Coluna: ‘Crítica Musical’
Jornalista | Colunista & Editor:
Felipe de Jesus
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Uma vez me perguntaram porque eu gostava tanto do cantor e compositor Raimundo Fagner. De primeira, disse que era pela sua importância na MPB, ou talvez por uma influência do meu avô, José Peixoto, nordestino e que era fã do Fagner e, pode até ser isso mesmo, mas na verdade, o que me fez gostar do cantor foi a sua voz! Através da sua discografia, principalmente do ano de 1978 para cá, consegui enxergar uma força musical única e no seu disco, “Traduzir-se (1981)”, entendi porque ele é tão querido por fãs e músicos.
Com 40 anos de história, o álbum continua sendo uma marca em sua carreira, já que além de gravar o trabalho na Espanha, de quebra ele ainda traz convidados especiais de lá, como, Garcia Lorca, Mercedes Sosa, Joan Manuel Serrat, Camaron de la Isla e Manzanita. Mas, se você acha que o disco é uma espécie de “portunhol”, está errado e a surpresa chega com “Fanatismo” – (Fagner / Florbela Espanca). A música que é um sucesso te prende pela letra, mas te leva pela força vocal de Fagner. Em seguida “Anôs” com Mercedes Sousa traz o belo violão de Fagner emaranhado aos vocais em total consonância poética. Com “Verde” temos mais um dueto e agora com Lorca e José Ortega Heredia que chegam em “Trainare”, com violões e guitarras bem sintonizados a sonoridade espanhola. Em “Flor de Algodão” retornamos ao som conhecido de sua discografia.
Daí para frente “Málaga” e “La Leyenda del Tiempo” seguem o ritmo até chegar na estonteante “Traduzir-se”, de Fagner e Ferreira Gullar. Tire o som da sua cabeça, preste a atenção na letra e verá uma poesia musicada. Com “Vaca Estrela e Fubá”, parece que estamos no sertão e nesse sentido musical, Fagner dá voz ao cotidiano nordestino. É emocionante! Com “Bom Vaqueiro” uma continuação em perfeita simetria com a voz triunfante de Fagner.
Avaliação
A verdade é que o disco “Traduzir-se” mostra a vontade de Fagner de realizar um trabalho coeso e distante do até então feito. Ele conseguiu e por isso, avalio com cinco estrelas (máxima), pois ele é poético e com total significância para MPB. Mesmo não tendo um espanhol perfeito na época, Fagner conseguiu agradar o público, já que mais de 250 mil cópias foram comercializadas. Porque eu acho esse disco uma marca poética na carreira de Fagner? Porque depois desse disco (até o início dos anos de 1990), mesmo as letras sendo muito boas, os instrumentos: órgãos e pianos tomaram conta das suas obras, tirando um pouco do que conhecemos do artista, ou seja, violões e etc. Em minha opinião, o disco “Traduzir-se” é uma forma de ver o quão sua poesia é capaz de emocionar e marcar vidas. Escute!
Fotos: Raimundo Fagner
Até a próxima Crítica Musical.
A coluna é publicada neste espaço toda semana
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