Sensibilizado com a situação vivida pela população, o diretor-geral do Presídio de Abre Campo, Leandro Freitas, solicitou ao juiz da Vara de Execuções Penais da comarca a liberação de presos para o trabalho de limpeza das ruas da cidade. O pedido foi prontamente atendido pelo magistrado Bruno Camêlo, que concedeu, inicialmente, autorização para saída com o benefício da remição de pena – a cada três dias de trabalho, um é diminuído da pena – para 16 custodiados.
“A cidade ficou completamente destruída. Todo o centro comercial ficou alagado e dezenas de comerciantes perderam praticamente tudo. Estou aqui há sete anos e tenho carinho por este município. Poder ajudar de alguma forma neste momento é muito recompensador. Tivemos o apoio da prefeitura, do Judiciário e de parceiros do sistema prisional”, relata o diretor-geral da unidade. Segundo ele, a prefeitura concede as ferramentas necessárias e o almoço dos internos, que trabalham de 8h às 16h.
Os moradores de Abre Campo já podem ver o resultado da parceria nas ruas. As atividades executadas por presos começaram na segunda-feira (27/1), inicialmente com o trabalho dos 16 custodiados autorizados. No dia seguinte, outros 17 internos receberam permissão para se juntar ao grupo, totalizando 33 presos trabalhando nas ruas centrais do município. A tarefa somente será finalizada quando todo o entulho e a lama forem removidos.
Preso desde 2010, Julimar Costa Moreira é um dos custodiados participantes da força-tarefa. “É o mínimo que posso fazer. Poder fazer algo realmente útil é o que chamo de processo de ressocialização. Somos pessoas condenadas que precisam de uma oportunidade para fazer algo na intenção de melhorar cada vez mais. Quando ajudamos famílias de outras pessoas, temos a sensação de estar ajudando a nossa própria família. É muito gratificante”, diz.
Além dos detentos, moradores contam também com a presença diária dos policiais penais, responsáveis pela escolta dos internos. A ajuda vem de todos os lados: da custódia e da ressocialização, os dois pilares do Departamento Penitenciário de Minas Gerais, pertencente à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Para Fabiano Martins, servidor do sistema prisional que acompanha a execução dos trabalhos, a gratidão em poder ajudar a população é palavra de ordem.
“Temos que agradecer porque não perdemos nenhuma vida. Trazer presos para ajudar na recuperação das ruas e na limpeza das casas de pessoas que perderam praticamente tudo causa uma sensação inexplicável de gratidão. As pessoas nos recebem com sorriso no rosto, apesar do turbilhão de problemas que enfrentam. Os presos também ficaram satisfeitos e estão muito dispostos a ajudar. Toda a população está contentada e agradecida ao Depen”, afirma o policial penal.
Ponte Nova
Em Ponte Nova, a situação é similar. Para auxiliar na limpeza das ruas depois da cheia do Rio Piranga e dos ribeirões Vau-Açú e Oratórios, foram acionados 22 presos – que trabalham em uma parceria da prefeitura com o Complexo Penitenciário local – para fazer a remoção de lama e limpeza das vias. Os internos já tinham autorização judicial para trabalhar na parceria e fazem parte da equipe de funcionários que realizam a limpeza e manutenção de praças e ruas de Ponte Nova.
Segundo a diretora de Atendimento do Complexo Penitenciário do município, Aline de Araújo, os internos estão sendo muito bem recebidos por todos. Foram eles, também, que ajudaram no deslocamento de idosos e no transporte dos mobiliários e roupas de um asilo que foi atingido. “Eles estão fazendo a diferença. Devido ao efetivo reduzido de servidores da própria prefeitura, os internos conseguem ajudar bastante. Estamos muito satisfeitos com a parceria e em saber que eles estão sendo importantes para a cidade”, afirma.
Manhumirim
Nesta quarta-feira (29/1), cinco presos que cumprem pena em Manhumirim começaram a prestar os mesmos serviços no município. A cidade também foi bastante atingida pelas chuvas. O poder Judiciário, em parceria com o presídio, concedeu autorização para a saída dos internos.