No caso específico das festas juninas, seria preciso recolocá-las nas suas características tradicionais. Uma festa típica de família se modificou a ponto de já vislumbrar uma disputa com o carnaval. Caruaru e Campina Grande disputam o título do maior São João, assim como Salvador e Recife rivalizam-se na busca de ser o melhor carnaval do Brasil.
O licor que regava as famílias em visitas recíprocas foi substituído pelos sofisticados drinks de frutas, com destaque principal para os “capetas”.
As comidas caseiras de milho cederam espaço aos mirabolantes bolos e doces industrializados. As fogueiras foram substituídas pelas perigosas guerras de espadas. Os foguetes sumiram diante das pirotecnias de gigantes refletores.
Esses progressos fazem parte da evolução natural da sociedade e de suas inevitáveis tecnologias. Ocorre que muitas dessas mudanças resultam de interesses de grandes empresas que massificam com merchandising de músicas, bebidas e de outros componentes, sem deixar espaço para a concomitância de manifestações tradicionais do genuíno São João.
A partir de tanta transformação, houve um divórcio não amigável entre os festejos familiares, forçosamente substituídos pelas megas festas industriais e tecnológicas. Nesse ponto, surge a maior de todas as distorções que se transformou em problema: as prefeituras assumiram os papéis das famílias e passaram a competir entre si e a bancar as festas com o dinheiro escasso do contribuinte.
Daí por diante, em busca do topo, passaram a contratar duplas sertanejas, cantores de axé e de todos os ritmos, numa busca frenética de destacar o São João da sua cidade perante os demais municípios da região. A disputa foi além das músicas, como “o forró daqui é melhor do que o seu”… Mais concorridos, os artistas elevaram seus cachês a patamares estratosféricos. Houve uma polêmica nacional recente, segundo o noticiário, quando uma prefeitura do Nordeste teria contratado um cantor por mais de meio milhão de reais para o São João de 2016.
As festas podem se desenvolver e chegar ao nível de Olimpíada, mas jamais com o dinheiro que falta para o hospital, a creche, a limpeza da praça, o remédio e os aparelhos para exames simples. Isso vale para as prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro, que bancam as escolas de samba, e para todas as celebrações Brasil afora. Não somos a Inglaterra. Os ingleses podem bancar sua Monarquia. Os ingleses!
Por aqui perdura a cultura de manter, pelo menos, a festa. Um exemplo é essa repreensão de uma munícipe, no interior da Bahia. “Pedro, não reclame do preço das bandas de forró. Só temos a festa para nos divertir. Se você acabar com ela, nós não teremos a festa, nem hospital, nem médico; nada.” Vida que segue…
De Pedro Cardoso da Costa, colunista do Por Dentro de Minas
Bacharel em Direito
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