Eventos climáticos extremos estão cada vez mais comuns no mundo todo. No Brasil, as fortes chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo em fevereiro deste ano deixaram mais de 60 pessoas mortas e pelo menos 2.400 desalojadas ou desabrigadas. As projeções científicas apontam que devem aumentar a frequência e a intensidade de grandes temporais como esses. Dados do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU alertam que a humanidade está diante de uma emergência climática gerada pelo aquecimento global.
Esse cenário é ainda mais desfavorável para mulheres, uma vez que elas integram o grupo que mais sofre com os impactos de calamidades ambientais. Estudo publicado no jornal científico China Economic Quarterly International revela que após um desastre climático as desigualdades de gênero aumentam na região atingida. Conduzido pelo professor de Economia da Universidade Xiamen, Rubiang Liang, o estudo “Calamidade natural e formação cultural: Um estudo sobre a região das cheias do Rio Amarelo” revela que a força física dos homens passa a ser valorizada nos locais atingidos por desastres naturais, reforçando a cultura que mantém as mulheres no espaço doméstico e responsáveis por funções não remuneradas, como as do cuidado.
A situação fica evidente quando o assunto é mercado de trabalho: de acordo com o estudo, o número de vagas ocupadas por mulheres é 21% menor nas regiões afetadas por inundações. Questões fisiológicas também aparecem como uma desvantagem social e econômica para mulheres em situação de calamidade. O período menstrual, a gravidez e a amamentação, por exemplo, deixam mulheres ainda mais vulneráveis após um desastre climático. Índices de agressão física e violência sexual contra mulheres também aumentam nos locais de acolhimento para desabrigados.
Agentes da transformação
Mas, se as mulheres são o grupo mais impactado, elas também são a solução para os desafios climáticos. A 27ª Conferência Climática da ONU (COP 27), apontou que a participação das mulheres é essencial para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Amalia Fischer, diretora-geral do ELAS+ Doar para Transformar, e Shinji Carvalho, Analista de Programas da organização, avaliam que a liderança e o protagonismo das mulheres são a chave para deter o aquecimento global. “Precisamos apostar na possibilidade de mudança, que seja responsável em termos de gênero, raça, classe e do meio ambiente. E essa mudança é necessariamente conduzida pelas mulheres”, analisa Shinji.
Para Amalia, que é cofundadora do primeiro primeiro fundo brasileiro a investir exclusivamente em mulheres e pessoas trans, não há justiça climática sem equidade de gênero. “Movimentos sociais e especialmente as organizações de mulheres têm resistido há mais de 21 séculos de patriarcado. As mulheres indígenas, negras e quilombolas têm acumulado conhecimento de 300 anos de enfrentamento ao colonialismo e à necropolítica. As mulheres, em todos os cargos que ocupam e função que assumem, se mostram estratégicas e resilientes ao meio ambiente”, conclui a diretora.
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