Uma fiscalização realizada por equipes da Vigilância Sanitária e da , na Região Metropolitana de Belo Horizonte, revelou um cenário alarmante de abandono e risco à saúde em uma instituição de acolhimento. A inspeção foi realizada nesta quarta-feira (28), após denúncia feita por uma idosa de 86 anos, que vive no local há nove meses.
Durante a visita, os agentes encontraram carne estragada na cozinha, alimentos vencidos, fezes de rato nos quartos, paredes mofadas, esgoto a céu aberto, fiação elétrica exposta e forte odor de urina e fezes em diversos cômodos. A estrutura era improvisada, sem ventilação adequada ou qualquer condição mínima de conforto e higiene.
A idosa denunciante relatou maus-tratos e negligência. “Vai fazer nove meses que estou aqui. Eles dizem que o médico vem, mas nunca aparece”, contou, preferindo não se identificar.
A fiscalização também apontou sinais de um possível surto de leptospirose e escabiose (sarna) entre os internos. Três pessoas foram encaminhadas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA): uma com pressão alta, outra com feridas na pele e uma terceira, idosa, com dificuldades respiratórias.
A instituição, identificada como Lar Vovó Maris, abrigava 29 pessoas, entre idosos, dependentes químicos e pacientes com transtornos psiquiátricos. O local não possuía alvará de funcionamento e, mesmo após ter sido interditado em março deste ano, continuava operando ilegalmente. Segundo o superintendente de Vigilância Sanitária de Contagem, Wilson Carvalho, o abrigo responde a processo administrativo.
“É fundamental que os familiares verifiquem se o local tem autorização para funcionar antes de deixar seus parentes sob cuidados”, alertou Carvalho.
Histórico de denúncias e mortes
Nos últimos seis meses, pelo menos cinco denúncias de maus-tratos foram registradas contra o abrigo. A Polícia Civil investiga duas mortes ocorridas na instituição sob suspeita de negligência.
A primeira foi registrada em 13 de janeiro deste ano, quando o idoso Liberalino Cardoso e Morais morreu no local. O médico do Samu acionou a polícia após constatar sinais de maus-tratos. No local, os policiais encontraram ambiente insalubre, forte cheiro de fezes e urina, mofo nas paredes, janelas quebradas, esgoto a céu aberto e alimentos impróprios. A equipe de cuidadores era insuficiente: apenas duas funcionárias para mais de 30 idosos e ausência de plantão noturno.
A segunda morte ocorreu em 6 de maio. Na ocasião, a médica do Samu se recusou a emitir o atestado de óbito ao notar um ferimento suspeito na testa da vítima. Havia divergências entre os funcionários quanto à suposta queda que teria causado o trauma. A médica acionou o Instituto Médico Legal (IML) e citou possível omissão de socorro.
Outras irregularidades
Inspeções anteriores já haviam apontado diversas falhas. Em março, relatórios fotográficos da Vigilância Sanitária constataram armazenamento inadequado de roupas e alimentos no mesmo espaço, medicamentos vencidos misturados a materiais contaminados e carnes sem identificação de validade ou procedência.
A infraestrutura também apresentava pisos danificados, infiltrações, fiação exposta e banheiros em más condições, com barras de apoio soltas. Foram encontrados ainda geladeiras sujas, cupins em móveis, presença de insetos e armazenamento inadequado de medicamentos, fora da temperatura indicada.
O responsável pelo abrigo, Daniel Júlio Gomes, negou as acusações:
“É inverídico, não há maus-tratos aqui. A única situação foi uma funcionária que gritou com um idoso, mas ela foi demitida. Estávamos em processo de reforma e adequação”, afirmou.
A Polícia Civil segue investigando o caso, e a prefeitura informou que tomará as medidas legais cabíveis.
Nota oficial da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG)
Na quarta-feira (28), a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), em parceria com a Guarda Civil Municipal de Contagem, Vigilância Sanitária, Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, Secretaria de Desenvolvimento Social, Secretaria de Saúde e outras equipes da Prefeitura, realizou diligências em um lar de longa permanência situado no bairro Eldorado.
No local, foram constatadas diversas irregularidades, como insalubridade, medicamentos vencidos e ausência de condições mínimas de acolhimento. Cerca de 29 idosos estavam institucionalizados, e três foram removidos para atendimento médico. As famílias foram acionadas para acompanhamento e acolhimento.
Durante a ação, a filha de um idoso informou que o cartão de benefício do pai estava sob posse da instituição. Um homem de 42 anos foi conduzido à delegacia, ouvido e autuado em flagrante por maus-tratos e apropriação indébita. Ele está à disposição da Justiça.
A investigação prossegue sob responsabilidade da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Contagem.
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