É tão difícil defender políticas de esporte quanto é fácil o inverso e fazer da fome uma justificativa para a ausência de ações efetivas em outras áreas da administração pública da União, dos estados e dos municípios.
Até há uns 50 anos, passar fome ou necessidade financeira era uma situação atribuída exclusivamente ao indivíduo; ou a pessoa era considerada preguiçosa ou sem iniciativa; por um motivou outro, era censurada pela sociedade. Também poderia ser ou depressiva ou portadora de outra doença. A responsabilidade era somente individual.
Com o passar do tempo houve mudanças e hoje há situações em que a pessoa é responsabilizada, mas prevalece o entendimento de que algumas situações ultrapassam a questão meramente da pessoa e o fato passa a ser de responsabilidade coletiva.
De uma forma ou de outra, nos denominados países pobres, sem infraestrutura adequada, a discussão fica restrita à comida no prato. No Brasil não é diferente. Por isso, torna-se impossível cobrar ações das autoridades no sentido de criarem espaços para a prática regular de qualquer esporte, exatamente porque quase tudo o que se fala neste país relaciona-se à falta de comida. Mas a população não quer só comida…
Dos quase seis mil municípios, poucos têm uma quadra poliesportiva adequada à prática de três esportes diferentes. Não é razoável pensar em convencer um prefeito ou uma câmara municipal a construir um ginásio poliesportivo. Cientes dessas dificuldades, as pessoas nem tentam e se omitem totalmente.
Essa falta de compromisso com políticas de esporte ocorre nos governos municipais, estaduais e federal. Mas quando questionadas, as autoridades citam inúmeros projetos que atendem milhões de pessoas. Sabem que ninguém acredita, mas repetem à exaustão.
Iniciativas simples, como torneios de dama, de xadrez deveriam partir das próprias entidades sociais, dos sindicatos, das igrejas, dos condomínios e de outras instituições, mas só se consolidariam de forma abrangente e definitiva com políticas governamentais.
As cidades pequenas deveriam priorizar um esporte e organizar um torneio semelhante aos de tênis, com troféus e com uma simbólica recompensa financeira. Poderiam se organizar entre dez ou mais cidades para que cada uma fizesse um torneio de um esporte específico. Um município realizaria uma competição de vôlei, outro de basquete, de tênis, de natação e assim com outros esportes. Facilitaria a participação de atletas de outros municípios.
A cada três ou quatro anos, os municípios com mais de cem mil habitantes promoveriam eventos esportivos mais amplos, com nome de miniolimpíada ou de jogos abertos, a exemplo dos realizados no interior de São Paulo.
Como ainda prevalece a cultura da lei para tudo por aqui, para ajudar a fomentar a prática de esportes, o governo federal e/ou os governos estaduais deveriam criar normas prevendo a realização de atividades esportivas anuais em cada escola, sem exceção.
Estruturas físicas ideais viriam com a prática contínua. De início, valeria o improviso. Poderiam espelhar-se no futebol, que tem sua própria estrutura organizacional com torneios, campeonatos e tudo mais, com ou sem rede, com ou sem árbitro uniformizado. No vôlei, a falta de rede seria substituída por uma corda. Uma cal resolveria a demarcação da quadra. Um leigo que entendesse um pouco superaria tranquilamente a falta de um árbitro.
Da mesma maneira que todo vilarejo possui sua igreja, poderia se empenhar para a construção de uma quadra. As condições só surgirão com consciência, iniciativa e empenho.
Também há a necessidade de perseverança nas ações, para que os jovens não desistam no início. Seria necessário conscientizá-los dos benefícios que o esporte traz à saúde, além de ser ótimo como entretenimento.
Com pouco dinheiro é possível realizar todas as sugestões propostas. Com uma tábua (madeirite), dois caibros, seis parafusos e seis pequenas latas de tinta eu fiz uma mesa de tênis, que alegrou um vilarejo no interior da Bahia por muito tempo.
Pode até não existir má-fé, pouco importa, mas se faz necessário que as autoridades e a sociedade se comprometam um pouco mais em relação ao esporte.
Também, essas iniciativas preliminares se encaminhariam automaticamente para a formação de atletas com índices olímpicos. A posição do Brasil em Olimpíadas dá o atestado da falta de investimento. Quando vence muito, ganha duas medalhas de ouro. É desestimulante. Dá vergonha! Isso precisa mudar e depende de todos e muito dos prefeitos e vereadores por estarem mais próximos da população.
De Pedro Cardoso da Costa, colunista do Por Dentro de Minas
Bacharel em Direito
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