Ícone do site Por Dentro de Minas (MG)

Opinião: Eu morro também

Recebo diversas mensagens religiosas pela internet. Algumas contam que John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus, e foi assassinado logo em seguida. Outras que Tancredo Neves teria dito que se tivesse quinhentos votos de seu partido, nem Deus o tiraria da presidência da república, e ele faleceu antes de assumir. O mesmo teria acontecido com o Titanic, cujo dono, em entrevista para a imprensa, teria dito que nem Deus afundaria o seu navio e, como se sabe, o naufrágio acabou sendo a maior tragédia naval da história.

Essas mensagens, de um modo geral, procuram exaltar o poder de Deus. Concordo com a conclusão: Deus é poderoso. Discordo, contudo, das premissas. Obviamente nenhuma dessas frases foi um desafio a Deus. Foram modos de expressão para reforçar uma ideia. Algo parecido com a expressão “ai meu Deus”, que serve para reforçar uma ideia de medo, ou “juro por Deus”, que transmite a impressão de seriedade no que se está afirmando.

A frase de John Lennon, por exemplo, ressalta a perda de fiéis da religião cristã. Atualmente boa parte da população acredita que o cristianismo precisa se reinventar. Tancredo, caso a frase seja real, quis dizer que se tivesse quinhentos votos teria certeza de que venceria a eleição. O dono do Titanic tentou apenas reforçar a ideia de segurança do navio.

No meu entendimento, as tragédias apontadas não foram obra de Deus. O Deus em que acredito é muito melhor do que isso. Nem mesmo quando afrontado utilizaria a mesquinharia da vingança. Ele ensina a amar os inimigos, a fazer bem aos que nos odeiam, a bendizer os que nos maldizem, a orar pelos que nos insultam e, finalmente, a dar a outra face àquele que nos bate.

Embora essas considerações pareçam óbvias, achei melhor esclarecer, porque quando tive o privilégio de ser eleito integrante da academia joinvilense de letras, brinquei que agora seria “imortal”, recebi, imediatamente, uma nova mensagem dessa espécie. Por precaução, resolvi deixar claro, não para Deus, que tudo sabe, mas para as pessoas, de que eu morro sim. Quero me precaver em relação a algum doido que queira tirar “a prova dos nove”.

Comentários
Sair da versão mobile