Por Dentro de Minas (MG)

Aprovada em nove universidades dos EUA, jovem pede doação para viagem

Selecionada em um programa da Universidade de Harvard, em 2014, e aprovada em nove instituições de ensino norte-americanas, a estudante baiana Georgia Gabriela da Silva Sampaio, de 19 anos, escolheu a Stanford University, na Califórnia, para nos próximos quatro anos desenvolver os trabalhos de pesquisa iniciados no Brasil. Com a viagem marcada para o dia 12 de setembro, a jovem moradora de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, lançou campanha de arrecadação online, a fim de levantar o dinheiro necessário para poder arrumar as malas e embarcar para os Estados Unidos (EUA).

Georgia Gabriela traçou uma tabela de custos que esboça gastos com passagens, materiais de estudo, taxas burocráticas, exames médicos e vestimentas. No total, o valor de investimento necessário para a viagem passa dos US$ 6.000, mais de R$ 19 mil. A estudante explica que a família não tem condições de arcar com os gastos. “O valor ficou alto para o curto espaço de tempo. Por isso, fiz o Patreon [serviço que permite doação pela internet]. Ele é ótimo. Permite que a pessoa que doa acompanhe o que você está fazendo. Você pode pegar os contatos. Existe troca, um acompanhamento”, explica.

A dois meses da viagem, Georgia argumenta que as doações irão permitir a continuação de um projeto que pode ajudar milhares de mulheres.  Ela pesquisa um método mais barato, por meio de exame de sangue, que seja capaz de diagnosticar a endometriose. A doença provoca cólicas, dor no fundo da vagina e desconforto durante a relação sexual, além de ser a principal causa de infertilidade feminina.

Na Stanford University, a estudante tem a opção de escolher as disciplinas que pretende cursar e, após dois anos, decidir qual o curso de graduação escolhido para a formação. Georgia antecipa interesse pelos cursos de engenharia biomédica e biomecânica, que devem dar suporte às pesquisas que desenvolve. “A universidade respira inovação e criação”, justifica a escolha entre as nove universidades selecionadas. Confira aqui um vídeo onde a estudante fala sobre a pesquisa que desenvolve.

Além da pesquisa sobre endometriose, Georgia também espera deixar outra marcar na Stanford. “Quando estive lá [abril], um grupo de mulheres negras veio falar comigo. Elas falavam sobre a falta de representatividade negra lá dentro. Eu estava reclamando desse problema aqui [no Brasil] e isso também existe lá. Infelizmente, foi assim que a história se deu. Fico feliz por poder, de alguma formar, diminuir isso”, avalia.

Das nove universidades em que foi aprovada, Georgia visitou quatro após ter a viagem custeadapor uma instituição bancária de Feira de Santana. Além da Stanford, ela conheceu a Yale, Columbia e Duke. As visitas ocorreram no mês de abril.

Geórgia Gabriela (Foto: Arquivo Pessoal)Geórgia Gabriela foi aprovada em nove
universidades dos EUA (Foto: Arquivo Pessoal)

Aprovação
Georgia Gabriela foi aprovada em nove universidades norte-americanas. As aprovações, que saíram em março, é o resultado de dedicação aos estudos e determinação. “Eu estudava das 8h às 19h voltada para essas provas. Lia livros, pesquisas. Me inscrevi em atividades extra-curriculares, que contam para aprovação. Em vez de música, ouvia palestras em inglês quando voltava para casa”, relata.

A jovem foi aprovada nas universidades de Stanford University, Minerva, Duke University, Northeastern University, Middlebury College, Yale University, Columbia University, Dartmouth College e Barnard College. Na última segunda-feira (6), Georgia Gabriela já recebeu proposta de bolsa integral de uma das instituições estrangeiras durante entrevista por meio da internet.

“A maioria das entrevistas ocorre durante o processo de candidatura ainda. A Dartmouth College me ofereceu uma bolsa integral, que é uma bolsa de mérito, que não paga só o curso, como também outras coisas. Segunda-feira eu conversei com essa universidade e ainda vou conversar com outras, mas a maioria foi antes do resultado”, conta.

A jovem esteve em Harvard, nos EUA, para
apresentar pesquisa  (Foto: Arquivo Pessoal)

Dedicação
O processo de candidatura da jovem começou em abril do ano passado. A primeira vez em que fez o processo para ser aprovada nas instituições foi no final de 2013, quando concluiu o ensino médio. Porém, problemas de saúde impediram que a jovem alcançasse o objetivo naquele momento, o que não impediu nova tentativa.

“Eu não dei 100% de mim naquele ano. Perdi a Unicamp. Eu tinha a vaga na UFRJ, mas resolvi para tentar de novo. Eu procurei meu antigo colégio e eles me ofereceram o ambiente da escola, o transporte de ida e volta, alimentação para ficar lá e pagaram minhas taxas das provas, o que facilitou muito”, relata. Georgia Gabriela se candidatou em 15 instituições. No Brasil, a estudante passou na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao ser perguntada sobre qual a motivação para estudar fora do país, Georgia Gabriela revela que o fato das instituições norte-americanas possibilitarem pesquisas individuais e criação de projetos durante a graduação foi determinante. Para ela, o valor da bolsa disponibilizada também é um dos fatores que vai pesar na hora em que escolher a universidade, pois a família não possui condições para custear a jovem no exterior.

Georgia Gabriela destaca que a conquista requer muito trabalho, mas valeu a pena. “A mensagem mais importante disso tudo é que não se pode desistir que coisas que pareçam estar além do alcance. É tentar alcançar o impossível, que só se mantém impossível quando não se tenta. Comecei a aprender inglês sozinha, com 12 anos, porque eu gostava de músicas em inglês. A pesquisa, por exemplo, me ajudou na candidatura. É possível fazer além do que é posto. Se permitir tentar, arriscar, ir além, não é fácil, requer muito trabalho, muito esforço, mas vale muito a pena”, conclui.

Em Harvard, Georgia Gabriela posou ao lado de Raíssa Muller, que também teve pesquisa selecionada em concurso (Foto: Arquivo Pessoal)
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