Uma situação que, para muitos, é rotineira, para outros é um dos piores pesadelos: o ato de pegar o carro da garagem. Apesar de não parecer, essa realidade é um problema de milhões de brasileiros que possuem amaxofobia (medo patológico de estar ou viajar em qualquer veículo), a popular fobia no trânsito.
Esse infortúnio pode afetar desde a parte mental do condutor até sua parte motora e física, causando sérios problemas ao motorista que possui esse medo. A fobia no trânsito faz com que o piloto de algum veículo apresente sensações desagradáveis e distintas, podendo até afetar a sua integridade física.
Abramet
Esse tipo de pânico está presente no dia-a-dia de cerca de dois milhões de brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), sendo que 75% das pessoas que apresentam esse medo são mulheres. A fobia no trânsito pode ser relacionada a diversos fatores, como a pressão social, acidentes traumáticos e até a falta de paciência de alguns instrutores ao ministrar as aulas de direção.
Desgaste emocional, tremedeira, transpiração anormal e até taquicardia são algumas consequências desse medo, e elas podem ser provocadas pelo simples fato da pessoa saber que terá de pegar no volante do carro. A fobia no trânsito ainda é um assunto com pouca informação a respeito, principalmente para quem sofre disso, e na maioria dos casos parece que não há ninguém a quem recorrer, o que deixa o problema muito maior.
CNH
Para adquirir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o futuro condutor precisa passar por diversas provas e testes de aptidão e um desses processos é o exame psicológico. De acordo com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), o aluno de uma autoescola precisa passar por quatro etapas: entrevista diretas e individuais; testes psicológicos (acordados com a resolução vigente do Conselho Federal de Psicologia); dinâmicas em grupo; e escuta e intervenções verbais, que formam as etapas do exame. Esse ciclo de testes também está previsto no artigo 147 do Código de Trânsito Brasileiro.
A resolução 425/2012 do Contran explica melhor como são aplicados os testes, quais os métodos utilizados e seus resultados.
Resolução 425/2012
No ano de 2012, o Contran tornou obrigatórios os testes de aptidão física e mental para os futuros condutores. No primeiro capítulo, o artigo 5º explica o que é verificado em cada etapa: “Na avaliação psicológica deverão ser aferidos, por métodos e técnicas psicológicas, os seguintes processos psíquicos: tomada de informação; processamento de informação; tomada de decisão; comportamento; autoavaliação do comportamento; traços de personalidade.”
O artigo 6º, do mesmo capítulo da resolução, informa as técnicas utilizadas pelos profissionais que aplicam o teste: entrevistas diretas e individuais; testes psicológicos, que deverão estar de acordo com resoluções vigentes do Conselho Federal de Psicologia – CFP, as quais definem e regulamentam o uso de testes psicológicos; dinâmicas de grupo; e escuta e intervenções verbais.
Sobre o resultado dos exames, o capítulo 2 informa as condições para o futuro condutor ser considerado apto ou inapto. O artigo 8º fala que “no exame de aptidão física e mental o candidato será considerado pelo médico perito examinador de trânsito como:
Apto quando não houver contraindicação para a condução de veículo automotor na categoria pretendida;
Apto com restrições quando houver necessidade de registro na CNH de qualquer restrição referente ao condutor ou adaptação veicular;
Inapto temporário quando o motivo da reprovação para a condução de veículo automotor na categoria pretendida for passível de tratamento ou correção;
Inapto quando o motivo da reprovação para a condução de veículo automotor na categoria pretendida for irreversível, não havendo possibilidade de tratamento ou correção.”
Já no 9º artigo, é explicado que “na avaliação psicológica o candidato será considerado pelo psicólogo perito examinador de trânsito como:
Apto quando apresentar desempenho condizente para a condução de veículo automotor;
Inapto temporário quando não apresentar desempenho condizente para a condução de veículo automotor, porém passível de adequação;
Inapto – quando não apresentar desempenho condizente para a condução de veículo automotor.”
Exame
Esse tipo de prova é de caráter preliminar ao tirar a CNH, sendo necessário um novo exame a cada cinco anos. Em casos de condutores com mais de sessenta e cinco anos de idade, o exame é de três em três anos. Essa é uma das formas que estão previstas no Código de Trânsito Brasileiro (artigo 147) para reafirmar sua condição de dirigir ou detectar alguma alteração no condutor, impossibilitando-o de guiar um veículo novamente.
Apesar de ser um problema cada vez mais recorrente, ainda é muito difícil encontrar auxílio para resolvê-lo. O Código de Trânsito Brasileiro possui seus métodos para identificar quem está apto a conduzir um veículo, porém, não prevê, em seus artigos, como evitar ou até mesmo métodos para diminuir a agravação do problema nas pessoas afetadas.
O transtorno psicológico que causa esse medo, conhecido como amaxofobia, não tem cura definida, porém, a pessoa que possui essa condição pode aprender a contornar o problema, adquirindo confiança e segurança para conduzir um veículo. Já existem instituições e escolas que oferecem o auxílio necessário ao condutor que apresenta a fobia no trânsito.
Confiança
Em diversos estados já existem escolas de direção para habilitados, onde a pessoa que já possui CNH pode fazer “aulas extras” de condução para adquirir mais segurança e confiança na hora de conduzir algum veículo. Seus serviços são totalmente destinados a pessoas que já têm a carteira de motorista e possuem aulas especializadas para esse tipo de público.
Algumas dessas autoescolas são destinadas apenas ao público feminino, pois 75% das pessoas que têm medo de dirigir são mulheres. Elas procuram criar uma atmosfera feminina, têm equipe de instrutores constituída 100% por mulheres, com uniformes e carros cor-de-rosa, o que ajuda na criação desse ambiente. Muitos desses locais também aproveitam para discutir questões de gênero em suas aulas, desmitificando algumas crenças populares que, algumas vezes, são os grandes motivos das mulheres não dirigirem.
Públicos
Além dessas instituições, alguns órgãos públicos já estão tomando medidas, como o Detran do Mato Grosso do Sul. O departamento possui o programa Vencendo o Medo de Dirigir, junto com uma faculdade de psicologia do estado. Durante o ano, são oferecidas duas turmas aos condutores que possuem a fobia no trânsito. No workshop, os motoristas têm aulas que vão desde assistência educativa até auxílios terapêuticos.
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