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Opinião: Balada de meia-idade

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  1. VEJA TAMBÉM

Era uma noite de sábado. Há tempos não saía sozinho. As crianças e a esposa ficaram em casa. Estava livre como nos tempos de solteiro. Eis que encontro o Luís. Ele estava na mesma situação.

Começamos a papear e uma moça sorridente veio nos atender. Perguntou, com a maior simpatia, o que gostaríamos. Fizemos o pedido e o papo continuou. Falamos sobre há quanto tempo não encontrávamos um amigo na noite.


VEJA TAMBÉM

Comentei acerca das danceterias em que íamos, e ele prontamente corrigiu dizendo que agora se fala balada. Balada então disse eu. Segundo ele, danceteria é coisa de velho. Pelo menos não falei em discoteca, ou seria discoteque? Sei lá, mas o fato é que íamos nelas, e nas domingueiras.

Bateu o saudosismo. Eram bons tempos. Lembramos as aprontadas de cada um, e das bagunças com os amigos. Concordamos que era bom rezar pedindo que nossos filhos nunca façam coisas parecidas.

Não vou escrever o que fazíamos por medo de levar um puxão de orelha dos meus pais. Pais são pais e pouco importa a idade que temos. O temor reverencial sempre subsiste.

Tampouco quero dar ideias aos meus filhos. Eles ainda não lêem, mas um dia aprenderão. Como filhos de advogado, certamente usariam as tolices que fiz como argumentos para escaparem de qualquer bronca.

Seria difícil explicar que tudo era diferente. As coisas mais simples. Joinville era menor. Todos se conheciam. As pessoas eram mais tolerantes. Nem mesmo se usava cinto de segurança ou capacete. Outros tempos.

A menina trouxe o que pedimos e nos encaminhamos para realizar o pagamento. Conversamos um pouco mais na fila para o caixa. Dois caixas livres. Cada um fez o pagamento e pontuou o seu cartão de fidelidade. Percebemos surpresos que ambos os cartões tinham milhares de pontos.

Despedimo-nos dizendo que precisávamos nos encontrar uma hora dessas em um churrasco ou em um happy hour. Afinal de contas, encontrar os amigos na farmácia no sábado à noite é algo depressivo, especialmente quando vemos que a pontuação do cartão fidelidade é maior do que o saldo bancário.

NÃO SEI
Marcelo Harger advogado em Joinville, escritor, membro da Academia Joinvilense de Letras, mestre e doutor em Direito do Estado pela PUC-SP, MBA em Gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.

Não sei, não sei e não sei. Mais uma vez digo não sei. E não me canso de continuar dizendo. Ser estudioso do direito público é difícil nos dias de hoje. Ninguém mais dá bola para as normas e toda a população sabe mais do que os estudiosos.

Sempre que recebo uma pergunta sobre a prisão de algum político ou agente público sei a resposta que o interlocutor espera. Quer que eu diga que o acusado deve ser preso e forçado a andar descalço no meio de brasas.

Também sei a réplica que me espera quando disser que considero que uma prisão foi ilegal, ou que o direito não autoriza certa medida. Invariavelmente é algo que começa com a expressão, em tom depreciativo, “vocês advogados”, e continua com uma crítica. É comum também ouvir que “na prática não funciona” e que as leis foram aprovadas por “esses que estão aí”

Essa é a razão dos repetidos não sei que ando dizendo. Prefiro passar por desinformado a ingressar em uma discussão acalorada acerca do que fazer com os acusados de corrupção.

Sou estudioso do direito. A lei é minha ferramenta de trabalho. Acredito que a lei existe para limitar o Estado, independentemente da forma que ele se apresente para o cidadão. Administração Pública, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Polícia e demais órgãos estatais submetem-se à lei. Para mim é simples assim.

Não é dado a um agente público desrespeitar a lei, ainda que tenha boas intenções. Somente pode fazer o que é lícito e ponto final. Não pode “jogar para a torcida”. O desejo da opinião pública nem sempre está de acordo com a lei. Sempre que houver confronto entre ambos o desejo da coletividade perde.

Em matéria punitiva, o Estado não tem nenhuma obrigação de atender aos anseios da população. Muitas vezes tem o dever de contrariá-los. Uma das funções do Estado é contramajoritária. É assegurar que acusados sejam julgados de acordo com a lei, independentemente do que jornalistas, blogueiros e internautas pensem.

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