Morre Nero, cabeleireiro que abriu o primeiro salão unissex de BH

O cabeleireiro Nero, pioneiro ao abrir o primeiro salão unissex de Belo Horizonte, morreu nesta segunda-feira (10), aos 77 anos. O profissional estava internado no Hospital das Clínicas da UFMG desde dezembro e a causa do falecimento não foi divulgada.

Natural de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, Nero Luiz de Almeida, como era conhecido, chegou à capital mineira em 1968 para se especializar no centenário Salão Escola Bom Pastor. No ano seguinte, inaugurou seu salão na Galeria Ouvidor, tornando-se referência na cidade.

A Galeria Ouvidor se consolidou como um dos principais centros comerciais de Belo Horizonte, muito em parte pelo sucesso do salão de Nero, que funcionou por mais de cinco décadas. O cabeleireiro trouxe inovação ao misturar clientela masculina e feminina em um mesmo espaço, algo ainda raro na época.

Além de cabeleireiro, Nero atuou como artista performático, imitando e dublando cantoras famosas em casas voltadas para o público LGBTQIAPN+. Nas décadas de 1970 e 1980, também conquistou espaço em estabelecimentos frequentados por heterossexuais.

Em 2007, ele recebeu da Câmara Municipal o título de cidadão honorário de Belo Horizonte.“Esta homenagem representa mais um avanço contra o preconceito e a aceitação do nosso trabalho. É um sinal de que o respeito ao homossexual melhorou bastante nesses últimos anos, mas isso não quer dizer que atingimos o ideal. Por outro lado, é uma coisa inédita: um homossexual assumido ganhar um título desses do poder público”, declarou à época.

O pesquisador Luiz Morando, que pesquisa as memórias da sociabilidade LGBTQIAPN+ de Belo Horizonte entre 1946 e 1989, destacou a importância de Nero para esta comunidade em BH. “As pessoas formavam filas para cortar o cabelo com ele. Ele também embaralhou mentes com sua beleza e comportamento disruptivo”, afirmou.

Nero será velado nesta terça-feira (11). A trajetória marcante do profissional deixa um legado tanto para o ramo da beleza quanto para a luta por dignidade e respeito à diversidade.