Não é nenhuma novidade para ninguém que o brasileiro não tem o hábito de praticar esporte. Isso é atestado pelos resultados em competições internacionais. Dentre aqueles que praticam com regularidade razoável, numa comparação a olho nu entre homens e mulheres, talvez a diferença ultrapasse os 80% a favor dos homens.
Essa desproporção já vem de muito tempo, talvez da formação humana na Terra. E, percebendo que esse percentual ainda é maior nas denominadas classes sociais mais humildes, tomei a iniciativa de colocar em prática uma tentativa de mudança.
Comprei redes e bolas de vôlei e as levei a pequenos vilarejos em minha cidade Natal, Nova Soure/BA. Já no local, com uma cal, demarcávamos uma quadra, fincávamos dois mastros (caibros) e começávamos a jogar vôlei de imediato. Somente com mulheres. Era exatamente o vôlei, por entender que seria o mais conhecido e com mais facilidade para a prática dos fundamentos e para assimilação de regras, sem os detalhes. Para iniciação, começava sempre em duplas trocando passes entre elas. Depois, já jogando para valer o saque era por baixo da bola. Foi e é um método eficaz.
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Depois do pontapé inicial, com a ressalva de que seria para o controle ser delas, íamos para outra empreitada; outro lugar. Ali a semente estava plantada. Ficava a bola e a rede, com o aviso de que voltaríamos logo. Em alguns lugares, a gente voltava, os homens estavam jogando e as mulheres assistindo ao lado. É cultural. É difícil de mudar. Mas é preciso.
E como mudar? Eis a pergunta que dei a minha resposta pessoal na prática, como narrada acima. Mas não tenho a resposta coletiva. Fiz uma série de sugestões às autoridades num outro texto.
Certo é que não existem iniciativas e ações coordenadas para fazer essa mudança e trazer às mulheres o hábito de praticarem esporte, especialmente nas camadas mais pobres. Como todo domínio da cultura, elas aceitam e sequer têm um pensamento voltado para quebrar esse tabu. E não se está falando de estruturas organizadas de clubes. A ideia seria semelhante às condições básicas dos homens simples que lotam os campos de várzea nas grandes cidades ou nos campos de futebol do interior, que se resumem a um terreno limpo, duro como uma pedra, duas traves e várias histórias, torneios, festivais, com premiação que variam de troféus, dinheiro e bois.
Talvez o empresariado, grande, pequeno; comerciantes das pequenas cidades, todos, pudessem aderir com mais incentivos individuais a seus funcionários e com algumas iniciativas específicas nas empresas para integração feminina.
Fora essas pequenas sugestões, a menção a minha iniciativa é para reforçar que é possível fazer alguma coisa, e para dar uma satisfação a algumas pessoas que indagam se faço algo ou se apenas critico. Talvez seja outra distorção, dentre tantas disseminadas no Brasil, para calar ainda mais esse povo, que aceita tudo sentado e se acha politizado por reclamar e participar de correntes no Facebook ou nos grupos de contato.
Trata-se de um alerta. Não quero convencer a ninguém. Sigo o escritor José Saramago: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”. Será? Nesse caso, bem que eu gostaria.
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