O Brasil é um dos países mais propensos a implementar novas tecnologias da Indústria 4.0 nos próximos cinco anos, mas também o que mais sofre com a escassez de profissionais especializados. Segundo uma pesquisa da Gi Group, companhia global de soluções de RH e terceirização de serviços gerenciados, 88% das empresas brasileiras do setor consultadas relatam ter dificuldades de encontrar trabalhadores qualificados, índice superior à média global, que ficou em 66%.
O relatório “Tendências Globais de RH no setor de Manufatura – 2023” é resultado de uma pesquisa do Instituto Piepoli, um instituto de pesquisa de marketing independente, feita com 240 tomadores de decisão (gerentes de RH, gerentes de fábrica e gerentes de produção) de empresas no setor de indústria de transformação, em seis países (Brasil, China, Alemanha, Itália, Polônia e Reino Unido). Os dados foram apoiados por uma análise documental realizada pela empresa de gerenciamento de dados INTWIG.
“Com 66% das empresas relatando algum tipo de dificuldade em encontrar profissionais especializados, a escassez de mão de obra é de longe a maior preocupação da manufatura atualmente. Esse quadro tem várias causas, incluindo a falta de habilidades adequadas. É preciso incentivar os profissionais operacionais a desenvolverem novas capacidades, como lidar com tecnologia”, avalia o presidente da Gi Group Holding no Brasil, Carlos Henrique Martins Tonnus.
A falta de profissionais qualificados no nível operacional é, inclusive, a segunda dificuldade mais listada pelas empresas no Brasil (50%) para a implementação das tecnologias da Indústria 4.0. O motivo vem logo atrás do custo dos equipamentos, citado por 65% dos entrevistados. Globalmente, 43% das empresas apontaram a falta de recursos humanos adequados a exigências da área como entrave para adoção de tecnologias da Indústria 4.0. Já a questão dos custos é citada por 56%.
A automação, juntamente com a sustentabilidade, é uma das principais tendências que estão conduzindo a indústria da transformação globalmente e contribuindo para o seu desenvolvimento. De acordo com o relatório, de fato, 84% das empresas nos seis países pesquisados já introduziram ferramentas de transformação digital. No Brasil, esse percentual é de 85%.
Força de trabalho continua crucial no futuro
Apesar da crença comum de que as ferramentas tecnológicas eliminarão um grande número de empregos humanos, entre as empresas instaladas no Brasil, 44% consideram que a força de trabalho seguirá sendo crucial no futuro. Um terço (33%) avalia que haverá novos empregos que não existiam antes/automação criará novos empregos, e para 31%, os trabalhadores serão realocados em novos empregos.
No geral, a automação é vista como uma oportunidade para as empresas aumentarem a produção e se manterem competitivas e para os funcionários aprimorarem suas habilidades, crescerem profissionalmente e aumentarem os salários. No entanto, pode representar um risco para os trabalhadores com competências insuficientes ou obsoletas. A este respeito, 38% das empresas no Brasil afirmam que muitos trabalhadores não possuem atualmente as competências adequadas para novos empregos, o que realça o papel crucial que a formação desempenhará cada vez mais nos próximos anos.
Habilidades técnicas e interpessoais
Do lado das habilidades técnicas, especialistas no Brasil concordam que os profissionais operários serão cada vez mais obrigados a ter experiência com ferramentas e máquinas especializadas (68%), bem como treinamento especializado (78%), enquanto para profissionais especializados será crucial possuir habilidades digitais e de gerenciamento de projetos (73%) e conhecimento de línguas estrangeiras (73%).
Do lado das competências interpessoais, os profissionais operários terão de se concentrar na adaptabilidade e flexibilidade (84%) e na capacidade de trabalhar de forma autônoma (79%), enquanto a capacidade de trabalhar por prioridades (87%), juntamente com a capacidade de decisão e resolução de problemas (81%), será particularmente relevante para profissionais especializados.
Perfis mais procurados
O relatório também revela que 70% dos entrevistados no Brasil acreditam que a demanda por perfis profissionais específicos mudará profundamente nos próximos anos, à medida que a manufatura evolui. Quando se trata de trabalhadores operários, as empresas no futuro próximo procurarão principalmente: Operador de produção, Técnico de processo, Operador de máquinas e dispositivos, Controlador de qualidade e Trabalhador de laboratório. Já as funções especializadas mais solicitadas são: Gestor de projeto, Planejador de Suprimentos, Gerente de Garantia de Qualidade, Planejador de produção e Gerente de logística.
Para o presidente da Gi Group Holding no Brasil, longe de ser um mero setor fisicamente exigente, a indústria oferece uma ampla gama de oportunidades de carreira tanto para o nível operacional quanto para o de gestão.
“Estamos nos movendo em direção a um futuro em que o treinamento e a aprendizagem ao longo da vida serão mais importantes do que nunca para ajudar as pessoas a alcançar seus objetivos de vida e carreira e permitir que as empresas superem a escassez de força de trabalho e aproveitem as oportunidades da mudança tecnológica. Nesse sentido, nossa pesquisa constatou que até 87% das empresas já planejaram treinamentos internos ou externos sobre o uso e gestão de ferramentas digitais, sendo que no Brasil esse índice é de 95%”, afirma Tonnus.
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