Opinião: Árvores, Filhos e Livros

A sabedoria popular ensina que todo homem, antes de morrer, deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Nunca compreendi direito essa afirmação. Há outras coisas que se deve fazer antes de morrer. O fato é que não adianta brigar com o ditado, porque ele nem mesmo pode retrucar.

A cada livro que publico algum amigo menciona essa frase, e complementa dizendo que comecei pelo mais difícil.

Refleti muito e conclui que meus amigos estão enganados. Comecei pelo mais fácil. Escrever é mais simples do que as outras duas “missões”. Exige apenas tempo e dedicação. Qualquer pessoa com esses atributos consegue escrever um livro. O problema é que nem todos estão dispostos a usufruir o tempo dessa maneira. Preferem fazer outras atividades que consideram mais agradáveis.

A regra, no entanto, subsiste. Se fizerem algum sacrifício certamente escreverão um livro. Talvez não seja um best seller, mas o ditado não exige isso. Exige apenas um livro.

Plantar uma árvore e criar um filho também exigem tempo e dedicação. Isso, contudo, não é suficiente. A complexidade de ambas as tarefas é incrivelmente maior. Os aspectos mais importantes escapam a qualquer controle do homem.

Ver uma árvore crescer depende de fatores aleatórios. Quando o clima não é favorável a árvore não vinga, e esse aspecto foge ao domínio do ser humano. Não há muda que resista a: uma forte chuva de granizo, geada, seca prolongada ou inundação.

Ter um filho é ainda mais difícil. A dificuldade começa com o próprio ato da concepção. Diferentemente das outras “tarefas”, não pode ser feita solitariamente. Tampouco pode ocorrer na hora em que melhor aprouver. Depende de um momento exato, que aumenta as probabilidades, mas não dá certeza alguma. Precisa de um empurrãozinho divino para seguir em frente.

A concepção, no entanto, não é o fim. É apenas o início de uma missão que leva a vida inteira para ser completada. Independentemente da idade que tenham os filhos sempre parecerão pequeninos e dignos de proteção. É tarefa tão difícil que afeta a personalidade do ser humano. É ao ter um filho que o homem percebe verdadeiramente quem é, e somente então repara o quanto é parecido com os próprios pais.