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Espetáculo que aborda a ‘invisibilidade indígena’ estreia em Belo Horizonte

Os Teatros Marília e Raul Belém Machado recebem nesta semana duas apresentações do espetáculo solo “Gavião de Duas Cabeças”, dirigido por Juliana Pautilla. Na montagem, ainda inédita em BH, a atriz Andreia Duarte faz um depoimento estético‐político sobre a invisibilidade social indígena e o atual genocídio a que estão submetidos. A peça é fruto de uma convivência de cinco anos da atriz com os índios Kamayura, no alto Xingu. Os ingressos serão vendidos com 2h de antecedência por R$20 (inteira) e R$10 (meia) em ambas as apresentações. As bilheterias não aceitam cartões.

O mito do gavião de duas cabeças (um pássaro que devora o espírito indígena, que sobrevive mesmo depois da morte do corpo. Mas se o gavião mata o espírito, esse é esquecido) norteia a montagem do espetáculo. A partir dessa imagem de morte e genocídio, a peça costura discursos atuais a partir da experiência pessoal da atriz, que empresta seu corpo e sua voz como documento oral‐visual de resistência poética. Em cena, figuras opostas aparecem: uma representante do agronegócio, uma mulher indígena, a atriz questionando a sua própria experiência. O público é chamado a ver e ouvir um genocídio validado por discursos hegemônicos e por leis que infringem os direitos adquiridos dos povos indígenas.

A peça traz elementos de uma teatralidade contemporânea, unindo performance e teatro, entendendo que o ato estético é, em si, político. A dramaturgia traz um olhar sobre o índio, em seu lugar humano político. Os discursos encenados são reais e permeiam a atual realidade política e social brasileira: de um lado o discurso ruralista, de outro o indígena e ainda o da atriz que viveu ambos os contextos, o urbano e o indígena.

A atriz e idealizadora da peça Andreia Duarte teve a oportunidade em 2001, aos 21 anos, de morar na aldeia Kamayura, no Alto Xingu, em Mato Grosso. Durante os cinco anos que viveu por lá, ela criou e organizou escolas, assessorou projetos e escreveu livros. Fora da aldeia, a atriz manteve seu interesse pelo tema e realizou palestras, aulas, exposição, contação de histórias, sempre sobre a temática. Juntamente com Juliana Pautilla, diretora da peça e parceira artística, concebeu o espetáculo e optaram por abordar o tema a partir da invisibilidade e por um viés político, trazendo uma voz crítica à questão do genocídio indígena no Brasil contemporâneo.

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