A Praça da Liberdade volta a ser palco hoje de uma manifestação contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e contra a corrupção, para a qual, pelas confirmações virtuais, são esperadas cerca de 29 mil pessoas. Além de Belo Horizonte, pelo menos 51 cidades do interior de Minas Gerais vão engrossar o coro contra a corrupção. Como na primeira versão do protesto, em 15 de março, os insatisfeitos com a gestão da petista foram convocados a ocupar as ruas dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, além de pontos em 12 países, como Argentina, Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, Irlanda e Portugal. A mobilização foi feita por redes sociais, panfletagem e carros de som.
Na capital mineira, as ações serão mais organizadas do que da primeira vez. Para isso, ontem os coordenadores dos movimentos de BH se reuniram na praça e acertaram um roteiro que prevê passeata até a Praça da Estação, descendo pela Rua Espírito Santo. Os grupos Basta Brasil, Pró-Brasil e Brava Gente vão sair com uma charanga às 9h da Rua da Bahia, em frente ao Minas Tênis Clube, e seguem até a Praça da Liberdade, onde encontram os outros movimentos, como o Indignados e o Vergonha. Eles darão duas voltas na praça, onde estarão posicionados seis carros de som tocando músicas selecionadas e o hino nacional de meia em meia hora.
Desta vez, os organizadores de Belo Horizonte planejam intervenções mais irreverentes. Eles irão em forma de blocos de carnaval. Em referência à crítica feita no último protesto, de que os manifestantes representavam apenas uma parcela da sociedade, três movimentos vão como bloco da “elite branca”, com direito a uma ala dos “coxinhas”. Segundo a médica Flávia Figueiredo Denigris, 42 anos, do Basta Brasil, a ideia é mostrar que o povo é um só. “Não existe separação, todo mundo está achando o governo ruim”, afirmou.
Líderes comunitários do Barreiro, Morro do Papagaio e Aglomerado da Serra, entre outros locais de BH e região metropolitana, foram convidados a integrar o bloco. “Acredito que o movimento estará mais forte desta vez, com a adesão da própria comunidade, que está preparando uma surpresa”, disse Flávia. A médica defende a saída do PT e dos seus aliados do governo. Outro bloco, o dos indignados, vem com 75 integrantes uniformizados da banda Metais em Brasa tocando trompete e trombone.
Com a camisa retratando “os irmãos petralha” em desenhos de Dilma, do ex-presidente Lula, do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente do PT José Genoino, o publicitário Cristiano Guimarães, do Pró-Brasil, pede a renúncia de Dilma. “Acreditamos que o impeachment não seria bom economicamente para o país e que não há embasamento jurídico. Por isso, queremos forçar uma renúncia, que seria a via mais rápida”, afirmou. Questionado sobre a sucessão ficar a cargo do atual vice-presidente Michel Temer (PMDB), ele disse que, se for preciso, o povo tira o peemedebista também.
À frente do “Vergonha”, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) Aristóteles Atheniense cobrou protestos mais frequentes, pedindo, inclusive, um para o 21 de abril. Na avaliação dele, ao espaçar os atos, a mobilização vai esfriando. “O camarada aqui de 79 anos chegou da Europa esta madrugada para participar e é a quarta vez que faço isso pelo país. Estive nas passeatas em 1950, nas Diretas Já e na queda do ex-presidente Fernando Collor”, recordou. O advogado convoca aqueles que não vieram na última manifestação por medo de confusão a comparecer desta vez.
Desemprego Outro público que está sendo chamado é o dos que votaram na presidente Dilma. “A culpa não é nossa porque não votamos na Dilma, mas a gente quer que quem votou também venha às ruas, porque errar é humano”, afirmou a empresária Marcela Valente, 29 anos, do Brava Gente Brasileira. Como ela, o microempresário Aníbal Macedo, 43 anos, acredita que novos manifestantes vão aparecer com o aumento do índice de desemprego e as novas regras trabalhistas. “Na hora em que os desempregados vierem para a rua, teremos de estar unidos e ter pulso firme para conduzir essa massa”, prevê.
A Polícia Militar manterá o mesmo esquema de segurança usado na última manifestação. São 15 mil homens disponíveis em todo o estado e um efetivo de cerca de 700 policiais no entorno da praça. O policiamento será feito pelo comando especializado da capital, o Batalhão Metropolitano e a Academia de Polícia, com tropas reservas. Viaturas estarão em diferentes pontos da cidade. Segundo o chefe da sala de imprensa da PM, Major Gilmar Luciano, domingo já seria um dia com grande efetivo nas ruas, pois será realizado o clássico entre Atlético e Cruzeiro no Independência, a Feira Hippie na Afonso Pena e a final do vôlei no Mineirinho.
Enquanto isso…
… Ministros de plantão
Atentos às convocações feitas pelas redes sociais para as pessoas irem às ruas para pedir, entre outras demandas, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o governo escalou ministros para acompanhar as manifestações. Pelo menos os titulares da Justiça, José Eduardo Cardozo; da Secretaria-Geral, Miguel Rossetto; e da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ficarão hoje em Brasília com essa tarefa, como fizeram no último, em 15 de março. O receio é de os protestos serem tão grandes quanto os daquele dia, que levaram cerca de 2,7 milhões de manifestantes, segundo a Polícia Militar (PM), a atos em 27 capitais. No Planalto, entretanto, a aposta é de que as mobilizações serão menores. Ministros e ex-ministros de Dilma avaliam que, após a explosão de gente nas ruas no mês passado, a tendência é um arrefecimento no ânimos das pessoas. Por sua vez, o coordenador jurídico do Movimento Brasil contra a Corrupção, Aldo Julio Ferreira, 51 anos, acredita que mais gente vá às ruas hoje. “Muitas pessoas que estavam com medo de ir na passada por causa da segurança viram que não houve perigo e devem aparecer hoje.” Ele também afirma que a pauta será menos dispersa. “Fora Dilma, Fora PT, é a única bandeira que a gente vai levar”, disse.
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