No próximo ano teremos eleições municipais e todos os problemas serão resolvidos. Não haverá mais desemprego. Os problemas de segurança serão solucionados. Cada bairro terá um hospital. A água e o transporte coletivo serão praticamente gratuitos e o trânsito voltará a fluir melhor. São tantas as pérolas que há quem diga que nossos políticos não abrem as bocas, abrem as ostras durante a eleição.
A situação faz lembrar uma crônica do início do século passado, escrita por João Paulo Emílio Coelho Barreto, mais conhecido pelo pseudônimo de João do Rio. Ruy Barbosa havia sido derrotado para presidente da república e se entabulava um confronto nos jornais entre aqueles que diziam que os brasileiros cultuavam a incompetência e outros, como Quintino Bacaiúva, que afirmavam que para ser presidente não era necessário ser um assombro de inteligência ou erudição. Nesse contexto o cronista escreveu “O Homem de Cabeça de Papelão”.
A história é sobre um cidadão chamado Antenor que morava no país do Sol. Antenor era um cidadão sem importância e desprezado pelos demais. Tinha um grande defeito: só dizia a verdade. Além desse defeito grave, pensava por conta própria. A mãe de Antenor apenas não o mandou embora de casa porque sabia que o filho era essencialmente bom. Não tinha culpa de seus defeitos. Essas duas características fizeram com que ao longo do tempo passasse a ser visto com um verdadeiro louco.
De nada adiantavam os conselhos familiares para que Antenor se emendasse, que seguisse uma carreira pública. Poderia ser político como o tio. Recusava-se, pois queria trabalhar. Nem mesmo no trabalho teve sucesso. Era sempre despedido após uns poucos meses. A razão é que fazia mais do que os outros e expunha ideias próprias. Antenor não se importava com nada disso. Apesar das dificuldades seguia adiante com o seu jeito de ser.
Certo dia, no entanto, apaixonou-se pela filha da lavadeira de sua mãe, chamada Maria Antônia. Antenor achava perfeitamente justo casar com a moça, mas para a família foi a prova final de sua maluquice. Maria Antônia, no entanto, exigiu que o personagem tomasse juízo, como condição para casar-se com ele. Antenor saiu pela rua, repleto de amor, e com o objetivo de resolver o problema. Subitamente deparou-se com uma placa no centro da cidade que dizia: “relojoaria e outros instrumentos delicados de precisão”. Entrou na loja com o objetivo de consertar a própria cabeça.
O relojoeiro exigiu que deixasse a cabeça na loja, pois para consertá-la precisaria desmontá-la e observá-la durante trinta dias. Para sanar o problema da falta de cabeça, o relojoeiro deu-lhe uma cabeça nova, de papelão. Com a cabeça de papelão a vida de Antenor mudou. Dois meses depois, tinha vários amigos e jogava pôquer com o Ministro da Agricultura. Ganhava uma fortuna vendendo comida estragada para o Estado.
Explorava, bajulava e falsificava. Passou a ser admirado por todos. Foi eleito deputado, depois senador. Era íntimo de ministros e do próprio presidente. Não é preciso dizer que Maria, o antigo amor, foi substituída por diversas outras Marias, de melhor posição social.
Anos depois, lembrou-se da antiga cabeça e decidiu buscá-la. Ao perguntar ao relojoeiro, qual era o problema foi informado que nada havia de errado. Tratava-se de uma obra perfeita de precisão. Cabeça de gênio. Apesar disso Antenor seguiu usando a cabeça de papelão e, com isso, apesar de não ter uma cabeça admirável tornou-se um dos políticos mais influentes do seu tempo.
Assim termina a crônica escrita por João do Rio, mas certamente a história teve continuação. Antenor casou-se com uma moça que também usava cabeça de papelão e tiveram uma prole numerosa. Atualmente vários de seus descendentes exercem cargos eletivos em diversas cidades do país.
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