Tem sido cada vez mais comum no futebol brasileiro o caso de jogadores saindo cada vez mais cedo de seus clubes. Em alguns casos, os atletas são promovidos para o nível profissional já com vendas garantidas ao exterior por quantias outrora exorbitantes para um menino de tenra idade.
Este é, por exemplo, o caso de João Pedro no Fluminense. Ele já é considerado um fenômeno desde seus anos na base, e confirmou o status com primeiros passos em campo pelo time carioca como profissional nessa temporada – especialmente após fazer três gols em sua primeira partida como titular, em uma vitória por 4 a 1 sobre o time colombiano Atlético Nacional na Copa Sulamericana.
Entretanto, causou estranheza e surpresa o fato dele já estar vendido ao time inglês Watford por 10 milhões de euros. Um negócio que poderá ser desfeito apenas se for paga uma cláusula de 20 milhões para a quebra, o que pode causar grande transtorno ao time em tempos futuros.
Mas João Pedro é apenas um entre vários casos que permeiam o futebol brasileiro em tempos recentes. E um desses inclui Nathan, que hoje compõe o elenco do Atlético Mineiro.
O jovem de Blumenau, em Santa Catarina, fez parte do Atlético Paranaense dos 13 até os 19 anos de idade, quando se juntou ao clube inglês Chelsea. Antes disso, Nathan tinha atuado apenas 24 vezes pelo seu clube de origem em dois anos e meio como profissional.
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Uma ida a um clube de proporções tão grandes como o Chelsea com apenas 19 anos de idade significa que o clube vê em você um grande potencial. Entretanto, isso também significa que para realizá-lo, você terá que passar por barreiras muito maiores do que aquelas que se encontravam em seu país de origem.
Assim se seguiu a carreira de Nathan. Imediatamente após sua chegada à Stamford Bridge, ele foi emprestado para o clube holandês Vitesse. Um clube de dimensões médias na Holanda, como pode ser comprovado pela aposta de futebol na Betfair, e que tem uma longeva parceria de empréstimos com o Chelsea.
O período de dois anos no Vitesse não foi dos melhores para o jovem brasileiro, onde foi um mero jogador da rotação de ataque sem muitas chances de se firmar. Mas o empréstimo vindouro, para o Amiens da França em 2017, foi ainda pior.
No novo clube, Nathan atuou apenas 5 vezes – o que inclui dois jogos com o time reserva do Amiens – em meia temporada. Uma situação calamitosa para um jogador com seu potencial.
Ele foi salvo por meio de um novo empréstimo, desta vez se juntando ao time português Belenenses, na janela de meio de temporada da Europa em janeiro de 2018. Lá, Nathan fez gols contra os gigantes do país, Benfica e Porto, apesar de não conseguir se firmar como titular.
Nessas condições é que lhe veio a chance de se juntar ao Atlético Mineiro. Uma oportunidade de voltar ao seu país de origem, reencontrar seu futebol e ver o que futuro lhe reserva.
Fonte: “Painel de azulejos no Clube Atlético Mineiro” por A.mancini (CC BY-SA 4.0)
Inicialmente, não foi uma jornada fácil. Com o técnico Levir Culpi, Nathan teve pouquíssimas chances de mostrar serviço, e foi considerado até como peça descartável no elenco do time no começo desse ano. Apenas com a demissão de Levir que o jovem começou a ganhar espaço no time, mais uma vez atuando como um jogador rotacional e não como um titular.
A história de Nathan, infelizmente, não é única. Nem todo jovem que opta por garantir seu ganha-pão o mais cedo possível em solo europeu consegue sucesso. E às vezes, nem mesmo o retorno ao Brasil é garantia de que um recomeço é algo alcançável.
Ela é também uma demonstração clara de uma tendência de queimar etapas por parte desses prospectos, onde percorrem um caminho bem mais tortuoso e difícil ao partirem para a Europa de maneira prematura ao invés de tentar primeiro se firmar no Brasil. Em um terreno mais conhecido e em um futebol mais “fácil”, as chances de alcançar os holofotes e continuar seu desenvolvimento como jogador são também facilitadas.
Temos exemplos recentes como o caso de Neymar no Santos, que insistiu em ficar em seu time apesar de propostas milionárias para sair da Vila Belmiro desde sua adolescência. Ou até mesmo Gabriel Jesus, que foi um astro do Palmeiras em duas temporadas como profissional pelo clube. Ambos foram recompensados em todos os aspectos, desde o financeiro até o de gratidão das torcidas de seus respectivos times pelos títulos que conquistaram.
Logo, seria bom se jogadores e seus representantes repensassem sua abordagem quanto ao planejamento de longo prazo dessas jovens carreiras. Vale a pena mesmo dar passos maiores que as pernas no curto prazo, com a esperança de que no longo prazo tudo se realize?
A evidência mostra que na maioria das vezes, não.