Hoje em dia é comum ver as pessoas acusando umas às outras de fascistas. É um termo que serve para designar alguém de quem não gostamos. O termo acabou por degenerar num insulto genérico, sem um significado preciso.
Yuval Noah Harari faz uma bela reflexão sobre o tema no livro 21 lições para o século 21. Segundo ele a palavra fascismo vem do latim “fascis”, que significa feixe de varas. Uma vara isolada é fraca e pode ser facilmente quebrada. Quando estão juntas numa “fascis” é quase impossível quebrá-las. É por isso que se privilegia a coletividade em detrimento da pessoa. A união é poderosa. O indivíduo é fraco. Os interesses do grupo, unido sob o conceito de nação, deve preponderar independentemente de quaisquer circunstâncias sobre os interesses dos demais.
O problema é que a banalização do uso do termo faz com que o fascismo pareça algo ruim. Um verdadeiro monstro. O óbice é que se aparentasse ser um monstro ninguém seguiria a doutrina. É o mesmo erro que os filmes de Hollywood cometem ao apresentar vilões como Voldemort, lorde Sauron ou Darth Vader. Os três são homens feios e cruéis até mesmo com os seus apoiadores. Como seguir alguém assim?
Conforme alerta o autor, “o problema com o mal é que, na vida real, ele não é necessariamente feio. Pode ser muito bonito na aparência”. Essa é a dificuldade em resistir às suas tentações. É também por isso que é difícil lidar com males como o fascismo. Os alemães olhavam a nação alemã na década de 30 e a viam como a coisa mais linda do mundo. Perderam-se na beleza daquele coletivo inventado.
O culto a essa coletividade é sedutor porque simplifica o mundo. Dilemas difíceis tornam-se fáceis. É simples avaliar a arte: se atende os interesses do grupo é boa. É também fácil avaliar a educação: a adequada é a que ensina o pensamento da classe. E por aí vai…
Além disso, é extremamente atraente porque faz as pessoas pensarem que participam do que há de mais belo no mundo. Integram um ideal, uma ideia de mundo. Ao se olharem no espelho, enxergam algo belo e não o fascismo que todos dizem que é ruim. Entendem, por isso, que a postura que adotam não é fascista.
Isso está a ocorrer com muitos brasileiros que defendem o combate à corrupção a qualquer custo. O ideal é belo, mas se para atendê-lo precisam pisotear a Constituição e os direitos e garantias individuais, assim o fazem. Esquecem os horrores que os defensores de belas ideias praticaram. Tornam-se fascistas sem nem mesmo saber.