Uma em cada cinco pessoas que trabalham estão mais sujeitas a sofrer com algum problema de saúde mental. É o que aponta uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera as situações de competição e enfrentamento no ambiente laboral como as principais causas de estresse associado ao trabalho. Esse estresse acaba se desdobrando em outros problemas para a saúde do trabalhador.
Um deles, que vem se tornando cada vez mais comum, é a síndrome do esgotamento profissional, chamada de Síndrome de Burnout, que provoca esgotamento físico e mental. Desde janeiro deste ano, ela está incluída na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11). Uma pesquisa feita em 2021 pela Isma-BR (International Stress Management Association no Brasil) mostra que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros encontram-se sem condições emocionais, mentais ou físicas para continuar. Esses números colocam o Brasil como segundo lugar em um ranking de oito países, perdendo apenas para o Japão com 70% da população atingida.
A extensão do problema aparece em outras estatísticas, reunidas em um documento da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Uma delas, extraída de um levantamento da consultoria britânica Capita, mostra que 79% dos colaboradores entrevistados relataram ter sofrido estresse no trabalho nos últimos 12 meses, e outros 22% disseram sentir estresse com alta frequência ou o tempo todo. Na mesma pesquisa, 45% consideraram deixar um emprego devido ao estresse que ele gera, e 53% tiveram colegas que foram forçados a desistir do trabalho devido ao estresse.
Esses problemas vão impactar diretamente no ambiente de trabalho, causando perda de produtividade e faltas ao trabalho, entre outros. Um outro levantamento da OMS, reunido no documento da Enap, estima que os problemas de depressão e ansiedade causam uma perda anual de US$ 1 trilhão na economia mundial.
A organização do trabalho, a submissão a chefias autoritárias, a falta de comunicação entre as pessoas, o aumento no ritmo de trabalho e a exigência crescente de produtividade também são fatores que podem afetar a saúde dos trabalhadores. São situações que levam o indivíduo chegar ao limite da resistência física e mental, e um sinal de isto está ocorrendo é quando sair de casa para o trabalho se torna um sacrifício.
Para o professor Jameson Thiago Farias Silva, do curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França (FSLF), o primeiro ponto para manter a saúde nesse ambiente é, de antemão, não pensar o trabalho apenas do ponto de vista da aquisição de renda. “Embora seja um fator determinante na escolha de uma profissão, o sujeito por vezes se identifica e tira prazer de sua atividade, ou nela vê a chance de realizar algum projeto. Em todo caso, o ambiente de trabalho é um ambiente no qual o sujeito, em maior ou menor grau, se realiza”, destacou.
Neste sentido, proporcionar o bem-estar no ambiente de trabalho pode ser entendido como reforçar fatores que mantêm o sujeito realizado, como boas condições para o exercício da função, remuneração justa, espaços para o uso da criatividade no trabalho, etc.
Foco, mas com moderação
Em si, a tensão (o estresse) não é considerada uma coisa ruim. É o que afirma Jameson, citando como exemplo que “um atleta em final de campeonato ou um candidato a um concurso precisam estar minimamente tensionados, atentos, focados na atividade que realizam”. O professor ressalta que o problema é quando a situação em que operam, em que trabalham, os tensiona tanto e tão constantemente que este hiperfoco é “aprendido”, introjetado, e perde o seu caráter funcional.
“Isso quer dizer que a organização do trabalho, ao produzir e demandar um corpo e uma mente específicos para a sua realização, pode tornar este mesmo corpo e mente um problema, seja para o próprio ambiente laboral seja também para o sujeito em sua dimensão pessoal: o sujeito de ombros rígidos, pensamento inflexível e conduta voltada para a produtividade no trabalho pode ser levado a generalizar tais hábitos – tal corpo e tal mentalidade – para as suas relações familiares, por exemplo; ao mesmo tempo, a dureza de seu corpo e de seu psiquismo tornam-se um peso para o sujeito em seu próprio ambiente de trabalho”, finalizou.
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