Dois dias após o homicídio de uma jovem de 19 anos, no Aglomerado do Papagaio, região Centro-Sul de Belo Horizonte, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) cumpriu, nessa terça-feira (12), mandado de prisão contra o suspeito de ser o autor do crime. A vítima era filha da ex-companheira do investigado.
O homicídio ocorreu no último domingo (10), durante visita da jovem à família para comemorar o Dia das Mães. Apesar de estarem separados há dois anos, o suspeito e a mãe da vítima viviam na mesma casa. Os dois foram casados por 10 anos, mas o investigado se negava a deixar a casa sendo, inclusive, sendo sustentado pela ex-mulher. O casal tem dois filhos dessa relação.
Durante declarações o suspeito alegou ter cometido o crime porque a ex-enteada era muito rebelde e não se portava bem, em mais uma tentativa de depreciar a vítima.
De acordo com a Delegada do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídio Ingrid Estevam, que preside o inquérito, as desavenças entre padrasto e enteada começaram no início do relacionamento da mãe com o suspeito, quando a vítima tinha apenas nove anos. Ela chegou a sair de casa para morar com a avó. Quando completou 14 anos, ela conheceu o namorado com quem morava até o dia do crime.
Segundo depoimentos de testemunhas, ao completar 18 anos, a vítima contou para familiares que chegou a sofrer assédios por parte do suspeito, quando ainda era criança, motivo que originou o conflito entre ela e o suspeito e a decisão em sair de casa.
Ainda conforme relatos de testemunhas, o suspeito nutria profundo desprezo pela vítima se referindo a ela como fruto do pecado, por ser filha de outro relacionamento da ex-companheira. Ele dizia também que um dia iria matá-la com uma faca, já que poderia se apresentar-se três dias depois à polícia e nada aconteceria com ele.
Após a separação, a ex-companheira do suspeito teria conhecido outro homem com que teve uma filha. Segundo depoimentos, essa criança também era tratada com desprezo pelo investigado. Durante essa gravidez, ele teria tentado matar a ex-companheira, que preferiu não registrar ocorrência do fato. Em determinada ocasião, ele teria orientado um dos filhos que esfaqueasse a criança quando ela estivesse no berço.
Dinâmica dos fatos
No dia do crime, a vítima foi à casa da família em razão do Dia das Mães. O namorado dela ainda pediu que ela não fosse, temendo conflitos com o ex-padrasto. Aproveitando-se de uma distração da vítima, o suspeito chegou por trás e desferiu um golpe de facão contra o pescoço da jovem. A perícia da PCMG verificou que foi um único golpe na nuca, aplicado com extrema violência, cortando grande extensão do pescoço da vítima.
Feminicídio na capital
Durante coletiva de imprensa, o Chefe da Divisão Especializada em Investigação de Crimes Contra a Vida (DICCV), Delegado Emerson Morais, ressaltou a necessidade de denunciar casos de violência doméstica para devidas providências legais por parte das forças policiais e do Ministério Público. Em 2019, dos 19 feminicídios registrados na capital, em apenas um caso a vítima possuía medida protetiva.
De todos registrados, 98% foram apurados pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídio, com 13 prisões, cinco autoextermínio dos autores e um foragido. Ainda segundo os levantamentos, 98% das vítimas tinham parentesco com o autor, sendo a maioria dos crimes cometidos dentro de casa e durante o dia.
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