Quando as primeiras agulhas de costura surgiram, cerca de 20 mil anos atrás, as roupas eram utilizadas apenas com o intuito de proteger as pessoas de intempéries como neve, chuva e sol. Com o passar dos séculos, passaram a representar símbolos de poder e status social, até que a Revolução Industrial fez com que a produção massificada de produtos se intensificasse, popularizando a moda como forma de expressão, arte, e, mais tarde, como parte importante das diversas culturas e economias do mundo.
Fundamental para entender contextos sobre os diferentes períodos históricos, a moda se tornou parte intrínseca ao cotidiano, sendo uma expressão de estilo de vida, opiniões, círculos sociais, representando diferentes nichos e conectando as pessoas com escolhas similares. Desde os primeiros alfaiates e costureiros até os atuais designers de moda, a influência dos ambientes que frequentavam e gostos pessoais muitas vezes impactaram suas criações, evidenciando cada vez mais essa pluralidade sociocultural existente por todo o mundo, intensificada com a globalização.
Um dos grandes tradutores de referências locais e influências estrangeiras no Brasil é o designer paulistano Alexandre Herchcovitch, que se consolidou no mundo da moda em meio às noites na cidade de São Paulo, utilizando elementos popularizados por drag queens e pela cena LGBTQIAP+ no final da década de 1990 e início dos anos 2000 em suas criações. Parte de seu trabalho está em exibição na mostra “Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda” no Museu Judaico, em São Paulo. A exposição apresenta uma retrospectiva de sua carreira até os dias atuais, destacando criações do designer inspiradas em elementos do sadomasoquismo e no inconformismo com os papéis de gênero, quebrando padrões da época e chocando pessoas que não frequentavam os mesmos espaços que ele.
Além de representar a cultura e diferentes nichos socioeconômicos, a moda também tem a capacidade de evidenciar mudanças que aconteceram em diferentes partes do mundo, tornando-se um meio “vivo” de registro histórico. No Japão, por exemplo, as pessoas voltaram seus olhares para o ocidente após o fim da Segunda Guerra Mundial, em busca de inspirações na cultura norte-americana. Nesse cenário pós-guerra, a moda japonesa foi tomada por vestidos rodados de botões, ternos e gravatas, em detrimento dos tradicionais quimonos, muito utilizados até então. Algumas adaptações também são fruto dessa influência, como a utilização dos tecidos dos quimonos para a confecção dos vestidos em cortes e modelos ocidentalizados. Com o passar do tempo, as tradições nipônicas foram reincorporadas no cotidiano, transformando a cultura e a moda local em uma mistura entre o oriental e o ocidental que perdura até os dias atuais.
Essas e outras mudanças presentes tanto na moda das ruas japonesas quanto nas passarelas entre os anos 1950 e 2020 são o fio condutor das exposições “Efeito Japão: moda em 15 atos” – que reúne quinze looks, incluindo estilistas japoneses renomados internacionalmente, como Issey Miyake, Hanae Mori, Kenzo Takada e Kansai Yamamoto -; e “Sutorito Fashion: moda das ruas”, com mais de 100 registros fotográficos que retratam as vestimentas de pessoas pelas ruas do Japão, especialmente na região de Harajuku, no distrito de Shibuya, em Tóquio, ambas em cartaz na Japan House São Paulo.
Seja para retratar mudanças históricas e tecnológicas, ou para expressar gostos, opiniões e posicionamentos de grupos sociais específicos, a moda é um mecanismo importante no âmbito das transformações culturais e que agora vem ganhando espaço dentro de exibições abertas ao público em grandes instituições culturais da cidade de São Paulo.
Serviço:
Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Horário de funcionamento: de terças, quartas, sextas, sábados e domingos, das 10h às 18h e quintas-feiras, das 12h às 21h.
Ingressos: de R$10 a R$20; com entrada gratuita aos sábados.
Mais informações no site.
Japan House São Paulo
Endereço: Avenida Paulista, 52 – São Paulo, SP
Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 10h às 18h e sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h.
Entrada gratuita. Reserva online (opcional) no link.
Mais informações no site.
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