A guerra na Ucrânia, perpetrada por uma ofensiva bélica da Rússia, entra em seu segundo mês com muitas incertezas sobre quando e como será seu desfecho. Enquanto isso não ocorre, uma série de alterações no mercado que envolvem os dois países (seja como consumidores ou como produtores) se reflete em todo o planeta. No Brasil, alguns dos setores impactados são o da siderurgia e da mineração, que já apresentam variação de oferta e demanda devido aos embargos comerciais aplicados a produtos russos por alguns países e à variação do preço de commodities.
No que tange à comercialização de níquel, por exemplo, o Brasil é um potencial beneficiário da abertura de mercados que foram, por conta da guerra, fechados à Rússia, responsável por cerca de 10% da produção global. Segundo estimativa do USGS, o serviço geológico dos Estados Unidos, o Brasil tem reservas estimadas em 16 milhões de toneladas, atrás apenas de Indonésia e Austrália.
E no final de março, o embargo à Rússia já pôde resultar em um grande negócio à Vale, empresa de mineração brasileira que também atua na Indonésia e no Canadá e é a segunda maior empresa produtora de níquel do mundo, depois da russa Nornickel: foi anunciado um acordo com a Tesla para garantir o suprimento do metal semiprecioso à empresa de Elon Musk, que necessita da matéria prima para o desenvolvimento da bateria de íon de lítio, a base do carro elétrico.
Com a escalada do conflito bélico no Leste Europeu, o preço internacional do níquel chegou a bater em US$ 100 mil (cerca de R$ 473 mil) por tonelada pela primeira vez na história, antes de regredir para US$ 37 mil (R$ 175 mil) por tonelada – em 2021, o preço médio do níquel foi US$ 18,5 mil (R$ 87,6 mil) por tonelada.
Outra situação gerada pela guerra que também pode favorecer o Brasil diz respeito ao óxido de alumínio, visto que a cessão da exportação à Rússia – país que tem a maior capacidade de fundição deste composto químico – pela Austrália tende a fazer com que o preço do produto no mercado se eleve. E em Paragominas, no Pará, há uma grande produção de bauxita, principal mineral que carrega o óxido de alumínio.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de bauxita, segundo o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), com 22,8 milhões de toneladas, ou 13% da produção mundial.
Segundo análise do economista Paulo Silas, CEO e COO da Vinci Engenharia – empresa que atua na área de manutenção industrial em eletromecânica, acompanhando os investimentos do setor de siderurgia e mineração -, o conflito na Europa “gera um desarranjo no modelo macroeconômico no que se refere a cadeia de suprimentos global”, ocasionando uma instabilidade nas commodities pelo lado da oferta, “levando a choques no aumento de preços de forma imediata”.
“Com os preços dessas commodities nas alturas, o Brasil desponta como um competidor global exportador muito eficiente”, diz o economista. “Então, nos últimos dias podemos ver muito dinheiro estrangeiro entrando na nossa bolsa de valores, o que valorizou a moeda brasileira frente ao dólar. Isso em outros aspectos econômicos também ajuda a controlar a inflação”, diz. No final de março, a moeda estadunidense acumulava uma baixa de 14,14% em relação ao real, sendo negociada a R$ 4,75.
“Dentro das estratégias das siderúrgicas e mineradoras, e com muito poder de geração de caixa, vemos as grandes companhias anunciando investimentos na casa dos bilhões para a melhoria dos seus parques industriais. O que pode levar ao aumento na geração de empregos e ao aquecimento no consumo interno”, aposta Silas.
Para saber mais, basta acessar: www.vinciengenharia.eng.br
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