O ano de 2024 começou com um marco histórico para o futebol feminino, com a brasileira Marta Vieira da Silva imortalizada pela FIFA, entidade máxima do esporte, no prêmio The Best. A partir da próxima temporada, a premiação do gol mais bonito do futebol feminino se chamará “Prêmio Marta”.
Com seis títulos de melhor jogadora do mundo, a atacante do Orlando Pride, nos Estados Unidos, é a maior artilheira na história das Copas, com 17 gols. Pela seleção brasileira, Marta jogou 189 partidas e marcou 122 gols. Representando o Brasil, ela também conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2003 e 2007, além da Copa América de 2003, 2010 e 2018. Também foi vice-campeã da Copa em 2007 e ficou com a prata nas Olimpíadas de 2004 e 2008.
O reconhecimento do talento de Marta reflete um avanço também por parte da torcida. Segundo uma pesquisa realizada no ano passado pela consultoria Sponsorlink, o interesse pelo futebol feminino no Brasil cresceu 34% desde 2018, isso reunindo homens e mulheres. Quando se trata apenas dos homens, cerca de 35 milhões se diziam interessados na modalidade em 2018, passando para 50 milhões em 2023 — um incremento de 43%. Já entre as mulheres, o salto foi de 26% no mesmo período, com cerca de 46 milhões de interessadas no último ano.
No país do futebol, onde a prática do esporte foi proibida para mulheres por quase 40 anos, de 1941 a 1983, os recentes avanços dentro de campo contrastam com os impedimentos que persistem nos bastidores do futebol. Leila Pereira, presidente do Palmeiras e única mulher a presidir um grande clube nas três principais divisões do Brasil, tem se destacado na luta pela igualdade de gênero além das quatro linhas.
Em uma entrevista coletiva exclusiva para jornalistas mulheres, Leila criticou a falta de representatividade feminina em outros setores do esporte. “Ouvi perguntas de homens: ‘Por que, só mulheres?’. O que eu digo para eles: não sejam histéricos. Quero que eles sintam o que nós [mulheres] sentimos desde que nascemos”, explicou Leila ao justificar a exclusividade feminina no evento, citando seu próprio exemplo. “Me sinto solitária. Temos que dar um basta nisso. Não pode ser normal ter uma mulher só a frente de um grande clube na América do Sul. Por que isso acontece? Porque sofremos diversas restrições. Nós podemos estar onde quisermos”, falou.
A falta de referência em áreas administrativas do futebol quase fez com que Giovanna Ferreira de Carvalho Natali desistisse do sonho de trabalhar com seu esporte favorito. Em 2015, ela se mudou para os Estados Unidos para cursar pós-graduação em Sport Management na Barry University em Miami, na Flórida. “Nos Estados Unidos, o futebol é um esporte praticado, desde cedo, por meninas”, conta. “Pensei que, por conta disso, haveriam mais mulheres também nos bastidores dos clubes mas, mesmo em um país onde o futebol é mais associado às mulheres, encontrei pouca representatividade”, diz Giovanna, que trabalhou nas áreas de Operações e Finanças do Miami-Dade FC e do Miami Shores Soccer Club.
Nesse setor, a Itália saiu na frente com a primeira liga de futebol masculino da Europa a ter metade do conselho administrativo formado por mulheres. Filiada à Federação Italiana de Futebol, a Lega Pro é responsável pela terceira divisão do esporte no país. No ano passado, com a eleição de Roberta Nocelli, diretora executiva do Ancona, ao conselho da Série C, a dirigente se tornou a terceira mulher a compor a administração do campeonato, que conta com seis membros. “Sempre acreditamos na igualdade de gênero que ressalta o valor das dirigentes no esporte italiano”, anunciou a liga em nota.
Enquanto isso, no Brasil, mulheres ainda são minoria na gestão esportiva. No Palmeiras, segundo levantamento divulgado por Leila Pereira, o clube conta com 11 mulheres entre os 156 nomes listados como parte dos departamentos estatutários. Elas estão no Social, em Cultura e Arte, na Sindicância e na Patinação. No Conselho de Orientação e Fiscalização, há uma mulher entre 27 homens.
O Conselho Deliberativo, por sua vez, tem 10 mulheres, contando com a própria Leila, entre 291 membros participantes. Algo que a presidente enxerga como um desafio estrutural. “Não vou solucionar o problema do machismo no Brasil e no mundo, muito menos no futebol, mas com a força do Palmeiras, podemos ser um exemplo”, afirmou.
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