A trajetória meteórica que transformou Daniel Vorcaro em bilionário nos últimos cinco anos chegou ao fim de forma abrupta. O banqueiro mineiro, conhecido por ostentar escritórios monumentais, festas milionárias e imóveis cinematográficos, foi preso pela Polícia Federal na última segunda-feira (17), no Aeroporto de Guarulhos, suspeito de tentar deixar o país. Ele é acusado de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.

Vorcaro é apontado como o principal beneficiário do esquema que levou ao maior rombo já registrado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC): R$ 41 bilhões destinados a ressarcir um milhão e seiscentos mil credores.
Ascensão sem limites
Filho de empresário do ramo imobiliário, Vorcaro começou no mercado de educação e depois passou a trabalhar ao lado do pai. Aos 21 anos, protagonizou sua primeira grande aposta: um hotel de 37 andares no Centro de Belo Horizonte, projetado para a Copa do Mundo de 2014. O empreendimento, avaliado em mais de R$ 200 milhões, nunca foi concluído e se tornou símbolo de fracasso na capital mineira.
Após o episódio, ele ingressou no setor financeiro ao adquirir o antigo Banco Máxima, uma instituição já marcada por irregularidades. Em 2019, obteve autorização do Banco Central para se tornar banqueiro e rebatizou a instituição com um nome que refletia sua ambição: Banco Master. A estratégia era agressiva, com metas de expansão acelerada e forte exposição de marca no exterior.
O Master chegou a alugar espaços de prestígio em Miami e Londres, próximos de gigantes como Microsoft e Apple. Nenhuma das unidades chegou a operar de fato.
O luxo como cartão de visitas
Os sinais de ostentação eram constantes. Em Trancoso (BA), Vorcaro mantinha uma mansão avaliada em R$ 280 milhões, destinada a eventos exclusivos. Ele financiou um camarote de R$ 40 milhões na Sapucaí e realizou festas familiares com valores na casa das dezenas de milhões. Seu jatinho, apreendido na noite da prisão, custa cerca de R$ 200 milhões.
O esquema que abalou o mercado financeiro
A partir de 2023, o Banco Central identificou práticas irregulares no Master. A instituição vendia CDBs com taxas muito acima do mercado e utilizava os valores captados para adquirir ativos sem rentabilidade e em alguns casos, que nem sequer existiam.
A Polícia Federal descreve uma engenharia financeira fraudulenta estimada em R$ 12 bilhões nesta fase da investigação, com uso de empresas frágeis e endividadas para mascarar prejuízos.
Uma delas é a clínica médica Mais Médicos, em Contagem, na Região Metropolitana de BH. Com capital social de R$ 700 mil, ela emitiu R$ 361 milhões em notas comerciais ao banco entre 2021 e 2025. O único comprador desses papéis era um fundo cuja participação pertence ao próprio Master. A CVM apontou grave distorção contábil.
Outra unidade administrada pela mesma empresária, o Hospital São José, também teria emitido centenas de milhões de reais em títulos. O Ministério Público suspeita que a gestora atuava como laranja de Vorcaro. A defesa nega irregularidades.
Para investigadores, a intenção era melhorar artificialmente os indicadores financeiros da instituição e enganar investidores e órgãos reguladores.
Queda e liquidação
Com aprofundamento das apurações, o Ministério Público Federal classificou o caso como “um dos maiores crimes contra o sistema financeiro já documentados”.
Durante a operação da PF, foram cumpridos sete mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em vários estados. Poucas horas antes da prisão de Vorcaro, um consórcio de investidores dos Emirados Árabes havia anunciado interesse em adquirir o Master, negócio cancelado logo após o avanço das investigações.
Como resultado, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da instituição, bloqueou bens de ex-dirigentes e determinou que o FGC assumisse o ressarcimento aos credores.
A defesa
Em carta lida pelo advogado, Vorcaro alegou que não tentava fugir, afirmou ser vítima de perseguição e promete provar inocência no curso do processo.
Mesmo assim, sua prisão marca o fim de uma ascensão que misturou ambição ilimitada, risco calculado e, segundo os investigadores, fraude em escala inédita no Brasil.
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