No início da pandemia, 75% dos brasileiros demonstraram preferência por consumir mais de comércios próximos de casa em vez de optar por grandes centros, de acordo com um estudo da Kantar. E confirmando a tendência do “varejo de vizinhança” não apenas no Brasil, uma pesquisa da WD Partners Research e da McKinsey revelou que 88% das pessoas pretendem comprar mais do comércio local nos próximos anos. Sendo assim, dentre as principais tendências que cresceram durante a pandemia, a hiperlocalidade é uma delas, conceito que, para o varejo, consiste na ideia de proporcionar a melhor jornada possível para aqueles que habitam espaços específicos (bairros, cidades etc.).
Além disso, uma pesquisa feita pela Inteligência de Mercado Globo sobre o cenário do varejo alimentar em 2021 apontou que, para os consumidores, o top 3 dos atributos mais relevantes para os mercados de vizinhança, são, respectivamente: melhor atendimento e personalização, menos pessoas dentro do estabelecimento e flexibilidade no pagamento. Inclusive, o levantamento mostrou que os mercados de bairro são a principal escolha para compras semanais (31,7%), ultrapassando hipermercados (30%), supermercados (29,4%) e atacarejos (21,6%).
Esse movimento acontece desde antes da pandemia – com grandes players do mercado já atuando com versões “de bairro”, como Carrefour Express e Mini Extra. “Embora não seja algo novo, o aceleramento do setor com a pandemia foi sem precedentes. A conveniência de ter um negócio com um bom mix de produtos perto de casa, eliminando a necessidade de enfrentar aglomerações em supermercados, foi o que atraiu os clientes para os mercados de bairro de maneira recorrente, e não só para compras emergenciais. Agora, com a população vacinada e de volta aos centros, é necessário investir nos atrativos da hiperlocalidade para otimizar o relacionamento e fidelizar os consumidores, para que enxerguem esses minimercados, lojas autônomas, mercearias e padarias como a primeira opção de consumo”, comenta Samuel Carvalho, diretor de Mercado de Proximidade na Linx, empresa especialista em tecnologia para o varejo.
O conceito de hiperlocalidade também foi um dos principais temas da NRF 2022, maior evento de varejo do mundo, que aconteceu em janeiro. Palestrantes utilizaram a frase “think global, get local” (pense globalmente, aja localmente, em tradução livre). Para Carvalho, isso foi trazido para reforçar que as estratégias precisam focar em inovação ao mesmo tempo em que se aproximam do cliente – literalmente. “Se as pessoas estão buscando mais praticidade, conveniência e liberdade na hora de comprar, cabe ao varejista se adaptar para entregar o máximo dessas exigências, mesmo que pouco a pouco. O varejo de bairro, muitas vezes, é um estabelecimento tradicional que já conta com uma clientela fixa e nem sempre busca inovar. Daqui para frente, esse pode se tornar um erro clássico, considerando que os clientes estão buscando por experiências sem atritos e se digitalizando a cada dia que passa, e esperam encontrar tais critérios, independentemente do porte do negócio que frequentam”, pontua.
Algo que não era comum e agora está se espalhando no Brasil, é o varejo de autosserviços, que segundo um estudo da Kantar, conquistou 7,6 milhões de novos lares compradores entre 2020 e 2021. Os pequenos comércios autônomos dentro de condomínios são exemplos, nos quais o morador pode realizar toda a compra sozinho, apenas com o auxílio do celular para ler QR Codes.
“A ênfase em hiperlocalidade é reflexo do comportamento atual do consumidor, que está mais imediatista do que há 10 ou 5 anos. Essa perspectiva pode ser um impulso extra para o varejo de vizinhança, que com a evidência obtida na pandemia, pode trazer mais digitalização e manter a crescente observada desde 2020. Presença on-line com aplicativos próprios, e-commerce, serviço de delivery, disponibilização de todos os meios de pagamento, são alguns pontos que podem aperfeiçoar o negócio e colocá-lo como competição frente aos concorrentes. A implantação de softwares, por exemplo, pode ser uma ação certeira para alcançar tais recursos. E embora a hiperlocalidade fale mais do sentido geográfico de proximidade, o importante é se manter perto em todos os sentidos, virtuais ou físicos”, finaliza o executivo.
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