Após 60 dias de intenso trabalho, a Polícia Civil de Minas Gerais (MG) concluiu inquérito que apurou casos de tortura e maus-tratos dentro de um asilo particular, em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao todo, um inquérito com mais de mil páginas e seis pessoas indiciadas, sendo quatro pessoas membros da mesma família.
Durante esse tempo de investigação, mais de 50 pessoas foram ouvidas e inúmeras provas documentais foram produzidas. De acordo com a Delegada Bianca Prado, os números impressionam. “Com os levantamentos, foi possível catalogar 76 vítimas, sendo que 18 vieram a óbito em razão dos maus-tratos. Também foi constatada a ocorrência de crimes sexuais contra dois internos, sendo uma cadeirante, de 23 anos, e um idoso, de 70, explicou a Delegada. ¿Sabemos que muitas vitimas ainda não foram identificadas por ausência de documentação do asilo. A maioria das provas coletadas foi através de prontuários cedidos pelos hospitais, relações cedidas pelo cemitério de Santa Luzia e relatos de familiares”, acrescentou.
De acordo com as investigações, as mortes foram causadas ou aceleradas por total falta de cuidado dos responsáveis pelo asilo. “As medicações não eram ministradas, a higiene era precária e as feridas não eram tratadas. Depois de realizadas perícias médicas, verificou-se que muitos internos estavam desnutridos e desidratados. Havia uma privação de alimento e água para eles, que chegava a três dias. O que vimos ali nunca se viu na história da Santa Luzia”, desabafou a Delegada.
O início
Em julho deste ano, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) apurou grave denúncia de maus-tratos contra internos de um asilo e prendeu, em flagrante, a proprietária Elizabete Lopes Ferreira, 47 anos, e a filha Poliana Lopes Ferreira, 27. O alvo da ação policial foi uma instituição particular que abrigava cerca de 50 idosos e pessoas com dificuldade de locomoção, no bairro Barreiro do Amaral, em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na época dos fatos, a clínica não possuía Alvará de Localização e Funcionamento e foi interditada pela Prefeitura.
Segundo a Delegada Bianca Prado, chegou ao conhecimento da PCMG que os internos do asilo seriam vítimas de agressões e violência psicológica. Inclusive, dias antes, um dos idosos teria falecido ao dar entrada no hospital, com quadro de desidratação. A partir do momento que tomaram conhecimento, policiais civis foram ao asilo e lá puderam verificar que as denúncias eram procedentes, sendo constatadas tortura física e mental.
A Delegada constatou ainda que havia internos de castigo, privados de alimentação, outros com estado de saúde debilitado, além de um ambiente insalubre, com uma fossa transbordando, onde eles passavam. Diante desse cenário, a PCMG acionou a Prefeitura para encaminhar as vítimas ao médico e tomar demais providências cabíveis. Imediatamente, sete foram levados para o hospital com quadros de suspeita de fratura, pneumonia, glicemia e pressão alteradas, ferida profunda e até mesmo uma idosa com afundamento craniano, resultado de uma agressão recente.
A partir deste momento, as investigações se intensificaram até chegar ao resultado final: seis pessoas indiciadas. Dois vão responder pelo crime de tortura.