A educação básica brasileira passou por um grande desafio durante a pandemia de COVID-19. Com escolas fechadas, os alunos tiveram de se adaptar ao ensino remoto, em um país onde a realidade digital ainda está longe de ser a ideal. Estudo do Instituto DataSenado avaliou, à época, os impactos, refletidos principalmente na falta de estrutura. E, para superar esse desafio, cresce, cada vez mais, a procura pela aprendizagem socioemocional como um facilitador ao aluno. Os impactos dessa adoção já são refletidos no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado em agosto passado, em diversas cidades brasileiras.
É o caso de municípios como Barretos, no interior paulista, que saltou de 6,2, no Ideb 2021, para 7,2 no levantamento mais recente, de 2023, além de Campos dos Goytacazes (de 4,7 para 5,4) e Angra dos Reis (de 5,5 para 5,7), ambas do Rio de Janeiro. Essas cidades têm em comum a aplicação de metodologias socioemocionais, que ajudam os alunos dos anos letivos iniciais no desenvolvimento como um todo, a partir de jogos e atividades que estimulam fatores como a capacidade de raciocínio lógico, o trabalho em equipe, a resolução de problemas, entre outros.
Para Thiago Zola, mestre em Educação e Head de Produtos da Mind Lab, plataforma de transformação social responsável pelo Programa MenteInovadora, voltado ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais a partir de conteúdos e dinâmicas próprias, a técnica representa um modelo de educação ideal para os desafios contemporâneos. “A aplicação de metodologias que incentivam o socioemocional cresce cada vez mais pela necessidade do ensino público brasileiro em melhorar a qualidade da educação. Essas técnicas oferecem oportunidades para que os estudantes aprimorem suas habilidades, tanto em sala de aula, quanto na vida pessoal, os auxiliando na capacidade de tomada de decisão, liderança, resiliência, atenção, entre outras qualidades essenciais”.
A partir de uma metodologia baseada em três pilares: jogos de raciocínio, métodos metacognitivos e professor mediador, explorando os recursos da metodologia com ações intencionais, o Programa MenteInovadora está alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e conta com o apoio dos professores para a aplicação em sala de aula. Ao todo, já foram impactados com a metodologia mais de 7,3 milhões de alunos, além de 210 mil professores capacitados em 17 estados brasileiros. Hoje, uma das principais cidades a contar com o Programa é Recife, em Pernambuco.
A importância do desenvolvimento desde a primeira infância é tema de estudos internacionais. O professor emérito de economia “Henry Schultz” da Universidade de Chicago, ganhador do Prêmio Nobel de Economia e especialista em economia do desenvolvimento humano, James J. Heckman, é responsável por um estudo que revela a importância da atenção às crianças até 6 anos, que é o período de maior potencial para criar habilidades como a atenção, motivação, autocontrole e sociabilidade. A análise do programa “Perry Preschool”, feita por Heckman, mostra um retorno sobre o investimento de 7% a 10% ao ano, com base no aumento da escolaridade e do desempenho profissional, além da redução dos custos em temas como reforço escolar, saúde e gastos do sistema de justiça penal, por exemplo.
“Como provam os estudos de Heckman, o investimento em educação é fundamental para, não só construirmos cidadãos mais capacitados para os desafios modernos de sociabilidade e empregabilidade, por exemplo, mas também para garantir um destino melhor a todas elas, o que impacta no social como um todo. Investir, hoje, em técnicas como a aprendizagem socioemocional pode representar uma economia em investimentos em segurança e sistema prisional no futuro, além de garantirmos avanços em outras áreas, como qualidade de vida, longevidade, renda per capita, enfim, termos indicadores ideais dos países desenvolvidos”, argumenta Thiago.
Referência internacional quando o assunto é qualidade de ensino, Singapura é o país mais bem classificado no Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes, o Pisa. A pequena nação asiática viu seus indicadores evoluírem a partir de uma grande renovação na educação. “O Brasil precisa estar atento aos bons exemplos e incentivar cada vez mais a adoção de ferramentas eficazes na melhoria do ensino. O desenvolvimento socioemocional é a chave para acelerar esse processo e transformar a vida de milhões de estudantes”, conclui Thiago.
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