No cenário atual da música independente brasileira, têm surgido soluções digitais inovadoras, exemplificadas pelos “hubs de curadoria musical”. Essas plataformas digitais servem como espaços estratégicos de interação entre artistas e profissionais da curadoria musical. Esses hubs são apontados como potenciais contribuintes para a redução do fenômeno conhecido como “jabá” na indústria musical, devido à sua natureza mais acessível.
O processo de utilização dessas plataformas inicia-se com o registro de artistas e curadores, possibilitando o compartilhamento de informações musicais. Isso viabiliza o envio de músicas por parte dos artistas aos curadores profissionais, que, por sua vez, têm a possibilidade de avaliar e, quando pertinente, promover as novas músicas em seus meios de divulgação.
Mas o que é o “jabá”?
A prática conhecida como “jabá” tem sido há muito tempo um tema de debate. Esta prática envolve a promoção de músicas em rádios e plataformas de streaming mediante pagamento, visando garantir maior visibilidade e reprodução para determinadas músicas. Questões sobre autenticidade artística e diversidade no cenário musical frequentemente surgem, dado que as escolhas são muitas vezes influenciadas por interesses financeiros.
Nos últimos anos, essa prática ganhou nova versão com a chegada das plataformas de streaming. Agora, os usuários compram espaços em playlists para obter um grande número de streamings. Segundo matéria veiculada pelo site G1, Sucesso fake: Músicos Fraudam Números de Streaming Usando Robôs e Jabá 2.0, após denúncias nos Estados Unidos, em 2015, o Spotify proibiu os usuários de aceitarem dinheiro ou qualquer outra compensação para incluir músicas em playlists. Ainda nesta matéria, o Spotify declarou que passou a investir pesadamente em tecnologia de detecção de fraude aprimorando o monitoramento para detectar atividades fraudulentas que vão contra as diretrizes da plataforma.
O papel dos hubs de curadoria musical: inovação digital para fugir do jabá 2.0
Uma iniciativa brasileira criou um ecossistema musical onde artistas independentes têm a oportunidade de se conectar com uma variedade de curadores da indústria musical brasileira. Esse sistema visa promover o reconhecimento e a promoção do talento artístico com base na qualidade, em vez de recursos financeiros, segundo seus fundadores. Essa abordagem está causando impacto na indústria e gerando expectativas em relação ao futuro dos artistas independentes.
O fundador do Divulguei, Paulo Nepomuceno, explica que “a plataforma funciona como um hub, uma forma de encontrar curadores, facilitando a busca do artista que, muitas vezes, não tem grana para contratar um assessor de imprensa. A ideia é dar independência para o artista escolher o curador que tem a ver com o seu som, permitindo o envio da sua música”. Ele afirma, ainda, que “a plataforma foi concebida para dar a oportunidade dos artistas realizarem divulgações sem o acréscimo do famoso jabá”.
Ao se cadastrar na plataforma, o artista encontrará curadores de playlists, influenciadores digitais, blogueiros, jornalistas, rádios e curadores de festivais. Para a artista Bárbara Silva, os hubs de curadoria musical “oferecem a oportunidade de ampliar seu alcance e conquistar novos públicos, pois concede ao artista independente, que não tem muitos recursos financeiros, nem patrocínio de grandes empresários, a oportunidade de terem sua música compartilhada”.
Autonomia para os curadores
Essas plataformas concedem autonomia para que seus curadores possam decidir se desejam ou não divulgar uma música. Essa autonomia se destaca como uma das características principais desse tipo de serviço, já que, nesse cenário, as músicas são avaliadas e promovidas com base, segundo seus criadores, em critérios como qualidade da produção, da composição musical, arranjo e performance. Além disso, os artistas recebem feedbacks desses profissionais, orientando-os em sua carreira artística.
Na opinião dos curadores da Vitrola Play, “todos só se beneficiam dessas novas tecnologias. É muito importante que os curadores e artistas entendam que realizar uma circulação musical de forma justa e dentro das diretrizes das plataformas digitais é a maneira mais eficaz de não ter problemas futuros” e afirmam, ainda, “ter autonomia de podermos escolher o que iremos divulgar nas nossos listas é de extrema importância para não caracterizar jabá ou para não ir contra as diretrizes do Spotify, além de manter a qualidade das listas”.
Já sobre a prática de pagar por usuários falsos, os curadores afirmam que “hoje há muitas formas das playlists crescerem sem precisar recorrer a compra de usuários falsos. É o caso do tráfego pago, por exemplo, que utilizado da forma correta, pode trazer muitos seguidores para suas playlists, dando ao artista a possibilidade de realmente ser ouvido por público real”.
À medida que novas alternativas ganham força no cenário musical brasileiro, a esperança é que práticas consideradas controversas na música possam ser combatidas. Ao passo que músicos e curadores adotam novas soluções e os ouvintes descobrem novos talentos de forma mais orgânica, a indústria da música se afasta gradualmente de práticas de pagamento por visibilidade.
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