque.
A PCMG estima que os suspeitos tenham lucrado uma média de R$ 5 a R$10 mil, por mês, com as atividades ilícitas, considerando-se, ainda, que os dois grupos já venham atuando há aproximadamente um ano.
Os presos responderão pelos crimes de furto qualificado e associação criminosa, podendo também serem indiciados por adulteração de combustível, a depender do laudo técnico da perícia da PCMG.
Presos
Primeiro grupo criminoso:
– Rubens Augusto de Moura, 66, líder do primeiro grupo;
– Bruno Cesar de Abreu, 30, braço direito de Rubens;
– Nelinho José dos Santos, 41, motorista.
Segundo grupo criminoso:
– Pedro Henrique Oliveira Santos, 21, líder do segundo grupo;
– Marcos Alberto Lomba Santos, 39, motorista;
– Diego Henrique Ribeiro dos Santos, 21, suspeito de furto;
– Rayane Ketllen Lacerda Oliveira, 19, suspeita de furto;
– Jadeon Fernandes Pereira Portes, 25, suspeito de receptação em flagrante.
Obs.: Junto a Jadeon, que abastecia uma motocicleta com ciência da procedência clandestina do combustível, outro suspeito de ser receptador também foi preso em flagrante, mas liberado nesta sexta-feira (9) mediante pagamento de fiança.
Alerta
Durante coletiva para apresentação do caso à imprensa, o delegado da Polícia Civil, Gustavo Barletta, alertou a população quanto ao risco criminal de se adquirir combustível de qualquer espécie com procedência duvidosa. “Essas pessoas que procuram tais galpões para abastecer respondem por receptação, podendo pagar o risco de uma falsa economia perante a Justiça”.
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