“Papel ou plástico?” Esta simples pergunta, que é feita diariamente em mercearias e mercados ao redor do mundo, tornou-se cada vez mais complexa, principalmente nas últimas duas décadas. A escolha entre fibras naturais, biodegradáveis e películas sintéticas de uso único tem consequências políticas e ambientais que variam do desmatamento até às tartarugas ameaçadas de extinção. Entretanto, uma novidade recente na fabricação de embalagens para alimentos pode sinalizar uma nova alternativa. E se ao em vez de escolher entre reciclar ou não, você puder optar por comê-la?
Para ser claro, não estamos falando de sacolas de compras comestíveis, e sim do pacote do alimento. Na última reunião da Sociedade de Química Americana que aconteceu em Philadelphia, Peggy Tomasula, Laetitia Bonnaillie e sua equipe de pesquisa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apresentaram seu progresso no empacotamento de alimentos usando a proteína do leite. Devido à sua flexibilidade molecular e suas características emulsificante e estabilizadora – assim como todos os polipeptídeos de enovelamento aleatório- a caseína é capaz de formar uma película, conferindo boa capacidade de revestimento. As tentativas de produzir uma película de revestimento com base na caseína começaram há alguns anos, porém as versões anteriores não eram eficientes em barrar a umidade. Esta última versão, no entanto, combina a caseína do leite com glicerol e pectina cítrica para formar um bio-polímero macio, mas estruturalmente sólido, que protege o alimento da umidade, do oxigênio e da luz.
Duas das aplicações mais prováveis para estes bio-polímeros, são como invólucros para embalar os alimentos ou como um pacote dissolvível. Fatias de queijo e alguns alimentos para lanches rápidos, frequentemente, são envolvidos em embalagens de plástico individuais, porém isso torna o volume de lixo produzido desproporcional à quantidade de alimento, gerando uma preocupação ambiental. Outro exemplo de uso em potencial são os pacotes de sopa desidratada, que podem não gerar resíduo nenhum se forem feitos usando embalagens à base de caseína, substituindo o tradicional papel ou embalagens plásticas. As embalagens à base de caseína podem ser descartadas em água morna dissolvendo-se em poucos segundos. Se usados, os bio-polímeros de caseína comestíveis podem reduzir o lixo produzido e também aumentar o valor nutritivo do alimento, ainda mais se outros suplementos forem adicionados na fabricação do pacote. Muitos acreditam que este recente avanço no desenvolvimento de bio-polímeros de caseína será um ponto de virada para a produção de embalagens comestíveis, e que logo poderemos vê-los sendo usados comercialmente.
As mesmas propriedades químicas que fazem a caseína ser eficaz como um bio-polímero também permitem que ela seja usada de outras maneiras. Existem registros de que desde a idade média a caseína foi usada para a produção de colas para madeira e materiais parecidos com o cimento. Apesar de existirem alternativas sintéticas, certas indústrias e nichos de mercado ainda preferem colas à base de caseína, incluindo a rotulagem de garrafas.
Outro uso histórico da caseína foi como um aditivo para tintas, principalmente por causa da sua solubilidade em água e capacidade de se ligar aos pigmentos. A utilização de tintas feitas com a caseína remonta ao antigo Egito, ainda sendo vista nos dias hoje. Muitos artistas são atraídos por esse tipo de tinta e suas propriedades de secagem rápida, incluindo Andy Warhol, que pintou “Popeye” e “Dick Tracy” utilizando este tipo de tinta em 1960.
Uma característica comum dos produtos não-alimentares baseados em caseína — cola, tinta e fibra — é que cada um foi substituído por um similar sintético mais durável e/ou econômico. Entretanto, com o recente avanço no desenvolvimento de embalagens comestíveis à base de caseína, esta tendência pode estar mudando. Ao procurarmos opções mais seguras e sustentáveis para a fabricação de embalagens é até lógico que olhemos para os principais componentes da nossa dieta para termos uma inspiração. Espero, num futuro próximo, podermos optar não só por papel ou plástico, mas também por leite como embalagem do nosso alimento.
Fonte: Dr. Katie Rodger, em SPLASH! milk science update: April 2017 Issue
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