A fotografia japonesa sempre exerceu influência no cenário artístico mundial, abrangendo diferentes gêneros e técnicas, tendo como referências nomes como Daido Moriyama (1938), Ken Domon (1909-1990), Nobuyoshi Araki (1940) e Eiji Ohashi (1955). Em um campo historicamente dominado por homens, a contribuição das mulheres, embora igualmente expressiva, ainda enfrenta desafios.
O World Press Photo, reconhecido como uma das premiações dos mais importantes do segmento, laureou apenas três mulheres em seu prêmio principal, desde a sua fundação em 1955 até 2019, representando menos de 5% dos vencedores. Já informações divulgadas em 2018 pela Women Photograph, iniciativa on-line que reúne mais de 850 fotógrafas documentais de todo o mundo, indicam que apenas 15% dos fotojornalistas em atividade são mulheres.
Nesse cenário, profissionais nipônicas de diferentes gerações, como Mikiko Hara (1967), Rika Noguchi (1971), Rinko Kawauchi (1972), Yurie Nagashima (1973), Tokuko Ushioda (1940), Miyako Ishiuchi (1947), Momo Okabe (1981) e Mari Katayama (1987), desenvolvem trabalhos que inspiram mais mulheres a adentarem o universo da fotografia, trazendo suas próprias perspectivas e vivências para explorar diferentes aspectos da experiência humana. Entre os temas recorrentes em seus projetos, a vida cotidiana no Japão – reflexo das mudanças culturais e sociais do país – ocupa uma posição central.
Com uma abordagem minimalista, Miyako Ishiuchi explora principalmente a efemeridade e a imperfeição, documentando memórias e aspectos históricos do Japão por meio de suas lentes. Um de seus projetos mais conhecidos é a série “Mother’s” (2000), na qual retrata objetos pessoais de sua própria mãe, que trabalhou como motorista de caminhão no Japão durante a Guerra Sino-Japonesa. Suas fotografias evocam uma intimidade póstuma, como se os objetos mostrados fossem capazes de resgatar o toque humano.
Assim como Miyako, Mikiko Hara é conhecida pelo olhar espontâneo e sutil ao capturar as efemeridades da vida urbana, tirando fotos, muitas vezes, sem que os sujeitos percebam. Dessa forma, ela cria narrativas visuais apostando no acúmulo de acasos, com passantes indiferentes e cenários fugazes.
A relação entre o ser humano e a natureza ganha destaque nas imagens de Rika Noguchi, vencedora do Prêmio New Cosmos of Photography (1996) e do Prêmio de Incentivo à Arte para Novos Artistas do Ministério da Educação Japonês (2002). Seu estilo fotográfico baseado em paisagens serenas e minimalistas, ganha dimensão nas séries “Records of Creation” (1993-1996), “Seeing Birds” (1997) e “To Dive” (1995).
Já Yurie Nagashima ganhou destaque na década de 1990 pelas fotografias que exploram temas ligados à identidade, gênero e dinâmica familiar: desde nus espontâneos até momentos carinhosos ao lado do filho pequeno. Em seus trabalhos, ela usa a fotografia para questionar a maneira como as mulheres eram tradicionalmente retratadas em contextos sexualizados.
Dentro do universo de identidade de gênero e sexualidade, outra expoente é Momo Okabe. Em seu trabalho, ela frequentemente documenta a vida de indivíduos marginalizados sob uma abordagem crua e intimista, buscando aproximar os espectadores das experiências pessoais que retrata em suas fotos.
Artista multidisciplinar que incorpora fotografia, artesanato, instalações e performances em seus trabalhos, Mari Katayama nasceu com hemimelia tibial, uma condição congênita que a levou a amputar ambas as pernas aos 9 anos de idade. Hoje, ela utiliza seu corpo como tema central de seus autorretratos, por meio dos quais explora conceitos de identidade, beleza e vulnerabilidade.
Conhecida pela estética onírica e simples de seus cliques, Rinko Kawauchi cria narrativas visuais sobre cenas e emoções do cotidiano. Seu estilo, marcado pelo uso de cores suaves e composições delicadas, ganhou reconhecimento internacional em 2022, ao ser laureada com o Prêmio Mundial de Fotografia da Sony por sua contribuição à área. Em 2007, seu trabalho foi exibido no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Em 2024, Rinko convidou a veterana Tokuko Ushioda – cuja abordagem detalhista instiga o espectador a uma observação reflexiva do mundo ao redor – para participarem juntas do festival internacional de fotografia “Kyotographie”, realizado anualmente na cidade de Quioto, no Japão.
Atualmente, as séries “Cui Cui” e “as it is”, de Rinko, e “ICE BOX” e “My Husband”, de Tokuko, estão em exibição na mostra “A vida que se revela“, na Japan House São Paulo, até 13 de maio de 2025, marcando a primeira exposição de Tokuko na América Latina.
Enquanto “Cui Cui” documenta, ao longo de 13 anos, momentos da família de Rinko – desde o casamento de seu irmão, o falecimento de seu avô e o nascimento de seu sobrinho –, as imagens de “as it is” narram os três primeiros anos de vida de sua filha. Em paralelo, na série “ICE BOX” Tokuko registra a intimidade de famílias de parentes e amigos por meio de retratos de suas geladeiras, oferecendo uma perspectiva única sobre a vida doméstica e as conexões familiares ao longo de 22 anos. Já em “My Husband”, ela compartilha cenas do cotidiano com seu marido e filha, registradas em um pequeno apartamento durante os anos 1970.
Todas as oito artistas foram citadas na publicação “I’m So Happy You Are Here: Japanese Women Photographers from the 1950s to Now” (2024), que celebra a contribuição das fotógrafas japonesas desde a década de 1950 até os dias atuais. Elas também foram assunto durante a palestra apresentada na Japan House São Paulo, com participação de Totuko Ushioda, em sua passagem pelo Brasil, e do fotógrafo e pesquisador Lucas Gibson.
Serviço:
Exposição “A vida que se revela”
Local: Japan House São Paulo – Avenida Paulista, 52 – São Paulo/SP
Período: 19 de novembro de 2024 a 13 de abril de 2025
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h.
Entrada gratuita. Agendamento antecipado opcional.
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