Depois da aclamada estreia no VAC deste ano, o espetáculo “A Santa do Capital”, da Cóccix Companhia Teatral, fundada em 2006 na capital mineira e com repertório de peças de cunho político e social, segue circulando pela capital. Nesta sexta(31/03) será a vez do Museu de Arte da Pampulha receber a montagem. Com entrada gratuita, o espetáculo é inspirado no texto “A Santa Joana dos Matadouros”, escrito pelo dramaturgo Bertolt Brecht. Após 60 anos da morte do alemão, completados no ano passado, seus escritos continuam atuais, especialmente se observados sob o ponto de vista social, político e econômico.
Além da livre adaptação do texto de Brecht, o roteiro de “A Santa do Capital” foi criado com base no contexto político contemporâneo do Brasil e do mundo, especialmente no que diz respeito à luta de classes e a opressão vivida pelo povo por um sistema capitalista cada vez mais cruel.
“Ao ler o texto ‘A Santa Joana dos Matadouros’, nos deparamos com uma obra que diz muito sobre o nosso tempo: é como se a crise de 1929 retratada no texto ainda pairasse sobre a economia. Percebemos que, ao longo dos anos, o regime capitalista evidencia períodos de crise, e é assim que ele se sustenta e se renova. O proletariado é quem vive a crise e quem a sustenta, enquanto os empresários e os homens de poder apenas reclamam dela. Porém, eles continuam exercendo suas funções e usufruindo do bem estar que o dinheiro pode comprar. E não estamos falando sobre o ponto de vista dos direitos básicos essenciais como moradia, saúde, educação, saneamento básico, cultura e lazer, estamos falando que eles mantém o consumo de tudo isso num nível de primeira classe”, assinala Sinara Teles, atriz e produtora da Cóccix.
Em “A Santa do Capital”, o grupo propõe reflexões acerca da condição do terceiro setor e aponta como agem as forças de alienação do capital. O espetáculo também faz uma crítica às instituições religiosas que fazem uso do poder para espalhar o medo e a ignorância. Para isso, o grupo recorreu às mais diversas linguagens teatrais, tais como as narrativas épica e dramática, mascaramentos, performance, ocupação do espaço público privado, mascaramentos corporais e execução de trilha ao vivo por meio de objetos sonoros
Processo de criação
Em todos os processos teatrais, a Cóccix Companhia Teatral opta por uma dramaturgia própria, que dialogue diretamente com as experiências e atuações nas periferias, ao mesmo tempo em que usa o teatro épico de Bertolt Brecht e seus elementos para aproximar o espectador das discussões, colocando-o num lugar de espectador ativo, que integra e participa da obra.
Este novo trabalho, criado coletivamente por todos os membros do grupo, dialoga pela primeira vez com um texto teatral, de forma a criar dramaturgia própria, mas tendo como um ponto de partida o estudo de um texto teatral.
Ao longo de nove meses, o elenco e a equipe de produção se dividiu entre leitura de textos, ocupações em espaços diversos da cidade de Belo Horizonte, debates teóricos, treinamentos com base em mascaramentos, ocupações, performance e experimentações cênicas.
Dez anos de teatro político
A estreia neste ano de “A Santa do Capital” é um marco para a história do grupo, uma vez que a companhia, desde o início de sua trajetória preocupa-se em apresentar espetáculos que lancem luz sobre as estruturas sociais e políticas, vistas como minoria política. Até mesmo por isso que as apresentações dos espetáculos não se restringem apenas à região central da capital, como também ocuparão as periferias de Belo Horizonte.
A montagem integra ainda programação de comemorações de dez anos de atuação da companhia Cóccix na capital mineira, que, além do novo espetáculo, realizará apresentações do repertório. Também integram a programação de aniversário da companhia a terceira edição da Mostra Puxadinho, atividades de formação artística e apresentações de espetáculos por meio do Espaço Cultural Cor(tição). A mostra e o espaço cultural são administrados pela Cia. Cóccix e pelo Teatro Negro e Atitude, e as atividades serão realizadas em Venda Nova e em regiões centrais da cidade de Belo Horizonte.
“Ao longo de dez anos, a Cóccix realizou espetáculos, mostras, festivais e oficinas de formação em territórios centrais e, principalmente, em periferias da capital mineira. Essas ações tiveram bastante resultado ao longo desta trajetória, nos permitindo fidelizar um público e criar parcerias junto a artistas e grupos teatrais em toda a cidade. Hoje, mais maduros, temos a oportunidade de refletir e dar continuidade ao desenvolvimento de ações culturais por meio do teatro, afirmando o cunho político da arte por meio de uma pesquisa sólida e continuada”, pontua Rogério Gomes, Diretor artístico e ator da Companhia Cóccix.
SINOPSE:
Espetáculo teatral de ocupação urbana, “A Santa do Capital” é uma livre adaptação do texto “A Santa Joana dos Matadouros”, de Bertolt Brecht. As cenas, que revelam a rua, buscam a investigação dos mascaramentos e totens humanos, metamorfoseados, transfigurados, nos elementos da carne, da fome, da fé, do Capital. Aquele que se sobrepuja à realidade dos miseráveis. Aquele que permite-nos pensar o papel da Santa em meio ao caos da especulação financeira de todos os tempos. Quantas vozes dialéticas possíveis esta Santa dos Flagelados pode ressaltar? Qual Santa nos alimenta o estômago? A serviço de quem ela propaga sua, nossa voz?
FICHA TÉCNICA
Direção: Lenine Martins.
Dramaturgia: Rogério Coelho.
Elenco: Sinara Teles, Jessé Duarte, Marcelo Aléssio, Rafael Bottaro, Rogério Gomes.
Estudo da conjuntura política: Júlia Pereira.
Direção Musical: Sérgio Andrade.
Workshop Sonoro: Diego Poça.
Cenário e Figurino: Marney Heittman.
Artista Plástica: Fernanda Melo.
Produção executiva: Rogério Gomes e Sinara Teles.
Assistente de Produção: Vânia Silvério.
Contrarregragem: Davi Cesário e Samara Teles.
Fotografia e Vídeo: NAUM Audiovisual.
Artista gráfico: Fabrício Trindade.
Iluminação: José Reis.
Realização: Cóccix Companhia Teatral.
:: Serviço ::
Apresentação do espetáculo “A Santa do Capital”
Data: 31 de março (sexta)
Local: Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16.585 – Minas Caixa – Pampulha
Horário: 20h
Entrada gratuita
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