Desapego é um sentimento que mexe com a personalidade humana, pois traz elementos de posse aprendidos desde a infância que ajudaram a constituir o seu EU. A primeira relação interpessoal da criança é a dialética do EU e do TU, também considerada uma relação de corredor, porque embora possa se relacionar com várias pessoas, ela só o faz uma por vez. Com o passar do tempo, a criança começa a entender que essas relações podem ocorrer no mesmo momento, então ela passa a viver a estrutura do NÓS. No entanto, o ponto de união é ela, ou seja, o ponto de vista sobre o mundo é sempre o dela, por isso que se diz que o ego está centrado nela. Tendo isso em mente, pode-se dizer que a posse sempre vai ser dela.
Entretanto, no momento em que se dá conta que as demais pessoas com que se relaciona também podem se relacionar entre si sem sua presença, ela constitui a vivência do ELES e se percebe fora da relação. Essa cisão a faz sentir uma perda e consequentemente surge o sentimento de ciúme. É nessa época que a criança quer se meter entre o pai e a mãe, faz birra quando se vê de lado e passa a exigir que o mundo continue a existir para ela. Surge o egocentrismo. Por isso que o desapego é tão difícil para algumas pessoas, pois de alguma forma elas não conseguiram ultrapassar as perdas e apresentam dificuldade para superar as frustrações. Elas mantêm o sentimento de posse absoluta e isso dificulta a vida dinâmica que o mundo apresenta aos adultos.
Antes de aprofundar o tema é preciso deixar claro que desapego não significa deixar de lutar pela coisas importantes da vida. Lute com unhas e dentes se for necessário pelos projetos que lhe são fundamentais. Mas por que o desapego é importante? Porque para iniciar um novo ciclo de vida é fundamental deixar para trás o que não lhe serve mais. Pare e perceba o quanto você ainda arrasta consigo: coisas, lembranças, sentimentos e pessoas. Renovar é preciso! Há milhares de anos você encontra essa máxima, mas por que é tão difícil desapegar?
Primeiro é preciso aprender a lidar com a frustração. Frustração é perda, é perceber que o outro existe no mesmo mundo que o seu, que não existe um mundo teu. Entender que no mundo todos existem e buscam seus respectivos projetos e que nesse ambiente dinâmico às vezes se ganha, mas também se perde. Superar as frustrações é identificar os limites e saber ultrapassá-los com ética e estratégias adequadas. Psicologicamente, desapegar é crescer. É preciso deixar para trás a infância, esse período em que o egocentrismo fazia parte da formação da personalidade. O mundo adulto é de responsabilidades para cumprir os compromissos; de ética para fazer o que é certo; de empatia para se colocar no ponto de vista do outro; de segurança psicológica para construir seus projetos; de serenidade para saber que, apesar de perder uma batalha não significa que a guerra está perdida; e, principalmente, de conhecimento para saber que não se faz um bom omelete sem quebrar os ovos. Desapegue para evoluir.