Combater o desperdício de alimentos ainda é um desafio em todo mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a quantidade de alimentos que se perde no caminho entre a colheita e o consumidor final é alarmante. Em todo mundo, pelo menos 17% de toda produção global é desperdiçada. Esse percentual corresponde a 931 milhões de toneladas de comida que vão parar no lixo todos os anos.
Em 29 de setembro, quando foi lembrado o Dia Internacional para Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos, a ONU chamou a atenção para a importância do combater o desperdício para enfrentar a fome no mundo. Apenas no Brasil, as perdas correspondem a 17 milhões de toneladas em um país onde 33 milhões de pessoas não têm o que comer, segundo dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Além de ser um entrave na luta contra a fome, a ONU alerta que o desperdício de alimentos também contribui com 7% das emissões totais de gases que causam o efeito estufa. Um dos focos da conscientização contra o desperdício é a população consumidora, pois segundo a Organização, boa parte dos alimentos é perdida desde a colheita até chegar ao consumidor final.
No campo, algumas técnicas já vêm sendo utilizadas para fazer com que alimentos cheguem em ótimas condições de consumo na mesa dos brasileiros e importadores europeus. De acordo com o professor e doutor em Agronomia, Julio Gomes Junior, a refrigeração é a principal técnica de armazenamento empregada especialmente para a conservação de produtos frescos como frutas e verduras. “O emprego da refrigeração visa prolongar a vida útil pós-colheita de frutas e verduras, pela redução da temperatura do ambiente e, consequentemente, do próprio produto”, diz.
Ele acrescenta que isso é necessário por se tratar de produtos vivos, que continuam respirando após a colheita e se esse processo não for reduzido, sua vida útil será prejudicada, principalmente no que se refere à perda de qualidade visual (externa e interna) proporcionada pelo murchamento e perda de peso, bem como, perda de compostos que conferem qualidade, como os açúcares e ácidos orgânicos que são utilizados como substratos da respiração.
O professor explica também que para a refrigeração cumprir seu papel na conservação dos alimentos, é preciso entender que cada produto necessita de uma temperatura adequada às suas características. Não atentar para essa necessidade pode levar à perda do produto. Ele comenta que enquanto o alimento está sob os cuidados do produtor, duas técnicas de resfriamento são empregadas, o pré-resfriamento e o armazenamento resfriado.
“O pré-resfriamento tem por objetivo a retirada rápida do calor de campo. Nesse processo, empregado em frutos produzidos no Rio Grande do Norte, como manga e melão, por exemplo, o produto é submetido a uma elevada taxa de resfriamento na qual, em poucas horas, a temperatura de armazenamento é alcançada e os frutos são armazenados em câmaras de refrigeração, na temperatura adequada para cada produto”, informa.
Gomes Júnior observou, ao longo de 18 anos atuando na área de Engenharia Agronômica, que nesse processo, o controle de temperatura se faz necessário para que os frutos não percam sua qualidade rapidamente. “Lembrando que dentro de uma mesma espécie, a temperatura pode ser diferente. Por exemplo, em se tratando de melão do tipo Amarelo, a temperatura de armazenamento não pode ser inferior a 10ºC. No entanto, melões do tipo Gália podem ser armazenados até 8ºC. Abaixo dessas temperaturas os frutos podem sofrer injúria por frio, caracterizada pelo aparecimento de manchas amarronzadas na casca”, detalha o professor.
Técnicas complementares à refrigeração na conservação de alimentos frescos
O professor e pesquisador Julio Gomes Junior ressalta que qualquer outra técnica usada paralela à refrigeração será um complemento. Ele menciona como exemplo a técnica da atmosfera modificada, que consiste no uso de plástico polietileno envolvendo os produtos e utilizada em produtos minimamente processados (PMPs). É o caso de frutas que são vendidas descascadas, como manga e melão, por exemplo, dentre outras.
Segundo ele, o emprego de embalagens adequadas que visem não só a proteção e atratividade por parte do consumidor, mas também associado à refrigeração e uso de filmes à base de polietileno, é fundamental para conservação dos produtos. “Se esta técnica não for empregada, a vida útil dos PMPs pode ser reduzida e prejudicada. Em supermercados, é muito comum ver os PMPs serem armazenados em bandejas de poliestireno e envolvidos com filmes plásticos à base de polietileno de baixa densidade (PEBD). Isso causa prolongamento da vida útil pós-colheita, pela redução da atividade respiratória desses produtos, bem como, da perda de peso”, destaca.
Além da refrigeração e atmosfera modificada, o professor informa que outras formas de armazenamento também são possíveis. “Como exemplo cito o emprego de salmouras no caso do milho verde e ervilha, e do vinagre, no caso dos picles. Ambas são técnicas de conservação, mas, diferente das anteriores, não necessitam do uso da refrigeração para conservação dos produtos processados e armazenados”, conclui.
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