O diabetes mellitus (DM) impacta a vida de milhões de brasileiros e, sendo uma doença crônica não transmissível, faz com que o cuidado com a saúde bucal seja de extrema importância para todos os pacientes. Dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF) apontam o Brasil como o 6º país em incidência da doença. A estimativa é que 10% da população brasileira adulta tem diabetes, sendo a maioria mulheres, conforme dados da pesquisa Vigitel Brasil 2023 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico).
Causador de múltiplos danos à saúde, o diabetes acontece quando o corpo não produz a quantidade suficiente de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, ou nos casos em que existe uma perda de sensibilidade das células em relação à insulina, ocasionando aumento dos níveis de glicose no sangue – que trazem prejuízo aos processos de cicatrização e de imunidade do paciente.
A presidente da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Juliana Franco, explica que existem vários tipos de diabetes mellitus, sendo os tipos 1 e 2 os mais comuns. O DM tipo 1 apresenta diagnóstico na infância, devido a não produção de insulina pelo pâncreas (caso em que o paciente deve realizar aplicações de insulina), enquanto o DM tipo 2 manifesta um quadro clínico de resistência insulínica, sendo observado em pacientes adultos, com tratamento de medicamentos hipoglicemiantes orais. Independentemente do tipo de diabetes que o paciente apresenta, a falta de controle glicêmico causa inúmeros danos ao organismo, como doença renal crônica, perda de visão e amputações de membros.
A especialista alerta sobre a importância do cirurgião-dentista na aferição dos sinais vitais antes do início da consulta, com a medição da pressão arterial e realização da glicemia capilar, também chamada de dextro. “O profissional pode aferir a glicemia do paciente, tendo uma possível hipótese de casos de diabetes e encaminhá-lo ao colega médico para o diagnóstico definitivo e início do tratamento”, explica a Dra. Juliana Franco.
De acordo com a cirurgiã-dentista, é importante se atentar aos sinais que possam se enquadrar no diabetes, como os sintomas de dormência nos lábios, na língua e na face. Estima-se que, no Brasil, 32% da população não sabe que tem a doença.
Dessa forma, a presidente da Câmara Técnica de OPNE orienta que o tratamento para diabetes seja feito por meio da normalização dos níveis de glicose, isso inclui mudanças no estilo de vida e uso de insulina ou de medicamentos orais que são importantes para o controle glicêmico.
Odontologia e diabetes
A Dra. Juliana alerta que todo foco de inflamação da infecção periodontal ou periapical aumenta o risco das infecções respiratórias e de doenças cardiovasculares. Também aumenta o risco de descompensação do controle glicêmico, pode promover parto prematuro e levar a uma disbiose intestinal, o que mostra a necessidade de se entender a importância da saúde bucal no contexto de saúde geral.
Outro ponto que a profissional chama atenção é que o DM descompensado aumenta o risco de doenças bucais, como a doença periodontal, que pode se apresentar ampliada neste grupo de pacientes — causando um círculo vicioso, em que a doença bucal descompensa o quadro glicêmico, e este leva ao aumento da atividade da doença periodontal, assim como no aumento no número de cárie, hipossalivação e de infecções oportunistas bucais.
A especialista esclarece que pacientes que apresentam focos de infecção ou de inflamação vão modular a doença e impactar de forma negativa no controle glicêmico. Segundo ela, pacientes que apresentam uma condição bucal insatisfatória, com múltiplos focos de infecção, mesmo com aderência ao tratamento médico, fazendo dieta, exercício físico e uso de medicamentos, podem apresentar dificuldade de controle glicêmico e controle dos sinais e sintomas da doença. A avaliação e o tratamento odontológico, reforça a cirurgiã-dentista, são importantes no paciente diabético porque melhoram a condição periodontal, removem os focos de infecção bucal e devolvem a saúde bucal, possibilitando que o organismo tenha condição de estabilização do quadro glicêmico.
“Hoje a gente sabe da importância do tratamento odontológico na remoção de focos de infecção e na compensação do diabetes. Quando se tem um paciente que apresenta múltiplos focos de infecção, isso vai impactar na descompensação da doença”, diz.
A atuação na clínica odontológica
Conforme alerta a Dra. Juliana, pacientes portadores de doenças crônicas não transmissíveis, devem, antes do atendimento, fazer a aferição dos sinais vitais: pressão arterial e da glicemia capilar. “Vale ressaltar que, mesmo que a diabetes esteja descompensada, é importante realizar o tratamento odontológico, pois ele também faz parte do tratamento da doença, principalmente para auxiliar em sua compensação”, observa.
Sendo assim, é de extrema importância que os pacientes com diabetes façam consultas regulares com o cirurgião-dentista, independentemente da condição de compensação da doença ou não, para que seja mantida a saúde bucal e melhora da condição sistêmica do paciente.
“A Odontologia tem papel importante no diagnóstico precoce de diabetes e no tratamento odontológico, modificando a doença em si e ajudando o paciente na diminuição das sequelas que ela provoca”, conclui a Dra. Juliana Franco.
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