Recentemente ganharam repercussão as seguintes frases proferidas por um desembargador: “Eu perdoo o advogado que vem aqui defender clientes. Essa é a função do advogado e a gente tem que perdoar”.
Não acuso o desembargador ou repudio sua fala. Prefiro partir do pressuposto de que tenha se expressado mal, ou que as frases tenham sido retiradas do contexto. O pensamento, no entanto, serve para demonstrar a incompreensão que os advogados sofrem nos tempos atuais.
Advogados não são juízes. Somente são imparciais até o momento em que escolhem patrocinar a causa. A partir da contratação, tornam-se defensores. Perdem qualquer dever de imparcialidade. Um advogado imparcial seria um perigo para o cliente. Ele não fala por si próprio. Fala por aquele que o contratou. Conta à verdade de uma das partes do processo.
Defender a razão alheia não é fácil. Imaginem a angústia de um defensor que sabe que o cliente é inocente, mas não consegue demonstrá-lo. Imaginem o tormento daquele que sabe que a decisão do juiz dependerá daquilo que disser nos autos, mas não consegue encontrar o argumento necessário ao convencimento. Pensem na dor no peito de alguém que, convencido de que defende uma causa justa, não consegue triunfar. É difícil um advogado que não empalideça em um momento desses. Pensem no momento de admitir a derrota perante um cliente. Não há nada mais doloroso do que esse instante. A noite é passada em claro imaginando o que poderia ter sido feito diferente, ou quais outros argumentos poderiam ter sido utilizados. Nesses momentos, o Judiciário é amaldiçoado e até Deus é ameaçado.
Ao acordar no dia seguinte, no entanto, para que os advogados possam trabalhar, precisam de um espírito refeito e da disposição retomada. Necessitam da crença no Judiciário restaurada.
É isso que faz com que algumas vezes os advogados escrevam, falem e recorram em demasia. É o que os leva a aumentar a voz em audiências ou sustentações. Certamente não o fazem por prazer. É obstinação. É a combatividade daqueles que querem fazer o possível e o impossível para que triunfe a verdade de seus clientes. Certamente a advocacia não é para os fracos, e advogados não pedem ou esperam perdão quando exercem regularmente sua profissão.
De Marcelo Harger.
*Advogado, pós-graduado em processo civil, MBA em gestão empresarial, mestre e doutor em Direito Público e membro da Academia Joinvilense de Letras – AJL.
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