Roma, de trás para frente, é amor, mas os recém-casados Giovanni e Kenya, moradores do Bairro Castelo, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, jamais poderiam imaginar, nem mesmo em sonhos, que a união das duas palavras pudesse ser tão marcante em suas vidas. E, mais do que isso, coroada por um encontro, no Vaticano, com o papa Francisco, no período em que ele comemorava três anos de pontificado. Ainda em clima de lua de mel e agradecidos por tantas alegrias, o fiscal de supermercado e a professora contam que o casamento foi abençoado três vezes, em menos de 15 dias: na primeira, durante a cerimônia religiosa na Igreja Nossa Senhora da Rainha da Paz, no Bairro Caiçara; depois, de forma inesperada, por um padre na Praça de São Pedro, em Roma; e, finalmente pelo sumo pontífice. “É sinal de bom começo“, acredita Kenya, sob o olhar de cumplicidade do marido.
A história de Giovanni Leonardo de Paula, de 38 anos, natural de Santa Luzia, na região metropolitana, e da belo-horizontina Kenya Adryene Valadares Moreira Cruz, de 41, começou há dois anos e quatro meses, quando se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Católica fervorosa, dessas que vai à missa aos domingos, comunga e reza para o santo de devoção, a professora fez tudo como manda o figurino: “Namoramos, noivamos, com o pedido oficial feito aos meus pais, e nos casamos, com a celebração a cargo de padre Lúcio Drummond Prado, meu amigo de longa data”. Criado em família católica, Giovanni, chamado pelos amigos de Nanni, andava meio afastado da Igreja, porém, hoje reza o terço com a mulher e um grupo na Casa da Acolhida Padre Eustáquio, no Bairro São Luiz, e faz suas preces diante do pequeno oratório montado na sala do apartamento.
Olhando as fotos da viagem e da lua de mel à Itália, um presente dos padrinhos de casamento e dos amigos, que se cotizaram, Kenya revela que, pouco antes do casamento, celebrado em 11 de março, um amigo sugeriu o envio de um convite ao papa, pois ele poderia mandar uma bênção. Sem criar grandes expectativas, os dois seguiram a orientação, foram ao correio e despacharam a correspondência para a Santa Sé junto com um formulário preenchido, como manda o protocolo. Logo depois do casório, ela recebeu um telefonema que, a princípio, pensou ser de uma operadora de cartão de crédito. Para surpresa das surpresas, a voz era do padre carioca Bruno Lins, oficial da Secretaria de Estado do Vaticano.
VESTIDO DE NOIVA Na conversa, padre Bruno explicava que o papa poderia receber o casal em Roma, onde, coincidentemente, eles estariam. Mas havia dois detalhes: Kenya teria que comparecer vestida de noiva e a próxima audiência estava marcada para a manhã de 16 de março, uma quarta-feira, quase, portanto, em cima da hora. À mesa do café da manhã, entre um gole de café fresquinho e um pedaço de bolo de limão, Giovanni e Kenya sorriem e contam que o jeito foi refazer todo o roteiro, que incluía sete cidades italianas. Verona, onde se passa a história de Romeu e Julieta, ficou de fora, lamentam. Como as roupas do casamento eram alugadas e tinham sido devolvidas, a professora comprou, de emergência, em BH, um vestido branco e uma flor para prender os cabelos. “Para homem é mais fácil, e ele tinha outro terno”, recorda-se com bom humor.
Quem tem boca vai a Roma e, mesmo correndo contra o tempo e de posse dos convites que padre Bruno mandara deixar no hotel, os dois não tiveram o encontro com Francisco naquela quarta-feira gelada. “Chegamos à Praça de São Pedro e havia uma multidão, ou seja, naquele dia seria impossível. Nesse momento de frustração, passou um padre, me viu vestida de noiva e nos deu uma bênção ali mesmo”. Mas o melhor estava por vir, confidencia Giovanni. Na semana seguinte, com grande antecedência e de posse dos novos convites, lá estavam os dois, desta vez enfrentando um esquema rigoroso de vigilância devido aos ataques terroristas em Bruxelas, na Bélgica.
DIA DO ENCONTRO Na segunda-feira da semana santa, Giovanni e Kenya entraram por um local especial e ficaram num local reservado, com mais 19 casais de vários países. Ao contrário do que pensavam, não havia apenas recém-casados, mas também casais mais velhos, a exemplo de um das Filipinas comemorando bodas de ouro. “Quando o papa apareceu, foi um grande alvoroço, muita gritaria, parecia uma torcida de futebol”, conta Giovanni. Depois, o sumo pontífice chegou perto dos casais, se deixou fotografar com eles, para desespero dos seguranças, e pegou na mão de cada um. “Fiquei abobado. Minha Nossa Senhora, fiquei arrepiado!”, afirma o marido.
No fim, o papa perguntou ao casal de que país vinha. E, diante da resposta, quis saber mais: “De que cidade no Brasil?”. Ao ouvir Belo Horizonte, Francisco comentou, de imediato: “Mineiro é fogo…” A frase não saiu mais da cabeça do casal, que já planeja um filho ou então pretende adotar um. “O encontro com o chefe da nossa Igreja, na semana santa, ainda mais no Dia do Encontro entre Maria e Jesus, foi uma glória de Deus. Na verdade, é como se fosse um encontro com Deus”, confessa Kenya. Ir a Roma e não ver o papa seria a suprema decepção para Giovanni e Kenya, mas, como a sabedoria popular sempre acerta, todos os caminhos levam a Roma – e, para muitos, ao amor.
Por Gustavo Werneck, do Estado de Minas
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